"Gigante norte-americana pretende chegar ao mercado nacional em 1º de setembro e deve causar frisson no setor de livros digitais. Concorrentes precisarão se adaptar."
*\\* Por Isa Sousa || 26/07/2012
Aprendizado e crescimento
As dificuldades das marcas brasileiras em concorrer com a Amazon em um primeiro momento podem se transformar em aprendizado e adaptação a médio prazo. O principal passo é a atualização nos sistemas de inteligência, banco de dados, sistema de estruturas e até mesmo novas contratações. “Isso vai imprimir nos players brasileiros conhecimento em tecnologia, estrutura, infraestrutura, pessoal, cultura organizacional e desenho do fluxo de processos”, indica Carvalho.
Outro ponto positivo é que a entrada de uma empresa de grande porte representa aumento de concorrência e, por consequência, disputa por melhores preços. A união dos fatores reflete nas escolhas dos consumidores do e-commerce, que passaram de 9,5 milhões em 2007 para 31,9 milhões no último ano, número que representa 53,7 milhões de pedidos pela internet.
Para a disputa acirrada não ficar só no papel, no entanto, um obstáculo da Amazon é na logística e distribuição dos produtos. Apesar de gigante, a companhia encontra dificuldades em reunir conteúdo para a venda de e-books. Com o objetivo de fechar acordos com 100 editoras até abril deste ano, em março, a Amazon havia assinado apenas 10 contratos, um provável reflexo da força dos concorrentes nacionais.
A plataforma para leitura dos livros digitais também é outro desafio. Para ter acesso às obras, é necessária a aquisição do leitor Kindle, aparelho que a Amazon quer vender na faixa de R$ 149,00 a R$ 199,00 no país. O preço seria tentador, já que produtos de outras marcas no Brasil, como o Alfa, da Positivo, e o Cool-er, importado pela primeira livraria virtual do país, a Gato Sabido, não saem por menos de R$ 600,00.
Especialistas apontam, no entanto, que para ter um preço abaixo dos aparelhos disponíveis hoje no mercado brasileiro, a Amazon teria de fabricar o Kindle aqui ou importá-lo com isenção de impostos.
O momento considerado economicamente positivo para a inserção de uma empresa de grande porte como a Amazon, em um mercado emergente como o do Brasil, não impede que a marca encontre dificuldades com a legislação brasileira. O grande desafio é o despreparo do país, que não possui leis específicas para a internet e para o comércio eletrônico.
Os conteúdos digitais não têm tributação específica e a interpretação é vaga quanto ao item comprado ser serviço ou mercadoria. “Essa é uma barreira de entrada da Amazon e a empresa precisa olhar com atenção na hora de chegar a países assim. Ela precisará fazer um investimento e não sabe se calcula os ganhos, ou melhor, se tem lucro ou prejuízo, porque também desconhece quanto terá que pagar de imposto”, explica Mauricio Salvador, Sócio Diretor da GS&Virtual, braço da GS&MD, e especialista em Comércio Eletrônico e Cross Channel, em entrevista ao portal.
Na opinião de Salvador, a entrada da empresa no mercado brasileiro pode chamar a atenção do poder público e ser o empurrão necessário para discutir a criação de legislações tributárias no mundo digital. Com a definição de parâmetros, grupos internacionais poderiam definitivamente mirar no país sem receio de investir. “Temos três problemas graves: a burocracia, a corrupção e a tributação. Quando qualquer investidor estrangeiro olha para o Brasil e vê essas barreiras titubeiam. Temos confusão e deslealdade e a entrada de um grande player mostra ao mundo inteiro o que está acontecendo. A torcida é para que dê certo e que novos empreendimentos sejam abertos”, diz.