"Marcas como Jac Motors, Chery e Effa Motors encaram o desafio de construir uma relacão de confiança com os consumidores locais e nacionalizar a produção para ficarem livres do aumento do IPI"
*//* Por Cláudio Martins || 15/02/2012
Esse é o caso do Grupo Effa Motors, que, além da marca homônima, também responde pela operação nacional de outra montadora chinesa, a Lifan. Para ganhar espaço no mercado, a companhia investe em dois públicos alvos: os pequenos empreendedores e os consumidores emergentes que estão adquirindo o seu primeiro automóvel. Um dos atrativos utilizado pela Lifan é oferecer modelos com valores a partir de R$ 27 mil, podendo chegar a R$ 39 mil.
“A proposta da marca é vender automóveis já equipados com acessórios como ar condicionado de duas saídas, freios ABS, câmbio automático, vidro elétrico e rodas com aros de liga leve a um preço mais acessível para conquistar o consumidor brasileiro”, explica Clóvis Rodrigues, Gerente de Marketing do Grupo Effa Motors, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Hoje, a Lifan possui dois modelos no mercado brasileiro. O L320 é vendido a partir de R$ 27 mil e tem como foco os potencias compradores entre 25 e 35 anos. Já o sedã L620 é voltado para as classes A e B, custando R$ 39.980 mil. Para 2012 estão programados mais três lançamentos sendo um SUV, uma pick-up e um utilitário de sete a oito lugares. Os carros da Lifan podem hoje ser encontrados em 50 concessionárias, mas o plano da companhia, que não abre informações sobre a estratégia de expansão, é aumentar este número gradativamente em 2012.
Vender automóveis com preços mais acessíveis também faz parte da estratégia de outra companhia chinesa no Brasil. A Chery chegou ao país em 2009 e, no ano passado, viu suas vendas triplicarem, chegando ao terceiro lugar no ranking da Abeiva, encerrando o ano com mais de 21 mil emplacamentos.
No mercado nacional, a marca comercializa automóveis com uma faixa de preço entre R$ 24 mil e R$ 52 mil, oferecendo cinco modelos: SUV Tiggo, Cielo (hatch e sedã), Face e QQ (foto), sendo o último responsável por 46% do faturamento da empresa no país em 2011, totalizando 9.923 unidades comercializadas no período.
Os preços mais baixos são um consenso entre grande parte das montadoras chinesas. A Jac Motors aposta na estratégia para crescer no mercado brasileiro, vendendo carros com valores entre R$ 37 mil e R$ 57 mil. A marca é uma das mais novas no Brasil, sendo representada aqui pelo grupo SHC, liderado pelo ex-presidente da Citroën Brasil, Sergio Habib.
A empresa entrou no país com quatro modelos e hoje seu portfólio já totaliza seis automóveis. Em pouco tempo, a companhia conseguiu desenvolver e alcançar a segunda posição entre as montadoras da Abeiva que mais emplacaram carros em 2011, atrás apenas da sul-coreana Kia Motors. Com o resultado, a Jac Motors encerrou o ano passado com 0,7% de market share, o que totalizou 25 mil automóveis vendidos.
Nacionalização da produção
O aumento do IPI, no entanto, pode se tornar uma dor de cabeça em 2012 para as montadoras que apostam em uma política de preço agressiva. Entre as alternativas para evitar o encarecimento dos carros, as empresas investem na construção de fábricas em território brasileiro, para ficarem livres da taxa de importação.
A Jac Motors já iniciou a construção de sua unidade fabril na Bahia, que deve ficar pronta em 2014. A Chery também deu os primeiros passos na direção da produção local e estima que sua fábrica em São Paulo fique pronta em 2013. O Grupo Effa, que possui uma unidade de fabricação no Uruguai, de onde importa os automóveis para o Brasil, planeja fazer do mercado brasileiro o centro de sua operação na América Latina. O investimento de US$ 120 milhões faz parte de uma join venture com a Lifan para modernizar a fábrica do Uruguai e instalar uma unidade por aqui em 2014.
Por outro lado, a forma encontrada pelas importadoras, como o grupo CN Auto, foi ampliar a capacidade de armazenamento, não apenas de veículos, mas também de peças, para manter os preços baixos e evitar apagões logísticos com falta de complementos no mercado nacional. “Dobramos a capacidade do estoque e o total de importação em 2012, para garantir que os consumidores possam ter acesso às peças disponíveis mesmo após o encerramento do período de garantia”, afirma Ricardo Strunz, CEO da CN Auto, responsável pela importação das marcas Jinbei e Hafei, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Alternativas para empreendedores
“Ao participarmos de feiras do setor apresentamos oportunidades que os empreendedores possam aproveitar, como utilizar os veículos para transporte escolar e de passageiros ou uma alternativa aos caminhões, que devido ao seu porte, sofrem algumas restrições em grandes centros urbanos. Ao fracionar o transporte de seus produtos em veículos menores, os empresários ganham mais capilaridade e agilidade. Lidar com esse público exige apelar para a racionalidade mais do que o emocional, porque, afinal, estamos falando um assunto que toca diretamente nos negócios dos empreendedores”, diz o CEO da CN Auto.
O Grupo Effa Motors também escolheu esse público para se expandir no Brasil. Enquanto a operação da Lifan é direcionada para o consumidor comum, a marca Effa foca nos empreendedores como seu target. O portfólio é composto por duas pick-ups e três caminhões de pequeno porte. A meta em 2012 é vender 25 unidades, superando as 15 mil comercializadas em 2011. O público jovem também não está de fora do planejamento da Effa Motors e ainda para este ano está previsto o lançamento de um pequeno jipe para conquistar esta fatia do mercado.
Empresas buscam relacionamento e identificação
Conquistar a confiança dos brasileiros e criar um diálogo é outra preocupação das montadoras chinesas. Algumas marcas, como a Chery, apostam nas redes sociais para escutar e compreender quais os desejos dos consumidores. Outras empresas investem em celebridades em sua comunicação para se fazerem conhecidas e criarem uma identidade nacional, como tem feito a Jac Motors ao convidar o apresentador Faustão para ser o garoto propaganda da marca.
Outra ação da marca para se tornar relevante foi o patrocínio ao concurso Miss Universo 2011, no momento do lançamento do modelo J6, que foi o carro oficial do evento. No Twitter e no Facebook foram sorteados pares de ingressos para os internautas assistirem ao concurso. Em janeiro deste ano, a empresa fez uma oferta de R$ 20 milhões para patrocinar o time do Palmeiras em 2012, substituindo a Fiat. O objetivo é tornar a marca conhecida no país, aproveitando a paixão do brasileiro pelo futebol. O clube ainda não anunciou a sua decisão.
Também buscando aumentar sua visibilidade, o Grupo Effa chamou o apresentador Rodrigo Faro para ser o garoto propaganda da marca e faz aparições em programas televisivos que têm identificação com o seu target, como Raul Gil, Eliana e Domingo Legal. A companhia conta ainda com uma “extranet”: rede social para mecânicos que atendem os consumidores no pós-venda. A proposta é usar confiança dos clientes nos profissionais para tornar a marca mais relevante no Brasil.
“Os mecânicos podem trocar informações sobre locais para adquirir peças e aumentar o seu conhecimento sobre os automóveis de nossas marcas, gerando um boca a boca positivo para a empresa. Foi um resultado inesperado”, declara o Gerente de Marketing do Grupo Effa Motors.