"O primeiro passo para uma estratégia é básico: saber para quem irá vender, mas falhas podem acarretar na mudança do planejamento de Marketing e em prejuízos."
Uma reestruturação pode acontecer quando o nicho escolhido não se identifica com o produto, ou atrai outro. Cabe a avaliação da liderança definir se vale a pena insistir no alvo pretendido ou alterar o rumo. Em ambos os casos, uma mudança brusca deve ser feita com cuidado, já que o plano de Marketing já foi estruturado e recomeçar significaria uma perda de tempo e dinheiro para a companhia.
Se houver uma certeza de retorno, o esforço em eliminar um planejamento para realizar outro pode ser feito. “O ideal é que não haja necessidade de redefinir o público. Perde-se muito tempo de execução e é um atestado de que a empresa falhou. Reestruturar o plano deve ser feito em último caso.
Por isso é importante frisar a quem está escolhendo um nicho que o primordial é pesquisar muito antes de dar o próximo passo”, afirma Marcelo Guedes, Chefe da área de Administração e Marketing da ESPM Rio, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Veja abaixo cinco dicas para não errar na escolha do público-alvo.
1 – Escolha um nicho
Pode parecer óbvio, mas muitas empresas optam por trabalhar de forma ampla ao invés de segmentarem o produto ou serviço. Este é um dos maiores erros, uma vez que não há como estabelecer uma comunicação eficaz com o cliente. Consequentemente, criar ações pontuais exigirá um gasto maior para poder estar em todos os locais ao mesmo tempo. Atualmente o mercado já busca por diferenciação, ainda que exista quem trabalhe no sentido oposto.
Ainda que a ideia seja original e possa abranger diferentes tipos de pessoas, é essencial optar por trabalhar um por vez. “É imprescindível para a sobrevivência de uma empresa não englobar. Tentar agradar a todos é o maior erro na hora de escolher com quem irá trabalhar. Os resultados fantásticos chegam para quem tem um nicho bem definido”, conta Marcelo Guedes.
Ao estabelecer o grupo pretendido, a área de planejamento deve se atentar aos negócios e não apenas na vontade particular. O ponto a ser levantado durante a escolha é que o produto não é para o dono da empresa. “Tente ver qual é o público-alvo do produto e não o contrário. A boa ideia pode existir apenas para o executivo e para obter sucesso o líder tem que pensar constantemente como cliente”, afirma o especialista da ESPM.
2- Pesquise o consumidor
Após definir quem será o cliente, é necessário realizar um estudo para ter certeza de que ele é compatível com o produto ou serviço oferecido. É necessário observar como está o mercado e se há aceitação em relação ao item que a empresa deseja trabalhar. Essa fase é a mais complexa e demorada, porque é com ela que será afirmado que o lançamento terá aderência.
Qualquer tipo de mudança a ser feita deve ocorrer nessa parte, que também analisará outras possibilidades para o negócio.
A pesquisa deve envolver todas as áreas da empresa para saber se o investimento destinado é compatível com o que será desenvolvido.
“O primeiro detalhe a se atentar é saber se essa parcela do mercado escolhido tem necessidade de usar o que a marca quer oferecer. Não é aceitável uma empresa que se baseia no achismo, é dever de quem trabalha com Marketing ter essa certeza.
A análise de cliente tem que ser feita enquanto todos os pontos não forem amarrados. Não adianta ter pressa em fazer”, afirma Marcelo Guedes.
No início dos anos 1990, a Havaianas realizou uma análise de mercado para perceber como estavam as vendas de seus chinelos.
Foi observando os resultados e a marca optou por não apenas focar na classe C e D, uma vez que havia aceitação do produto também pela população mais abastada. Essa avaliação permitiu conhecer o cliente e efetuar mudanças imprescindíveis na empresa.
“A virada da marca não aconteceu somente na comunicação. Uma série de mudanças no Marketing do produto fez parte do reposicionamento que a transformou em um ícone do Brasil”, conta Cristina Chacon, Diretora da conta Havaianas na AlmapBBDO.
Os números são os aliados dos profissionais de Marketing, uma vez que apontam se um negócio deve ou não mudar de rumo. Mensurar se a oportunidade terá aderência com o público desejado evita desgastes no futuro. É necessário saber quanto o consumidor está disposto a pagar e se o lançamento possui utilidade para ele. Essa avaliação é primordial, uma vez que o preço escolhido pode não estar compatível com o nicho.
Quando barato, algumas pessoas tendem a associar o produto como inferior. “Ainda que os ricos consumam algum ou outro produto voltado à classe C, na maioria das vezes eles buscam itens exclusivos. Se a comunicação quer ser voltada a eles é preciso buscar essa diferenciação”, afirma Ricardo Teixeira, Professor de Estratégias Empresariais dos MBAs da Fundação Getúlio Vargas.
Um dos maiores erros de mensuração ocorre em empresas de confecção e moda, além de bares e restaurantes. Isso porque muitas delas almejam alcançar uma elite e apostam alto na qualidade do produto. No entanto, a inserção para esse público tem que ser feita em pontos estratégicos que exigem outros gastos, como aluguel mais caro em um shopping ou lojas físicas atraentes.
4- Procure um especialista
Buscar alguém que tenha uma visão de fora da empresa permite um olhar diferente que pode captar novas possibilidades. A rotina pode moldar o pensamento a um determinado foco e agências e consultorias são as mais requisitadas neste momento. Por experiência de mercado, muitas já trazem casos de sucesso e sabem consertar a tempo os pontos que podem levar ao fracasso.
Nas empresas em que o foco no cliente ainda é distante essa ajuda é essencial. “O presidente da companhia tem que entender que o Marketing está mais complexo e contratar alguém de fora é normal. O consultor levará cases de outras ações, analisará números, explicará os gráficos e todas as partes da estratégia. É um gasto momentâneo que trará retornos incalculáveis. É um investimento que já deveria existir dentro da área”, conta Marcelo Guedes.
A AlmapBBDO foi um das responsáveis pela reestruturação da Havaianas no mercado. Quando a assumiu a conta, o produto era uma alternativa barata e funcional sem qualquer atributo de desejo. Os especialistas perceberam que a marca havia envelhecido e vivia um ciclo de comoditização. Após pesquisas, a agência encontrou um modo de levar o item a outro patamar, fato conseguido em pouco tempo e que vem mantendo até hoje.
5- Acompanhamento constante
Mesmo após concluir a fase de estudo e executar o trabalho, o público precisa ser monitorado eventualmente. Isso porque alguma ocorrência pode fazer com que outro grupo seja atraído ou o atual tenha uma nova demanda.
“Quando as minhas táticas estão certas, eu preciso estudar as minhas estratégias. Pode surgir um novo concorrente ou a tecnologia pode fazer com que ele queira algo melhor. Tem que observar o mercado e as tendências de desejo do nicho”, afirma Ricardo Teixeira.
Constantemente a Havaianas lança novos produto para manter-se em movimento e atrair os clientes. Foi a estagnação que prejudicou o negócio em outros tempos, porém essa acomodação não existe mais.
“O modelo tradicional, da famosa sandália branca de solado colorido, deu origem a mais de 200 produtos que hoje se atualizam com novas cores, modelos e estampas, atendendo assim às preferências dos brasileiros e estrangeiros que gostam da marca. Permanecemos com resultados de vendas crescentes ano a ano e é a maior prova de que não mudamos de público-alvo e sim o ampliamos”, conta Cristina Chacon.
Outras empresas de sucesso passaram por transformações do público-alvo após observar o mercado. É o caso da Farm, que trabalha com roupas femininas e criou outra proposta, chamada Fábula, para vender para o segmento infantil. O empreendimento nasceu após observar as mães com suas filhas nas lojas. “Se especula que a Farm ainda vá apostar em vendas para homens ou infantil para meninos. É uma ótima estratégia da confecção”, conta Marcelo Guedes.
Quem também se moldou foi a Melissa, que no início dos anos 90 vendia apenas para crianças e na década seguinte teve como foco o público adolescente e adulto. A marca faz parte da Grendene, que também lançou um selo semelhante para um grupo de menor poder aquisitivo, a Zaxy é vendida em multimarcas e demais sapatarias e possui acabamento mais simples do que a Melissa.