"Insight para criação da startup veio a partir do problema que as empresas enfrentam de falta de moedas. Serviço é gratuito para comerciantes e clientes."
Entre os argumentos, estão o barulho nas bolsas e carteiras, o peso e o baixo valor, que fazem com que vários trocadinhos sejam esquecidos no fundo de gavetas ou em compartimentos de carros. Esta questão corriqueira serviu de inspiração para a criação do sistema dedicado ao troco virtual, o Piggo.
Apesar dos cartões serem a principal forma de pagamento para muitos consumidores, o dinheiro de plástico ainda não substituiu integralmente o papel moeda. A startup pretende acabar com a dor de cabeça que o simples fato de entregar o troco ao consumidor pode trazer aos comerciantes.
O problema se acentua ainda mais entre os pequenos e médios empresários, que lidam com vendas de baixo valor. A dificuldade está diretamente ligada à escassez de moedas em circulação, já que grande parte delas acaba perdida em máquinas de lavar ou presas em cofrinhos.
A reposição periódica feita pelo Banco Central não dá conta da demanda do mercado. A produção dos níqueis custa mais caro do que os valores que estampam. O R$ 0,01 saiu de circulação no Brasil devido ao seu custo, R$ 0,09 cada. “O Piggo é uma evolução natural das relações de troca.
Para o estado, este serviço também é interessante, porque a maior parte da população não utiliza as moedas como ferramenta de troca, as pessoas as recebem e as guardam. É um tesouro fracionado espalhado por todo canto”, diz Gilberto Braga, Professor de Finanças do Ibmec Rio de Janeiro, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Um ponto positivo é a facilidade na adesão ao sistema, que é gratuita. O empreendedor pode optar pelo acesso por meio de uma plataforma móvel compatível com dispositivos Android, chamada Piggo PDV, ou sincronizar o software com o sistema de caixa da empresa. Já o consumidor não precisa de cadastro prévio para receber o troco digital.
Basta que, no momento da compra, ele informe o seu CPF e o número do seu celular. Posteriormente, terá que completar os dados do cadastro, validando-o por meio de um código enviado por SMS.
O lojista deposita uma quantia destinada ao troco na conta do seu estabelecimento no Piggo e pode transferir a quantia para a conta dos seus consumidores sem custos. O cliente, por sua vez, pode trocar os bônus acumulados por recarga de celular, doar a instituições de caridade ou ainda utilizar como poupança e efetuar saques de tempos em tempos.
“Dar troco físico é caro, têm empresas que contratam transportadoras de valores para levar moedas. Conheço companhias que vão às igrejas comprar troco”, diz Bruno Peixoto, Sócio-Fundador do Piggo.
O empreendedor começou a prestar mais atenção aos tostões enquanto tomava milk shake em uma lanchonete de Maceió. “O dono estava preocupadíssimo porque os preços da tabela iam subir de R$ 8,00 para R$ 9,00 no dia seguinte e ele não sabia como garantir as moedas de R$ 1,00 necessárias para o caixa poder girar.
Naquele momento, comecei a pesquisar mais sobre o problema para saber as reais dimensões”, lembra Peixoto em entrevista ao Mundo do Marketing.
A observação foi o ponto de partida para o desenvolvimento do projeto, que se tornou o trabalho central de Bruno Peixoto e de mais dois sócios. Antes, o trio se dedicava à criação de uma plataforma que se chamaria “Só pago isso”, que não saiu do papel.
O desenvolvimento do sistema de troco online tomou forma e custou R$ 30 mil, de recursos próprios dos sócios para ser posto em prática. A startup recebeu ainda um aporte de R$ 198 mil como prêmio do Startup Brasil.
Os recursos cobrem a folha de pagamento, que conta com um Gerente Comercial, três Desenvolvedores e um Especialista em Segurança de Rede. A plataforma entra em funcionamento oficialmente em outubro, em Maceió, e deve se expandir para o restante do país até o final de 2015. A fase de testes do sistema conta com 10 estabelecimentos locais cadastrados. Os primeiros parceiros vieram da rede de contatos particulares dos fundadores.
A expectativa é de que os pontos se pulverizem rapidamente atingindo 23 mil empresas e 300 mil usuários no primeiro ano. A presença do aplicativo nos pontos de venda é fundamental para a sua aceitação entre o usuário final e, consequentemente, a consolidação do modelo.
“Assim como no caso dos cartões de crédito, o Piggo também depende da construção de uma boa base de recebimento do sistema para validar sua existência. A dimensão do Brasil dificulta isso porque os terminais podem ficar muito espaçados, o que se torna uma barreira para a construção de marca”, pontua João Contart, Diretor da Argotechno, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Atrativos para o comerciante e para o consumidor
Para as empresas, o benefício de aderir à plataforma está diretamente relacionado às vendas. A garantia de que o cliente não receberá bala como troco ajuda a construir credibilidade junto à clientela. “O lojista tem como principal benefício poder adotar uma política de preços com valores fracionados. Às vezes a diferença de R$ 0,05 atrai a clientela com relação ao concorrente e sem a limitação das moedas poderá honrar com o compromisso”, avalia Gilberto Braga.
O consumidor, já acostumado a não receber o troco quando o valor se limita a alguns centavos, terá um experiência positiva com o estabelecimento que honrar exatamente o preço proposto na prateleira. “Para o cliente, o preço de R$ 1,99 passa a percepção de ser muito menor do que o de R$ 2,00, por exemplo.
A diferença do preço tem um efeito motivacional de decisão do consumidor. Para o comércio, esta é uma arma importante. Com o meio de pagamento eletrônico, a pessoa vai pagar realmente R$ 1,99”, complementa o Professor de Finanças do IBMEC.
O desafio de monetizar
O consumidor e nem o comerciante pagam para entregar ou receber o troco por meio do Piggo. Então quem paga a conta? A empresa já se prepara para uma segunda fase nos negócios, em que quer ser percebida como mais do que uma intermediadora de troco, mas como uma carteira virtual. A ideia é que o consumidor passe a fazer compras nas redes credenciadas utilizando como meio de pagamento o dinheiro acumulado no aplicativo.
Depois que este mecanismo estiver em vigor, a empresa receberá tarifas por transação de compra realizada, assim como as bandeiras de cartão já fazem. No caso dos clientes que optarem por converter o saldo em crédito para celular, as operadoras pagarão comissões sobre o valor. “O boom do faturamento vai acontecer nesta segunda fase. Projetamos que, até outubro de 2015, estaremos nos pagando e lucrando”, conta Bruno Peixoto.
O grupo está otimista quanto à adesão dos consumidores. Um ponto positivo é o crescente número de pessoas que realizam transações bancárias via internet. No Brasil, quase 73% dos internautas acessam o banco online, de acordo com uma pesquisa da Opinion Box. Mas para que tudo saia como planejado a empresa não pode se descuidar da segurança dos dados monetários do consumidor.
“Se o usuário vai depositar valores em uma plataforma, ele quer ter segurança de que ninguém poderá fraudar sua conta. Todos os processos de autenticação devem ser ajustados, este é um processo de construção”, comenta o Diretor da Argotechno.