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quarta-feira, 30 de julho de 2025

Cidades' de servidores, água do subsolo e energia de milhões de casas: como serão os primeiros data centers de IA no Brasil

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 Mercado de data centers para inteligência artificial cresceu com o surgimento de aplicativos como o ChatGPT. Mas eles usam equipamentos poderosos que exigem mais energia e refrigeração.
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Por Victor Hugo Silva, g1

Postado em 30 de Julho de 2.025 às 07h35m

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Data centers de IA podem consumir energia equivalente à de milhões de casas
Data centers de IA podem consumir energia equivalente à de milhões de casas

Espaços que mais parecem cidades, uso de água subterrânea e consumo de energia equivalente a milhões de casas estão nos planos dos primeiros data centers do Brasil com foco em inteligência artificial (IA).

Ao menos quatro projetos desse tipo já foram anunciados. Eles devem ser construídos no Rio de Janeiro (RJ), em Eldorado do Sul (RS), em Maringá (PR) e em Uberlândia (MG) — veja detalhes no mapa abaixo.

O g1 entrevistou executivos das três empresas que estão à frente desses projetos. Eles não reveleram quem usará a capacidade dos data centers, mas as big techs são vistas como clientes em potencial.

Outro espaço do tipo será construído em Caucaia (CE) e poderá ser utilizado pela dona do TikTok, segundo fontes da agência Reuters. Não há confirmação de que ele será usado para inteligência artificial.

Um cliente de data center é como o inquilino de uma casa que precisa ocupar o espaço com os seus "móveis" – neste caso, equipamentos de informática como servidores de armazenamento e chips de processamento.

O mercado de data centers de IA cresceu nos últimos anos porque esses espaços abrigam supercomputadores usados para treinar modelos de linguagem de aplicativos como o ChatGPT.

Um data center ("centro de dados", em inglês) é um local que armazena e processa informações. Ele pode ser dividido em dois tipos: nuvem (cloud), para operar serviços na internet, e IA, para treinar modelos de linguagem complexos.

💡 O Brasil tem 188 data centers – todos de nuvem – e ocupa o 12º lugar no mundo, segundo dados do site Data Center Map. Os Estados Unidos lideram com 3.905.

As empresas que constroem esses prédios precisam garantir que eles tenha energia e refrigeração. Por conta da alta demanda dos data centers de IA, esses dois pontos são considerados críticos para o meio ambiente.

Isso porque os equipamentos poderosos que são usados nesses centros esquentam muito e exigem um sistema de refrigeração adequado, que pode ser abastecido com água.

E, ainda que a alta demanda de energia em data centers de IA seja conhecida, pesquisadores alertam que faltam informações públicas para entender o real impacto desses projetos para o meio ambiente.

Projetos de data centers no Brasil — Foto: Kayan Albertin e Dhara Pereira/g1
Projetos de data centers no Brasil — Foto: Kayan Albertin e Dhara Pereira/g1

A Elea Data Centers quer ter quatro data centers de IA no complexo Rio AI City, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Um deles já está em funcionamento, mas, por enquanto, não é usado para aplicações de inteligência artificial, e sim para nuvem.

A empresa diz operar outros nove data centers de nuvem no Brasil. E afirma que, nos próximos anos, o Rio AI City chegará a 1.500 megawatts de potência, que poderá ser ampliada para 3.200 megawatts no futuro.

Elea Data Centers prevê quatro data centers, além de prédios para centros de pesquisa, startups e outros, em complexo em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro — Foto: Divulgação/Elea Data Centers; Dhara Pereira/g1
Elea Data Centers prevê quatro data centers, além de prédios para centros de pesquisa, startups e outros, em complexo em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro — Foto: Divulgação/Elea Data Centers; Dhara Pereira/g1

No Rio Grande do Sul, o Scala AI City terá "bairros" de servidores em Eldorado do Sul, município com apenas 40 mil habitantes. O projeto da Scala Data Centers, que diz já operar 13 data centers de nuvem, chegará a 1.800 megawatts de potência até 2033 e pode alcançar 5.000 megawatts no futuro.

⚡ A potência, medida em watts, serve para indicar a capacidade do espaço. E o consumo real de energia é medido em watts-hora. Para medir o consumo máximo em um dia, é preciso multiplicar a potência por 24 horas.

Se o Rio AI City usar a potência de 1.500 megawatts por um dia, seu consumo será equivalente ao uso diário de 6 milhões de casas. Já o Scala AI City, com potência de 1.800 megawatts, usará em um dia a mesma energia de 7,2 milhões de residências.

Em comparação, um data center de nuvem convencional com potência de 20 megawatts pode ter, no limite, consumo diário igual ao de "apenas" 80 mil casas.

O cálculo foi feito ao comparar o consumo diário máximo dos data centers com o consumo médio de residências no Brasil, que era de cerca de 6 quilowatts-hora por dia em março de 2025, de acordo com a Empresa de Pesquisa Energética, vinculada ao Ministério de Minas e Energia.

Projeto do Scala AI City, 'cidade' de servidores que será construída em Eldorado do Sul (RS) — Foto: Divulgação/Scala Data Centers
Projeto do Scala AI City, 'cidade' de servidores que será construída em Eldorado do Sul (RS) — Foto: Divulgação/Scala Data Centers

Na prática, o uso de energia será um pouco menor e dependerá de quantos equipamentos, de fato, serão usados, explica Eduardo Fagundes, engenheiro e professor especializado em tecnologia e inteligência artificial.

"Não se consome toda essa energia. Cada servidor consome um pouco menos do limite dependendo do que você colocar para rodar", explica Fagundes.

E, para diminuir gastos com energia, empresas redirecionam o processamento várias vezes ao dia aos seus servidores em outras partes do mundo, diz o engenheiro.

"Imagine um data center que use energia solar. Se não tem sol, ele não opera. Então, tem que buscar energia em outro lugar. Se houver data centers em diferentes lugares, eles acompanham o sol. É por isso que empresas estão colocando seus servidores em diferentes lugares do mundo".

Aval dos governos

Os projetos brasileiros têm recebido apoio de governos. A prefeitura de Eldorado do Sul e o governo do Rio Grande do Sul sancionaram em dezembro uma lei que cria um polo tecnológico de data centers na cidade. A medida serve como um incentivo tributário para o desenvolvimento desse tipo de atividade na região.

Há ainda planos em Maringá (PR) e em Uberlândia (MG) anunciados pela RT-One. A empresa, que não tem outros data centers, diz que as obras começarão após estudos de impacto e que eles terão potência de 400 megawatts cada um.

A prefeitura de Maringá iniciou em janeiro um processo junto ao governo federal para criar na cidade uma área de livre comércio com o exterior, numa tentativa de atrair data centers, que dependem de equipamentos importados. O pedido depende de aprovação do governo federal.

Em Uberlândia, o anúncio foi comemorado pelo prefeito Paulo Sérgio (PP), que classificou a criação do data centers como "uma oportunidade ímpar" para promover inovação, desenvolvimento, qualificação de mão de obra e atração de investimentos.

No Rio de Janeiro, o prefeito Eduardo Paes (PSD) assinou no início de julho um memorando de intenções com instituições públicas e privadas para a criação do Rio AI City e disse que busca consolidar a cidade "como uma espécie de capital da inteligência artificial brasileira".

O governo federal, por sua vez, admite a possibilidade de destinar para os data centers parte da água de reservatórios de hidrelétricas.

"O país tem o potencial de aproveitar seus recursos naturais de maneira inovadora. Um exemplo é a possibilidade de utilizar a abundância de água em reservatórios de hidrelétricas para o resfriamento eficiente de infraestruturas de IA", afirma o governo no Plano Brasileiro de Inteligência Artificial.

Ainda segundo o governo, o plano "visa a aproveitar a vantagem competitiva do Brasil em sua matriz energética predominantemente limpa para impulsionar o desenvolvimento sustentável da infraestrutura pública de IA no país".

Projeto do data center da RT-One em Maringá — Foto: Divulgação/RT-One
Projeto do data center da RT-One em Maringá — Foto: Divulgação/RT-One

Enquanto servidores de nuvem podem ser refrigerados apenas com ar, os data centers de inteligência artificial dependem do chamado "liquid cooling" (resfriamento líquido), método que pode utilizar água ou óleo para diminuir a temperatura ao circular pelos equipamentos.

"Os chips [para IA] ficam tão quentes que precisam ser refrigerados internamente. Eles têm um circuito fechado que não consome nada de água", explica o presidente da Elea, Alessandro Lombardi.

"É como se houvesse um circuito fechado. O líquido esquenta à medida em que gera temperaturas mais baixas [nos servidores] e volta para os equipamentos que fazem seu resfriamento", afirma o diretor de operações da Scala, Cleber Braz.

A Elea e a Scala dizem que seus projetos terão um sistema de refrigeração que usa óleo e não precisa ser abastecido constantemente com esse líquido.

Data center da Meta em Indiana, nos Estados Unidos — Foto: Divulgação/Meta
Data center da Meta em Indiana, nos Estados Unidos — Foto: Divulgação/Meta

A RT-One diz que usará refrigeração por água e que o recurso poderia ser retirado do Aquífero Guarani, uma reserva subterrânea que abrange principalmente a região Sul do Brasil. O projeto de Maringá teria fácil acesso a água com baixas temperaturas, afirma o presidente da RT-One, Fernando Palamone.

"Tudo o que é preciso é bombear aquela água, passá-la em um trocador de calor – sem contaminação nenhuma, porque o trocador de calor é isolado –, refrigerar os sistemas e descê-la de novo para o aquífero".


Planos das big techs
Sede da TikTok nos Estados Unidos — Foto: Mike Blake/REUTERS



















 Sede da TikTok nos Estados Unidos — Foto: Mike Blake/REUTERS

O futuro data center em Caucaia será usado pela ByteDance, dona do TikTok, segundo fontes da Reuters.

O data center será construído pela empresa Casa dos Ventos, que disse ter recebido autorização do Ministério de Minas e Energia para uma potência de 300 megawatts na primeira fase do projeto e 576 megawatts, no futuro. No limite, o consumo seria equivalente a 2,3 milhões de casas.

Segundo a Casa dos Ventos, o data center vai usar refrigeração em circuito fechado, o que diminui o consumo de água. A empresa diz ainda que o espaço terá investimento acima de R$ 50 bilhões e vai começar a operar em 2027.

O g1 perguntou se o espaço será usado pela ByteDance, mas o TikTok e a Casa dos Ventos não responderam.

A Meta, dona do WhatsApp, do Instagram e do Facebook, já anunciou que planeja criar vários data centers de larga escala. Um deles é o Hyperion, que será construído nos EUA e terá capacidade de 5.000 megawatts, anunciou em julho o presidente da empresa, Mark Zuckerberg.

O Google e a Amazon Web Services (AWS) têm data centers de nuvem no estado de São Paulo e, apesar de serem capazes de rodar algumas aplicações de inteligência artificial, eles não são focados nesse tipo de operação.

A AWS diz que não separa a finalidade de seus data centers entre nuvem e IA, mas admite que o avanço da inteligência artificial fez empresas se preocuparem mais com a eficiência do consumo de energia. E diz que a refrigeração varia de acordo com a localidade.

"A gente também faz uso de sistemas de refrigeração a líquido, não necessariamente água. É uma refrigeração líquida em circuitos fechados para evitar o consumo excessivo desse recurso", explica a líder de Gestão de Soluções para Clientes da AWS no Brasil, Fernanda Spinardi.

"Existem regiões onde a gente aproveita a própria questão climática local para diminuir bastante a necessidade da refrigeração. Cada data center vai ter a sua particularidade simulada antes de ser construído".

A Microsoft tem data centers de nuvem no Rio de Janeiro e em São Paulo e diz que eles comportam infraestrutura de IA. A empresa também anunciou em 2024 um investimento de R$ 14,7 bilhões em infraestrutura de nuvem e IA no país ao longo de três anos.

O que dizem especialistas

Para avaliar o impacto para o meio ambiente, é preciso saber se os líquidos usados para resfriar os equipamentos passam por um circuito aberto ou fechado.

Se o circuito é fechado, há menos consumo de água, mas é necessário mais energia para manter o líquido gelado. Se o circuito é aberto, o uso de energia é menor, mas o gasto de água aumenta para abastecer o sistema constantemente.

"A parte do treinamento definitivamente consome mais água, porque modelos mais novos consomem mais recursos, mais energia para treinar", explica Shaolei Ren, professor de Engenharia Elétrica e de Computação na Universidade da Califórnia, em Riverside.

Ele é um dos autores de um estudo que apontou que treinar o modelo GPT-3, usado pelo ChatGPT, em servidores da Microsoft pode evaporar 700 mil litros de água. E que, do lado dos usuários, fazer até 50 perguntas para o ChatGPT pode consumir meio litro de água.

"O treinamento usa muita água, mas é apenas uma vez. Cada inferência [ou pergunta para o ChatGPT] consome uma pequena quantidade de água, mas, se somar todas as inferências, o número é enorme", afirma.

"Precisamos entender o impacto e avaliar: estamos obtendo benefícios suficientes para compensar os impactos negativos do ponto de vista da sociedade? Queremos garantir que o benefício que isso traz supere o lado negativo", diz o pesquisador.

Mas faltam informações para saber como data centers de IA vão impactar o meio ambiente no Brasil, diz Elaine Santos, pesquisadora do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG), em Portugal.

"Não há dados públicos. Para sabermos, de fato, quanto gasta e que impacto isso vai ter, temos que ler todos os relatórios, cruzar informações, fazer cálculos. É uma pesquisa muito aprofundada para cada data center", afirma.

"Tem que analisar a região onde o data center está, se há uma escassez hídrica, que tipo de região é, como a energia é usada, se existe pobreza energética. Basicamente, fica impossível para qualquer pesquisador ou interessado no tema".

Para a pesquisadora, "a política pública não está dando conta de dar uma resposta" para o avanço rápido dos data centers. "Outros países estão tentando controlar, restringir. E o Brasil não tem uma estratégia, está pensando agora em uma política", afirma.

O governo federal planeja anunciar em breve a Nova Política de Data Centers e afirma que o objetivo é atrair investimentos e desenvolver a cadeia produtiva do setor no país.

O Ministério do Meio Ambiente diz que, assim como empreendimentos de outros setores, data centers estão sujeitos à exigência de licenciamento ambiental, que "deverá avaliar os possíveis impactos de cada projeto" e propor medidas para reduzir efeitos negativos para o meio ambiente e a sociedade.

O órgão afirma ainda que data centers precisam de autorização para usar água. O processo "envolve o cálculo de disponibilidade hídrica para cada projeto, garantindo que não seja outorgado [autorizado] volume maior do que as capacidades de cada curso hídrico".

O Ministério de Minas e Energia afirma que, entre 2020 e o início de julho de 2025, aprovou 21 dos 57 pedidos para conexão de data centers à rede básica do Sistema interligado Nacional (SIN), voltada para grandes consumidores de energia. Os projetos de Eldorado do Sul e de Caucaia estão entre os pedidos aprovados.

Por que a nova IA do Google virou a queridinha dos vídeos bizarros e bobos no TikTok
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terça-feira, 29 de julho de 2025

Por que muita gente deixou de postar nas redes sociais

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A jornalista da BBC Katty Kay conversou com o escritor americano Kyle Chayka sobre como a sociedade pode estar se encaminhando para o que ele chama de "postagens zero".
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TOPO
Por BBC

Postado em 29 de Julho de 2.025 às 06h00m

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Redes sociais  — Foto: Freepik
Redes sociais — Foto: Freepik

Depois de duas décadas compartilhando cada vez mais postagens online, parece que decidimos reduzir os compartilhamentos.

Pesquisas recentes indicam que cerca de um terço de todos os usuários de redes sociais postam menos do que um ano atrás. E esta tendência é especialmente presente entre os adultos da Geração Z (os nascidos entre 1995 e 2010).

Em um artigo recente para a revista The New Yorker, o escritor Kyle Chayka sugeriu que a sociedade pode estar se encaminhando para o que ele chama de "postagens zero" — um ponto em que as pessoas comuns percebem que não vale a pena compartilhar suas vidas online.

Percebi esta tendência de queda nas minhas próprias redes sociais. Para cada foto das férias de um amigo ou dos filhos de um colega, parece haver dezenas (quando não centenas) de postagens de marcas e influenciadores, promovendo um novo produto ou discutindo as últimas tendências.

As redes sociais costumavam parecer uma cópia imperfeita da minha vida social. Mas, agora, elas parecem ser um "conteúdo" como outro qualquer.

Sei que parte disso ocorre porque as plataformas mudaram. O TikTok e o Instagram acumularam infinitas coleções de vídeos verticais e criaram algoritmos assustadoramente poderosos para orientar você através deles.

Mas o que acontece com as nossas vidas digitais quando as redes sociais, aparentemente, se tornam muito menos sociais?

Conversei com Kyle para saber mais a respeito. Ele é jornalista do The New Yorker e seu livro mais recente é Filterworld: How Algorithms Flattened Culture ("Mundo filtrado: como os algoritmos nivelaram a cultura", em tradução livre).

'Qual é a minha bênção?': trend com o ChatGPT viraliza e divide opiniões nas redes sociais
'Qual é a minha bênção?': trend com o ChatGPT viraliza e divide opiniões nas redes sociais

Confira abaixo a nossa conversa, editada por motivos de concisão e clareza.

Katty Kay (BBC): Quando vejo os feeds das minhas redes sociais, encontro muitos anúncios e fotos de lindas casas que nunca irei comprar, em locais que provavelmente nunca irei nem mesmo visitar.

Mas estou literalmente tentando lembrar quando foi a última vez em que realmente vi a postagem de um amigo.

O que isso significa para o futuro dessas plataformas, se o motivo que nos leva a visitá-las, agora, é totalmente diferente do que era apenas dois anos atrás?

Kyle Chayka: Acho que as redes sociais passaram a ser menos sociais. Elas se tornaram mais questão de consumir esse tipo de conteúdo que, hoje, é basicamente commodity.

É mais questão de aspiração de estilo de vida, não simplesmente sobre o que está acontecendo à sua volta e como você se relaciona com seus amigos e sua família. Para mim, isso meio que elimina o propósito das redes sociais.

Se as plataformas estão perdendo o foco na vida normal das pessoas e as pessoas normais não se sentem mais incentivadas a publicar postagens, as redes sociais passam a ser como a televisão.

O que sobra para nós são os anúncios de marcas, o fast fashion e os anúncios de casas e hotéis, não mais aquele tipo de conteúdo orgânico e altamente consistente ao qual estávamos acostumados.

Kay: Os administradores das empresas de redes sociais possuem algoritmos muito sofisticados para nos cativar.

Qual é a reação deles a esta questão? Ou eles estão simplesmente felizes por terem mais anúncios e ganharem mais dinheiro com publicidade?

Chayka: Acho que seus principais clientes são os anunciantes. Por isso, enquanto nós, usuários, ainda estivermos engajados, seu modelo comercial ainda funciona.

Acho que eles também apostam que o conteúdo gerado por seres humanos será gradualmente substituído por material gerado por inteligência artificial.

Você já pode ver a Meta meio que movendo o feed do Facebook e do Instagram rumo a esse conteúdo gerado por computador, que é obviamente infinito e barato, mas também inexpressivo, na minha opinião.

Kyle Chayka é o autor do livro 'Mundo filtrado: como os algoritmos nivelaram a cultura' — Foto: Getty Images via BBC
Kyle Chayka é o autor do livro 'Mundo filtrado: como os algoritmos nivelaram a cultura' — Foto: Getty Images via BBC

Kay: Você acha que existe a possibilidade de que as plataformas de redes sociais vejam uma redução significativa das pessoas que realmente entram para ver onde nossos amigos passaram o feriado ou o que eles comeram no café da manhã?

Chayka: Acho que sim.

Acho que existe um leve declínio. Sei de um estudo recente que concluiu que menos pessoas estão realmente postando no TikTok.

Mas o que estas plataformas concluíram, acho que o Instagram em particular, é que o nosso compartilhamento pessoal está se movendo mais em direção a mensagens diretas e conversas individuais com nossos amigos.

Na verdade, nós precisamos de uma rede social online. Mas as redes sociais que temos agora não querem desempenhar este papel.

Por isso, acho que haverá novos espaços e talvez surjam novos aplicativos para atender a esta necessidade, seja como um WhatsApp ampliado ou um melhor sistema de gestão para todos os grupos de bate-papo com seus amigos.

Acho que estamos nos movendo para uma forma mais privada, mais íntima de conexão online.

Kay: Tenho filhos na casa dos 20 anos de idade e adolescentes. Havia toda uma percepção na minha geração de que os jovens de hoje não se preocupam com a privacidade e ficam felizes em postar de tudo online.

Eu me pergunto se estávamos errados a este respeito, que os jovens provaram esse mundo onde tudo era colocado em público e, agora, eles estão pensando, "na verdade, eu prefiro que meus grupos sejam mais íntimos e curados, sem que o mundo inteiro saiba o que eu comi no café da manhã"...

Chayka: Acho que nós meio que aprendemos as desvantagens de publicar nossa vida privada ao longo dos anos 2010. Você pode ver isso com a vergonha pública ou certos constrangimentos virais ocorridos com as pessoas.

Acho que o contrato social das redes mudou.

O acordo era que, se você fizesse publicações ali, se você colocasse conteúdo, você poderia atrair um público em massa. Mas isso se torna um círculo vicioso que acaba sendo toda a sua vida.

Por isso, a menos que você pretenda ser um influenciador ou alguém que posta conteúdo na internet profissionalmente, este acordo não parece mais tão bom assim.

As desvantagens de postar são grandes demais e as vantagens não são suficientes. Por isso, você pode simplesmente enviar mensagens de texto para os seus amigos.

Kay: Tive uma conversa superinteressante com Jonathan Haidt [o autor do livro Geração Ansiosa], que certamente dedicou muito trabalho a tentar proibir os celulares nas escolas.

Você acha que, se a tendência que você indicou (e chama de "postagens zero") acabar sendo uma onda mais significativa, realmente ficará mais fácil romper o vício das crianças em celulares e outros aparelhos?

Chayka: É uma boa pergunta. Acho que, de certa forma, já ultrapassamos o auge das redes sociais, mas não acho que isso elimine as conversas digitais que as pessoas têm 24 horas por dia, sete dias por semana.

O que ocorre é que essa conversa sai dos canais públicos para os bate-papos em grupo, mensagens diretas ou alguma plataforma mais efêmera, como o Snapchat.

A capacidade viciante do celular ainda existe. A distração certamente ainda está presente. Mas acho que a sua natureza pública diminuiu.

Acho que é um pouco melhor termos saído da esfera pública e eliminado aquele risco de ficarmos totalmente expostos para o mundo inteiro e acabarmos viralizando pelos motivos errados.

Mas ainda enviamos mensagens de texto uns aos outros o dia todo. Ainda consumimos memes. Ainda somos distraídos pelos feeds.

O seu cérebro quando você assiste a um vídeo em velocidade 1,5
O seu cérebro quando você assiste a um vídeo em velocidade 1,5

Kay: Vamos pensar no futuro. Como iremos olhar para os nossos celulares daqui a cinco anos?

O que irá mudar nas nossas interações com o componente social dos nossos celulares e outros aparelhos?

Chayka: Acho que será mais como a televisão.

Se observarmos como tudo está acontecendo, existe muita mídia profissionalizada. Existe muito conteúdo passivo.

Nós meio que observamos essa fusão atual de YouTube, TikTok e Netflix em uma única combinação diabólica de áudio, vídeo e algoritmos.

Se eu fosse prever algo, diria que as conversas e o aspecto social estarão em mensagens de texto ou talvez poderão se mover mais em direção à vida real.

Acho que esse pico das redes sociais serviu mais para criar um desejo de interação entre as pessoas e nos fez lembrar o valor de realmente compartilhar coisas na vida real. Isso me dá um pouco de esperança.

Kay: Você acha que chegaremos a um mundo de postagens zero, onde pessoas como eu e você simplesmente não postamos mais online?

Chayka: Acho que sim. Acho que irá chegar mais cedo do que esperamos, simplesmente porque não há mais incentivo para fazer postagens.

Por que postar as suas selfies ou seu café da manhã se ninguém presta atenção, se você não atinge seus amigos e simplesmente concorre com todo esse lixo remoto abstraído que há por aí?

Talvez as redes sociais fossem, de certa forma, essa aberração ou fuga. E essa ideia de que toda pessoa normal deve compartilhar sua vida em público era meio que falsa desde o princípio.

Agora, estamos acordando um pouco e vendo os danos que aquilo causou. E mudando um pouco os nossos hábitos.

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