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quarta-feira, 8 de maio de 2024

Como hacker adolescente se transformou em um dos criminosos mais procurados da Europa

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Kivimäki foi responsável por um dos ataques mais chocantes da história da Finlândia — ele chantageou 33 mil pessoas, ameaçando vazar as anotações das suas sessões de terapia online.
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TOPO
Por BBC

Postado em 08 de maio de 2024 às 09h00m

Post. N. - 4.876

Hacker acusado de diversos crimes no Europa — Foto: Reprodução/EUROPOL
Hacker acusado de diversos crimes no Europa — Foto: Reprodução/EUROPOL

Um conhecido hacker que era um dos criminosos mais procurados da Europa foi preso por chantagear 33 mil pessoas, ameaçando publicar online as anotações das suas sessões de terapia.

A prisão de Julius Kivimäki põe fim a uma onda de crimes cibernéticos de 11 anos, que começou quando ele ganhou notoriedade em uma rede de gangues anarquistas de hackers adolescentes, quando ele tinha apenas 13 anos.

A seguir, conheça o caso.

Tiina Parikka estava se refrescando depois de fazer sua habitual sauna de sábado à noite, na Finlândia, quando recebeu uma notificação no telefone.

Era um e-mail de um remetente anônimo, que de alguma forma tinha seu nome, número de seguro social e outros detalhes privados.

"Inicialmente, fiquei impressionada com o quão educado era, como o tom era amistoso", relembra.

"Prezada Sra. Parikka", escreveu o remetente, antes de contar que havia obtido suas informações privadas em uma clínica de psicoterapia da qual ela era paciente.

Quase se desculpando, o autor do e-mail explicava que estava entrando em contato diretamente porque a clínica estava ignorando o fato de que dados pessoais haviam sido roubados.

Tiina Parikka é uma das vítimas do ataque à Vastaamo, uma rede finlandesa de clínicas de psicoterapia — Foto: Reprodução/BBC
Tiina Parikka é uma das vítimas do ataque à Vastaamo, uma rede finlandesa de clínicas de psicoterapia — Foto: Reprodução/BBC

Dois anos de registros minuciosos feitos por seu terapeuta durante dezenas de sessões estavam agora nas mãos deste chantagista desconhecido.

Se ela não pagasse o valor solicitado dentro de 24 horas, todas as anotações seriam publicadas online.

"Foi uma sensação sufocante", diz ela. "Eu estava sentada lá, de roupão, sentindo como se alguém tivesse invadido meu mundo privado e estivesse tentando ganhar dinheiro com os traumas da minha vida."

Tiina percebeu rapidamente que não estava sozinha.

Um total de 33 mil outros pacientes de terapia também tiveram seus registros roubados — e milhares foram chantageados, o que resultou no processo criminal com o maior número de vítimas na Finlândia.

O banco de dados roubado dos servidores da Vastaamo, rede finlandesa de clínicas de psicoterapia, continha os segredos mais íntimos de uma grande parte da sociedade, incluindo crianças. Conversas delicadas sobre assuntos que iam desde casos extraconjugais até confissões de crimes estavam sendo usadas como moeda de troca.

Mikko Hyppönen, da empresa finlandesa de segurança cibernética WithSecure, que pesquisou o ataque, conta que o caso teve repercussão e alimentou o noticiário durante dias no país.

"Um ataque hacker com esta dimensão é um desastre para a Finlândia — todo mundo conhecia alguém afetado", diz ele.

Tudo isso aconteceu em 2020, durante os lockdowns impostos em decorrência da pandemia de covid-19, e o caso surpreendeu o mundo da segurança cibernética.

O impacto dos e-mails foi imediato e devastador. A advogada Jenni Raiskio representa 2,6 mil vítimas e, durante julgamento, ela disse que seu escritório havia sido contratado por pessoas cujos parentes haviam tirado a própria vida depois que seus registros foram publicados online. Ela liderou um momento de silêncio no tribunal pelas vítimas.

O chantagista, identificado apenas como "ransom_man" por sua assinatura online, exigia que as vítimas pagassem 200 euros (cerca de R$ 1.090) no prazo de 24 horas, — do contrário, ele publicaria suas informações. Se não cumprissem este prazo, ele aumentaria o valor para 500 euros (R$ 2,7 mil).

Cerca de 20 pessoas pagaram antes de perceber que já era tarde demais. Suas informações haviam sido publicadas no dia anterior, quando "ransom_man" vazou acidentalmente todo o banco de dados para um fórum na dark web.

Está tudo lá até hoje.

Mikko e sua equipe passaram um tempo rastreando o hacker e tentando ajudar a polícia. Foi quando começaram a surgir teorias de que o hacker provavelmente seria da Finlândia.

Uma das maiores investigações policiais da história do país chegou a um jovem finlandês que já era conhecido no mundo do crime cibernético.

Kivimäki, que se autodenominava Zeekill quando era um hacker adolescente, não se tornou a figura conhecida que é por ser cuidadoso.

Na adolescência, ele só queria saber de hackear, extorquir e se gabar o mais alto possível. Ao lado das equipes de hackers Lizard Squad e Hack the Planet, ele se deleitava ao causar o caos no período extremamente ativo de hackers adolescentes da década de 2010.

Kivimäki era um dos protagonistas, realizando dezenas de grandes ataques até que foi preso em 2014, aos 17 anos, e posteriormente considerado culpado de 50.700 casos de invasão de computadores.

Mas ele não foi preso. Sua suspensão condicional da execução da pena de dois anos gerou controvérsia, e foi criticada por muitos no mundo da segurança cibernética. Apesar das sentenças notoriamente brandas da Finlândia, o receio era que Kivimäki e seus cúmplices — em sua maioria, outros adolescentes espalhados pelo mundo de língua inglesa — não fossem dissuadidos.

Assim como muitos de seus colegas durante este período tumultuado, Kivimäki não pareceu deixar os problemas com a polícia detê-lo.

Após sua prisão, e antes de sair sua sentença, ele realizou um dos ataques mais audaciosos de qualquer gangue de hackers adolescentes.

Ele e o Lizard Squad deixaram as duas maiores plataformas de games offline na véspera e no dia de Natal.

A Playstation Network e o Xbox Live foram derrubados depois que seus serviços foram atingidos por uma técnica pouco sofisticada, mas poderosa, conhecida como ataque distribuído de negação de serviço. Dezenas de milhões de jogadores foram impedidos de baixar jogos, registrar novos consoles ou jogar com amigos online.

Kivimäki ganhou a atenção da imprensa mundial e até aceitou me dar uma entrevista para o canal de televisão Sky News, na qual não demonstrou nenhum remorso pelo ataque.

Outro hacker que também era da gangue Lizard Squad disse à BBC que Kivimaki era um adolescente vingativo que adorava se vingar de rivais e mostrar suas habilidades online.

"Ele era muito bom no que fazia, e não se importava com as consequências. Ele sempre ia mais além que os outros nos ataques."

"Apesar da atenção que havia sobre ele, ele fazia ameaças de bomba e passava trotes sérios sem disfarçar a voz", conta Ryan, que não quis divulgar seu sobrenome porque ainda é desconhecido das autoridades.

Além de Kivimäki ter sido vinculado a alguns ataques hackers de menor escala após sua sentença, praticamente não se ouviu falar dele durante anos, até que seu nome foi ligado ao ataque à clínica de psicoterapia Vastaamo.

Alerta vermelho emitido

A polícia finlandesa demorou quase dois anos para reunir provas no intuito de emitir um alerta vermelho de busca na Interpol (polícia internacional) para Kivimäki — e ele se tornou um dos criminosos mais procurados da Europa. Mas ninguém sabia onde estava o jovem de 25 anos.

Ele foi localizado por acaso em fevereiro passado, quando a polícia de Paris foi ao seu apartamento após receber uma chamada falsa sobre briga doméstica. Eles descobriram que Kivimäki vivia com documentos de identidade falsos.

O jovem foi extraditado rapidamente para a Finlândia, onde a polícia começou a se preparar para um dos julgamentos mais importantes da história do país.

O detetive Marko Leponen liderou a investigação de três anos — e, segundo ele, foi o maior caso de sua carreira.

"Tivemos mais de 200 policiais no caso em determinado momento, e foi uma investigação intensa com muitos depoimentos e histórias de vítimas para analisar."

O julgamento de Kivimäki foi uma notícia importante para o país, acompanhado de perto por jornalistas locais — e, inclusive, pela imprensa internacional, que compareceu para ouvir seu depoimento.

Eu estive no tribunal no primeiro dia em que ele depôs, quando manteve sua declaração de inocência com calma e com piadas ocasionais direcionadas ao tribunal em silêncio.

Mas as evidências contra ele eram esmagadoras.

Leponen diz que vincular a conta bancária de Kivimäki ao servidor usado para baixar os dados roubados foi crucial.

Seus agentes também usaram novas técnicas forenses para extrair a impressão digital de Kivimäki de uma foto anônima que ele postou sob um pseudônimo online.

"Conseguimos provar que essa pessoa anônima que postou no fórum era Kivimäki. Foi inacreditável, mas mostra que é preciso usar todas as medidas que conhecemos, e tentar aquelas que não conhecemos", explica Leponen.

No final, os juízes deram o veredito, declarando-o culpado de todas as acusações.

O tribunal considerou Kivimäki culpado de mais de 30 mil crimes — um para cada vítima.

Ele foi acusado de violação de dados qualificada, tentativa de chantagem qualificada, 9.231 disseminações qualificadas de informações violando a vida privada, 20.745 tentativas de chantagem qualificadas e 20 chantagens qualificadas.

Ele foi condenado a seis anos e três meses de prisão (a pena máxima era de sete anos), mas é provável que cumpra apenas metade, devido ao tempo já cumprido e ao sistema de justiça finlandês.

Para as vítimas, como Tiina, não é tempo suficiente.

"Tanta gente foi afetada por isso de tantas maneiras — 33 mil pessoas são muitas vítimas. Isso afetou nossa saúde, e algumas pessoas foram alvo de golpes financeiros também usando os dados roubados", diz ela.

Enquanto isso, ela e as outras vítimas aguardam para ver se vão obter algum tipo de indenização.

Kivimäki concordou, em princípio, em chegar a um acordo extrajudicial com um grupo de vítimas, mas outras estão planejando entrar com processos civis contra ele ou contra a própria Vastaamo.

A clínica de psicoterapia está extinta agora, e seu fundador foi condenado por não proteger os dados dos pacientes, com suspensão condicional da execução da pena. Kivimäki não contou à polícia quanto dinheiro ele tem em bitcoins, e afirma ter esquecido os detalhes de sua carteira digital.

A advogada Jenni Raiskio espera que o Estado possa intervir, mas diz que pode levar muitos meses, ou até mesmo anos, para analisar cada caso individualmente e avaliar quanto dano foi causado.

Há, inclusive, pedidos para mudar a lei para ajudar a lidar com futuros casos de ataques hackers em massa como este.

"Isso é realmente histórico na Finlândia, porque o nosso sistema não está preparado para esta quantidade de vítimas. A invasão da Vastaamo nos mostrou que precisamos estar preparados para esses casos grandes, então espero que haja uma mudança. Isso não vai acabar aqui", diz ela.

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segunda-feira, 6 de maio de 2024

O que é a NPU (Unidade de Processamento Neural) do celular ou computador?

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Entenda para que serve um processador neural, quais são suas aplicações e a importância desse componente para a evolução de recursos com IA em eletrônicos de consumo
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Por e
• Atualizado há 8 meses
Postado em 06 de maio de 2024 às 07h00m

Post. N. - 4.875


Neural Processing Unit (NPU) é um chip responsável por tarefas de inteligência artificial (Imagem: Vitor Pádua/Tecnoblog)

NPU (Unidade de Processamento Neural) é um processador responsável por acelerar tarefas de inteligência artificial, como aprendizado de máquina e redes neurais. Está presente em smartphones, PCs e outros eletrônicos modernos.

As unidades de processamento neural também podem ser chamadas de TPU (Tensor Processing Unit) pelo Google e de Neural Engine pela Apple. Outra sigla menos conhecida é IPU (Intelligence Processing Unit).

Um chip neural funciona com múltiplos núcleos (cores) de processamento que trabalham em paralelo e são otimizados para cálculos matemáticos usados em tarefas de inteligência artificial, como machine learning, deep learning e redes neurais.

Dentro de um SoC (System-on-a-Chip), uma NPU se dedica às tarefas de IA, liberando a CPU para as operações gerais e a GPU para o processamento gráfico. A especialização de processadores permite executar tarefas simultâneas mais rapidamente e com menor gasto de energia.

Uma NPU representada dentro de um System-on-a-Chip (SoC), que também possui CPU e GPU (Imagem: Vitor Pádua/Tecnoblog)
Uma NPU representada dentro de um System-on-a-Chip (SoC), que também possui CPU e GPU (Imagem: Vitor Pádua/Tecnoblog)

Os núcleos de uma NPU podem ser projetados especificamente para calcular, de maneira mais eficiente, multiplicações de matrizes, convoluções e outras operações de álgebra linear, por exemplo. Essas tarefas são fundamentais para as redes neurais artificiais, inspiradas na estrutura de neurônios do cérebro humano.

Como uma NPU é altamente eficiente para processamento de redes neurais, é possível usar aprendizado de máquina e deep learning para treinar sistemas de identificação de padrões, classificação de imagens e reconhecimento de voz mesmo em dispositivos compactos e com bateria, como smartphones.

Quais são as aplicações das unidades de processamento neural?

As NPUs (unidades de processamento neural) podem ser utilizadas em diversos setores, desde eletrônicos de consumo até a medicina. As aplicações comuns de NPUs são:

  • Visão computacional: permite identificar padrões visuais, interpretar imagens em tempo real, rastrear movimentos e monitorar objetos, funções típicas de câmeras de segurança e carros autônomos;
  • Processamento de linguagem natural (NLP): depende de sistemas previamente treinados, geralmente com aprendizado de máquina por redes neurais, para entender textos e vozes da linguagem humana. É o campo da IA que viabiliza assistentes virtuais e chatbots;
  • Realidade virtual e realidade aumentada: jogos podem ficar mais realistas e imersivos com o auxílio de uma NPU que processe as informações do ambiente em tempo real com alta eficiência energética;
  • Big Data: NPUs podem acelerar a análise de dados e a previsão de tendências quando há um alto volume de informações, como acontece no setor financeiro. Também podem analisar um grande conjunto de imagens médicas para identificar anormalidades de saúde com maior precisão e rapidez.
Qual é a diferença entre NPU e GPU?

NPU e GPU são tipos de processadores especializados presentes em computadores e smartphones. Porém, a NPU é utilizada para redes neurais e outras tarefas de inteligência artificial, enquanto a GPU é focada em renderização gráfica, como jogos e aplicações em 3D.

Uma GPU pode processar tarefas neurais, inclusive de maneira mais eficiente que uma CPU. No entanto, por ter uma arquitetura mais complexa, a GPU tende a gastar mais energia que uma NPU nesse tipo de operação.

NPUs são mais rápidas que CPUs?

A NPU é mais rápida do que uma CPU quando executa tarefas para as quais foi otimizada, como o processamento de redes neurais. Isso porque as NPUs podem ter uma arquitetura específica para IA, o que permite executar mais operações com menor gasto de energia.

Apesar disso, não é possível afirmar genericamente que uma NPU é mais rápida que uma CPU em qualquer tarefa. NPUs são um tipo de processador especializado em cálculos matemáticos simultâneos de IA, enquanto a CPU é um chip de propósito geral que pode assumir diversas tarefas.

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domingo, 5 de maio de 2024

Por que música de nova propaganda da Coreia do Norte viralizou no TikTok

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Uma música elogiando Kim viciou o TikTok – mas especialistas dizem que ela pode estar escondendo algo mais complexo.
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TOPO
Por BBC

Postado em 05 de maio de 2024 às 09h35m

Post. N. - 4.874

Quando o ditador da Coreia do Norte lançou o mais recente sucesso de propaganda do seu regime, há duas semanas, nem ele poderia ter previsto que se tornaria um grande sucesso no TikTok.

Friendly Father (Pai Amigável ou Paizinho) se tornou viral na rede social, enquanto usuários da Geração Z dançam ao som da canção de ritmo eletrônico.

A maioria desses usuários ignora o significado da letra, que elogia um homem que ameaçou aniquilar completamenteos Estados Unidos, violou as sanções da ONU e lançou múltiplos mísseis balísticos.

Vamos cantar Kim Jong-Un, o grande líder/ Vamos nos orgulhar de Kim Jong-Un, nosso pai amigável, diz a música.

Taylor Swift não esperava ser surpreendida logo após lançar seu novo álbum; Essa música precisa de um Grammy, É tão distópica da maneira mais cativante – esses são apenas alguns dos comentários delirantes nos vídeos a respeito no TikTok.

Mas a ensolarada música pop esconde algo mais sinistro, dizem os especialistas. É o que vamos destrinchar a seguir.

Kim Jong-un supervisiona testes com "superlançadores" de foguetes na Coreia do Norte

Como criar uma propaganda de sucesso

Friendly Father é apenas a mais recente de uma série de canções de propaganda produzidas pela máquina pop do Estado comunista nos últimos 50 anos.

É enérgica, rápida e perigosamente cativante. Sua batida e gancho não diferem muito dos sucessos pop feitos no Ocidente, embora carregue uma certa qualidade de produção típica da era soviética.

Nesse caso, a música tem grande influência de Abba. É otimista, não poderia ser mais cativante e um rico conjunto de sequências com sonoridade orquestral não poderia ser mais proeminente, diz Peter Moody, estudioso sobre a Coreia do Norte na Universidade da Coreia.

Mas, ao se produzir um hit na Coreia do Norte é preciso pensar em mais do que questões comerciais - e buscar formas de penetrar mentes, diz Alexandra Leonzini, acadêmica da Universidade de Cambridge que investiga a história musical da Coreia do Norte.

Não há espaço para frases abstratas ou timings excessivamente complicados. As melodias devem ser simples e acessíveis – algo que as pessoas possam captar facilmente.

A canção também precisa ser afinada em um alcance vocal onde todos possam cantá-la.

Uma captura de tela do videoclipe de Friendly Father, a mais recente canção de propaganda norte-coreana — Foto: Televisão Central Coreana
Uma captura de tela do videoclipe de Friendly Father, a mais recente canção de propaganda norte-coreana — Foto: Televisão Central Coreana

Além disso, o país raramente produz faixas musicais que contenham emoção. A ideia é que eles querem motivar a nação a lutar por um objetivo comum para o benefício da nação… eles não tendem a produzir músicas como baladas, diz Leonzini.

Na Coreia do Norte há tolerância zero para as artes ou a criatividade fora do controle estatal. É ilegal que músicos, pintores e escritores produzam obras simplesmente por amor à arte.

Toda a produção artística na Coreia do Norte deve servir à educação de classe dos cidadãos e, mais especificamente, educá-los sobre a razão pela qual devem ter um sentimento de gratidão, um sentimento de lealdade ao partido”, diz Leonzini.

O governo da Coreia do Norte acredita na teoria da semente, acrescenta ela, em que cada obra de arte deve conter uma semente ideológica, uma mensagem que é depois disseminada em massa.

Os norte-coreanos acordam todas as manhãs com canções de propaganda tocadas nas praças da vila, segundo especialistas. As partituras e letras das músicas recém-lançadas são impressas em jornais e revistas; geralmente a população também precisa aprender danças para acompanhar o ritmo, diz Keith Howard, professor emérito de musicologia da Coreia do Norte na Universidade SOAS, de Londres.

As artes criativas são rigidamente controladas na Coreia do Norte – e são vistas como pouco mais do que propaganda — Foto: Getty Images via BBC
As artes criativas são rigidamente controladas na Coreia do Norte – e são vistas como pouco mais do que propaganda — Foto: Getty Images via BBC

Ele visitou o regime várias vezes nas décadas de 1990 e 2000 e lembra em primeira mão os norte-coreanos cantando ao cumprimentar um estrangeiro.

No momento em que a música é incorporada ao corpo, ela se torna parte da pessoa, diz Howard sobre os cidadãos norte-coreanos. Uma boa música ideológica faz isso – ela precisa incorporar a mensagem."

Fora da Coreia do Norte, o mesmo fenômeno pode ser observado de forma mais divertida, talvez, no TikTok: usuários ocidentais brincam que não conseguem parar de ouvir a música.

Essa música fica presa na minha cabeça 24 horas por dia, 7 dias por semana, escreveu um usuário.

A popularidade dessa canção também tem feito com que mais pessoas ouçam mais músicas de propaganda do Estado eremita.

Eu pensei, Oh, isso é interessante, diz Matas Kardokas, um usuário britânico que criou vídeos no TikTok com várias músicas de propaganda norte-coreanas.

Um de seus vídeos diz: Ninguém na cafeteria da moda sabe que estou ouvindo música de propaganda norte-coreana neste momento. Acumulou mais de 400 mil curtidas, o que o surpreendeu.

Algo em mim clicou e eu pensei, Ei, estou sentado em uma cafeteria agora ouvindo isso. Não é a coisa mais maluca que você poderia imaginar? Eu deveria fazer um TikTok sobre isso porque não é uma experiência universal'. Ninguém vai se identificar com isso", disse ele.

A ironia não passou despercebida a muitos: numa altura em que o aplicativo de propriedade chinesa pode ser proibido pelos EUA, a propaganda de um regime comunista tomou conta dos usuários.

Lendo nas entrelinhas

No mundo da música ocidental, os fãs estão debruçados sobre o novo álbum de Taylor Swift ou analisando o rap de seis minutos de Kendrick Lamar zombando de Drake.

Mas para os observadores do regime norte-coreano, a faixa de três minutos lançada no mês passado tem suas próprias pistas. O regime tem há muito tempo uma tradição de telegrafar grandes mudanças no país através das suas canções, e a mensagem em Friendly Father deixou alguns alarmados.

Não é a primeira música dedicada a Kim. Mas há uma diferença notável na linguagem e no vocabulário usados.

Pela primeira vez, Kim está sendo tratado como paieo Grande – termos anteriormente reservados ao primeiro líder da Coreia do Norte, o seu avô Kim Il-Sung.

Kim fora inicialmente chamado de Grande Sucessorquando assumiu o cargo em 2012, após a morte de seu pai, Kim Jong-Il.

No entanto, mais de uma década depois, os analistas pensam que Friendly Father pode ser um sinal de que ele está tentando reforçar a sua imagem como Líder Supremo da Coreia do Norte.

Recentemente, ele também substituiu a letra de outra música de propaganda, trocandonosso pai Kim Il-Sungpornosso pai Kim Jong-Un.

A música pode ser um sinal de sua direção, dizem os especialistas.

Kim se torna cada vez mais hostil e agressivo com o reforço militar do seu regime.

No início deste ano, declarou que o Norte já não procuraria a reunificação com o Sul, que proclamou ser o inimigo público número um. Relatórios dizem que Pyongyang demoliu um grande arco que simbolizava a esperança de reunificação com o Sul.

Foi relatado que a remoção aumentou os receios de que a Coreia do Norte assumisse uma postura mais agressiva contra o Sul - enquanto Kim cada vez mais recorre ao aumento do arsenal militar do seu país.

Uma música é quase como um jornal na Coreia do Norte, diz Leonzini.

As canções são usadas para indicar a direção que o Estado está tomando… para sinalizar momentos importantes e desenvolvimentos importantes na política.

* Reportagem adicional de Rachel Looker, em Washington

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