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terça-feira, 2 de setembro de 2025

'Trump dos trópicos', 'plano sinistro', e 'trompetista pronto': o 1º dia do julgamento de Bolsonaro na imprensa internacional

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Imprensa mundial deu destaque ao início do julgamento do ex-presidente brasileiro, julgado por golpe de Estado pelo Supremo Tribunal Federal a partir desta terça (2).
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Por Redação g1

Postado em 02 de Setembro de 2.025 às 09h00m
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Trama golpista: Os episódios que levaram o julgamento de Bolsonaro
Trama golpista: Os episódios que levaram o julgamento de Bolsonaro

O início do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro nesta terça-feira (2) está repercutindo na imprensa internacional. Chamada de "plano sinistro", a tentativa de golpe de Estado por Bolsonaro e seus aliados após a derrota eleitoral de 2022 será analisada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Bolsonaro, que cumpre prisão domiciliar, será julgado junto a outros sete réus, apontados como os principais integrantes da suposta organização que tentou aplicar o golpe. A sentença deve sair até o dia 12 de setembro.

Na imprensa internacional, reportagens em diversos países descreveram o panorama da situação de Bolsonaro perante o STF, com estimativas de que o ex-presidente seja condenado por golpe de Estado, e relembraram a tentativa de interferência do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no processo.

  • O New York Times descreveu a forma como Bolsonaro arquitetou em nove semanas, entre a derrota nas eleições e o 8 de janeiro, um "plano sinistro" de golpe de Estado, e que "há um vasto conjunto de provas" contra o ex-presidente.
  • O The Guardian entrevistou o trompetista que viralizou ao tocar uma "marcha fúnebre" e o hino antifascista "Bella Ciao" após Bolsonaro se tornar réu por golpe de Estado.
  • O Washington Post disse que, com o julgamento, o Brasil enfrenta Trump e seu passado autoritário.
  • A Economist chamou Bolsonaro de "Trump dos trópicos".
  • A BBC disse que o julgamento de Bolsonaro entrou na fase final, e que "a causa do ex-presidente foi abraçada" por Trump.

Confira mais detalhes abaixo.

The New York Times

Reportagem do jornal 'The New York Times', dos Estados Unidos, sobre o início do julgamento de Bolsonaro. — Foto: Reprodução
Reportagem do jornal 'The New York Times', dos Estados Unidos, sobre o início do julgamento de Bolsonaro. — Foto: Reprodução

O New York Times fez uma linha do tempo para descrever o planejamento e tentativa de execução do plano de golpe de estado por Bolsonaro e seus aliados, que chamou de "solução sinistra".

O jornal americano disse que revisou dezenas de horas de depoimentos e centenas de páginas de documentos relacionados ao caso para contar a história, que ao que tudo indica terminará com uma condenação do ex-presidente.

O New York Times reconstituiu a linha de ação delineada pelo plano de Bolsonaro: primeiro, descreditar o resultado, chamando a eleição de fraude, depois, colocar em execução planos para assassinar Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes, e depois ir aos Estados Unidos enquanto seus apoiadores invadiam os prédios dos três poderes.

Antes, o jornal americano já havia destacado que o Brasil está fazendo algo que os EUA não conseguiram: levar um ex-presidente a julgamento por tentar se manter no poder após perder uma eleição.

The Guardian

Reportagem do jornal 'The Guardian', do Reino Unido, sobre o início do julgamento de Bolsonaro. — Foto: Reprodução
Reportagem do jornal 'The Guardian', do Reino Unido, sobre o início do julgamento de Bolsonaro. — Foto: Reprodução

O The Guardian entrevistou o trompetista Fabiano Leitão, que viralizou ao tocar uma "marcha fúnebre" e o hino antifascista "Bella Ciao" após Bolsonaro se tornar réu por golpe de Estado.

Leitão disse ao jornal britânico que está "fazendo o velório político" de Bolsonaro e que estará na frente do STF para receber o ex-presidente em sua chegada ao julgamento. Vai ser algo alegre! Tem que ser algo alegre!, disse o trompetista ao jornal.

"Leitão está entre milhões de brasileiros progressistas que já têm o champanhe metafórico no gelo à espera da tão esperada condenação de Bolsonaro e de sete supostos co-conspiradores, cujo julgamento começa nesta semana", afirmou a reportagem.

As previsões de especialistas de que Bolsonaro seja condenado por golpe de Estado "soam como música aos ouvidos de Leitão", segundo o The Guardian.

Vai ser um momento de alegria ver o país se livrar desse instrumento de destruição, disse o trompetista ao jornal britânico, que relembrou o papel do ex-presidente na pandemia de Covid-19, quando adotou discurso negacionista e centenas de milhares de brasileiros morreram pela doença.

Washington Post

Reportagem do jornal 'The Washington Post', dos Estados Unidos, sobre o início do julgamento de Bolsonaro. — Foto: Reprodução
Reportagem do jornal 'The Washington Post', dos Estados Unidos, sobre o início do julgamento de Bolsonaro. — Foto: Reprodução

Com o julgamento de Bolsonaro, o Brasil enfrenta seu próprio passado autoritário e também o presidente Trump, que pressiona o país com retaliações econômicas e diplomáticas, afirmou reportagem do Washington Post.

Segundo o jornal americano, o julgamento "marca uma reviravolta significativa" no Brasil, já que o país "tradicionalmente escolhe a conciliação em vez da acusação quando se trata de supostos crimes contra o Estado democrático".

"O julgamento de Bolsonaro também é o ápice de uma saga extraordinária que polarizou ainda mais o Brasil, testou a determinação do seu Judiciário e abriu um abismo cada vez maior com os EUA", afirmou a reportagem.

Agora o julgamento de Bolsonaro deve ser "acompanhado de perto por pessoas de todo o país e pode estabelecer um novo precedente para a responsabilização política, dizem acadêmicos".

The Economist

Reportagem da Economist fala sobre julgamento de Bolsonaro — Foto: Reprodução
Reportagem da Economist fala sobre julgamento de Bolsonaro — Foto: Reprodução

A Economist chamou Bolsonaro de "Trump dos trópicos", e publicou diversas reportagens sobre o julgamento no STF, que "parece um sonho da esquerda americana, mas é realidade no Brasil".

O jornal britânico classificou a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023 como "esquisita e bárbara", por conta de um clima de festa que tomou os acampamentos em frente ao quartel de Brasília antes da invasão aos prédios do governo.

"Na primeira semana de janeiro de 2023, centenas de barracas [estavam] dispostas desordenadamente do lado de fora do prédio. Estaria acontecendo algum tipo de festival? O acampamento estava repleto de barracas servindo cerveja, costelas grelhadas e tigelas de arroz com carne salgada, conhecido como arroz carreteiro."

A Economist disse também que Bolsonaro "falhou por incompetência, e não por falta de intenção", e que seu julgamento ditará o ritmo da recuperação brasileira da febre populista.

Em sua reportagem de capa da semana anterior, a revista afirmou que o Brasil dá uma lição de democracia aos Estados Unidos, ao comparar o caso à tentativa de Donald Trump de se manter no poder após a derrota em 2020.

A reportagem disse que "os dois países parecem estar trocando de lugar: os EUA estão se tornando mais corruptos, protecionistas e autoritários, em contraste, mesmo com o governo Trump punindo o Brasil por processar Bolsonaro, o próprio país está determinado a salvaguardar e fortalecer sua democracia."

Em outro texto, a revista descreveu o julgamento como um marco histórico, afirmando que esta será a primeira vez que o Brasil levará um ex-presidente a julgamento por tramar um golpe. A reportagem também citou a tentativa de Trump de intervir com tarifas, sanções e cancelamento de vistos.

Segundo a publicação, Eduardo Bolsonaro se mudou para os EUA para fazer lobby junto a aliados do presidente americano contra Alexandre de Moraes. Para a revista, as pressões externas não funcionaram e acabaram impulsionando a aprovação de Lula.

BBC

Reportagem do jornal 'BBC', do Reino Unido, sobre o início do julgamento de Bolsonaro. — Foto: Reprodução
Reportagem do jornal 'BBC', do Reino Unido, sobre o início do julgamento de Bolsonaro. — Foto: Reprodução

A BBC disse que o julgamento de Bolsonaro entrou na fase final a partir desta terça-feira, e que um colegiado de cinco ministros da 1ª turma do STF decidirá o futuro do ex-presidente.

Segundo a rede britânica, a causa do ex-presidente brasileiro "foi abraçada" por Donald Trump. O presidente dos EUA, que também tem similaridades com Bolsonaro em seu currículo por conta da invasão de seus apoiadores ao Capitólio em 2021, chamou o julgamento no STF de "caça às bruxas".
Infográfico mostra o calendário de julgamento da tentativa de golpe de Estado para manter Jair Bolsonaro no poder — Foto: Arte/g1
Infográfico mostra o calendário de julgamento da tentativa de golpe de Estado para manter Jair Bolsonaro no poder — Foto: Arte/g1

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segunda-feira, 1 de setembro de 2025

O 'empurrão' da Apple à China na corrida com os EUA pela liderança do setor tecnológico

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Para chegar a ser o forte concorrente dos Estados Unidos na corrida tecnológica, a China contou com a participação de empresas ocidentais, como a Apple e várias outras, que decidiram há décadas mudar sua produção para o país.
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TOPO
Por BBC

Postado em 01 de Setembro de 2.025 às 19h00m

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O jornal japonês Nikkei Asia indica que 87% dos fornecedores da Apple possuem fábricas na China. — Foto: BBC/David Paul Morris/Bloomberg via Getty Images
O jornal japonês Nikkei Asia indica que 87% dos fornecedores da Apple possuem fábricas na China. — Foto: BBC/David Paul Morris/Bloomberg via Getty Images

A fabricação de produtos na China por empresas tecnológicas americanas, como a Apple, parecia, até pouco tempo, uma jogada empresarial de mestre.

A equação era simples. Produzir na China é mais barato e, portanto, maior é a margem de lucro.

Mas, talvez sem perceber, as empresas americanas passaram anos alimentando seus futuros concorrentes.

Produzindo telefones celulares, veículos elétricos e muitos outros produtos para empresas estrangeiras, a China desenvolveu capacidades industriais, tecnológicas e humanas com as quais dificilmente outro país consegue competir hoje em dia.

Se as empresas americanas utilizavam o país asiático para fabricar produtos baratos, a China, por sua vez, as usava para sustentar seu desenvolvimento tecnológico. E não foi por acaso.

O pesquisador em pós-doutorado Kyle Chan, da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, explica que a China desenvolveu um esforço bastante deliberado para atrair e utilizar empresas como a Apple para melhorar toda a sua economia.

"Nunca foi simplesmente dizer: 'OK, venham fabricar aqui, fiquem ricos e todos ficamos satisfeitos'", ele conta.

"Não. Na realidade, é como dizer: 'Vocês precisam contribuir com algo para o desenvolvimento da China'. E não só a Apple, mas também a Volkswagen, Bosch, Intel, SK Hynix e Samsung."

Os especialistas concordam que o centro de gravidade da indústria tecnológica no mundo está se deslocando.

Os dias em que os Estados Unidos eram praticamente o único país capaz de produzir tecnologias com o potencial de mudar a história da humanidade terminaram. O que existe hoje em dia é uma concorrência feroz em todos os setores.

"Não se trata mais de uma corrida com um só cavalo", declarou o diretor para a China da empresa de consultoria americana The Asia Group, Han Shen Lin, para a BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC.


Como isso aconteceu?

No seu livro Apple in China: The Capture of the World's Greatest Company ("Apple na China: a captura da maior empresa do mundo", em tradução livre), o ex-correspondente do jornal britânico Financial Times no Vale do Silício, Patrick McGee, expõe, com base em mais de 200 entrevistas com ex-funcionários da empresa, que a decisão da Apple de fabricar mais de 90% dos seus produtos na China gerou grandes lucros, mas não apenas isso.

"A fortuna da Apple e sua sofisticada produção desempenharam papel fundamental no financiamento, capacitação, supervisão e abastecimento dos fabricantes chineses", explica ele. "Agora, Pequim está usando essas habilidades como arma contra o Ocidente."

Nesta mesma linha, Chan afirma que, com o passar do tempo, fornecedores chineses começaram a substituir as fábricas estrangeiras que faziam parte da cadeia de produção do iPhone e outros aparelhos da Apple.

"Começando pelo básico, como as peças de cristal [as lentes e as telas], passando pelos módulos da câmera e, por fim, os próprios chips", segundo o professor.

Uma análise realizada em 2024 pelo jornal japonês Nikkei Asia indicou que 87% dos fornecedores da Apple possuem fábricas na China e mais da metade tem sua sede principal no país ou na região administrativa especial de Hong Kong.

Embora a Apple tenha tratado de diversificar os países onde são fabricados os insumos dos seus aparelhos, a empresa continua dependendo em larga escala de fabricantes na China — e de trabalhadores chineses que ganham US$ 1 a US$ 2 (cerca de R$ 5,45 a R$ 10,90) por hora.

McGee chega a afirmar que, se quisesse, o governo chinês poderia acabar com a produção da Apple de um dia para o outro.

O governo americano acusou a gigante chinesa Huawei de espionagem e roubo de propriedade intelectual. — Foto: BBC/VCG/VCG via Getty Images
O governo americano acusou a gigante chinesa Huawei de espionagem e roubo de propriedade intelectual. — Foto: BBC/VCG/VCG via Getty Images

Além de se transformar no fornecedor da Apple por excelência, a China aprendeu a desenvolver seus próprios telefones celulares, veículos elétricos e até modelos de inteligência artificial tão sofisticados quanto os americanos.

Os engenheiros e os investimentos milionários da Apple e de outras empresas ocidentais transferiram conhecimento e capacidades de inovação fundamentais para a China. Eles colaboraram diretamente com gigantes chineses da tecnologia como a Huawei, Xiaomi e BYD, segundo McGee no seu livro.

Foi assim que chegamos ao momento atual, em que os Estados Unidos permanecem na vanguarda, mas a China detém seus próprios gigantes para disputar a corrida.

Nas palavras de Han Shen Lin, "os Estados Unidos continuam liderando nas tecnologias fundamentais e nos chips avançados, mas a China está reduzindo distâncias rapidamente em inovação e produção em escala no setor de aplicativos".

Kyle Chan acrescenta que "a China começou a ultrapassar os Estados Unidos em algumas áreas e a grande questão aqui é a velocidade dessa ultrapassagem".

A batalha pela IA

Um setor que reflete como poucos a voraz concorrência entre a China e os Estados Unidos é o da inteligência artificial, considerada a joia da coroa da indústria tecnológica no momento.

A China investe decididamente no desenvolvimento de IA há décadas, mas os Estados Unidos pareciam estar muito à frente com o GPT-3, o revolucionário modelo de linguagem lançado pela empresa americana OpenAI em 2020.

E os lançamentos posteriores das diferentes versões do ChatGPT, cada uma melhor que a anterior, conquistaram o mundo.

Mas, quando poucas pessoas esperavam, surgiu no panorama, em janeiro deste ano, o chatbot chinês DeepSeek, muito parecido com o ChatGPT. E seus criadores indicam que seu desenvolvimento custou uma pequena fração dos valores gastos pelo seu concorrente.

O presidente americano, Donald Trump, se referiu à notícia como uma "advertência" para a indústria de tecnologia dos Estados Unidos.

"O importante não foi só que, de repente, um modelo chinês fosse quase tão bom quanto os melhores modelos americanos, nem que tivesse sido elaborado com menos recursos de informática e, segundo eles, a um custo muito menor", explica Chan.

"Mas sim — e isso é realmente fundamental — que tenha sido elaborado desafiando as restrições de exportação de chips para IA."

Desde 2022, os Estados Unidos impedem que clientes chineses comprem os chips H100 codificados da Nvidia, os mais avançados que existem para o treinamento de sistemas de inteligência artificial.

Em seu lugar, a empresa produz versões menos potentes dos seus chips, dirigidas especificamente para seus clientes na China.

Por isso, para Chan, o lançamento de um chatbot chinês que pode competir com seu correspondente americano era uma questão "de patriotismo".

"Para os chineses, aquilo era um desafio para a supremacia americana", segundo ele.

A DeepSeek afirma ter treinado seu modelo de linguagem usando os chips menos potentes que a Nvidia vende no mercado chinês. Mas existem rumores de que o fundador da empresa teria comprado uma grande quantidade de chips H100 e combinado com outros menos sofisticados.

Em abril, Trump proibiu as exportações do chip H20, o mais avançado que se permitia vender para a China até então, alegando riscos para a segurança nacional.

Recentemente, o presidente americano permitiu a retomada das vendas. Em troca, a empresa deve submeter ao governo americano 15% das suas vendas na China. Este acordo não tem precedentes e suscita dúvidas sobre sua legalidade.

As restrições dos Estados Unidos às exportações obrigaram as empresas chinesas a buscar alternativas.

Para o professor Chan, medidas como estas "são eficazes a curto prazo para desacelerar o desenvolvimento da China."

"Mas, a médio e longo prazo, elas impulsionam os esforços daquele país para produzir sua própria tecnologia e cadeia de fornecimento independente."

Um exemplo é o ocorrido com a Huawei. Em 2019, a empresa chinesa foi incluída na "Lista de Entidades" que participam de "atividades contrárias à segurança nacional ou aos interesses da política externa dos Estados Unidos", devido a acusações de espionagem, roubo de propriedade intelectual e vigilância de dados.

Por isso, os telefones celulares da empresa não puderam mais usar o sistema operacional Android, da Google.

"Depois de sofrer o golpe, a Huawei passou vários anos desenvolvendo seu próprio sistema operacional e seus próprios chips SoC", explica Chan.

"Não acredito que eles tivessem feito isso em tão larga escala, se não tivessem recebido sanções tão fortes dos Estados Unidos, o que, essencialmente, os obrigou a fazê-lo."

Os Estados Unidos chegaram a ser líderes da tecnologia devido à força do seu setor privado, aos grandes incentivos econômicos para inovação no país e à grande quantidade de energia que produz, entre outras condições.

Então, quais são as vantagens da China?

Os especialistas indicam, por um lado, sua decidida aposta por uma política industrial que investe recursos do Estado para desenvolver setores considerados estratégicos.

Em sua entrevista à BBC News Mundo, Chan defende que, enquanto os investimentos se movimentam rapidamente nos Estados Unidos conforme o mercado, o governo chinês se atém aos seus planos de longo prazo, investindo consistentemente neles, mesmo se não gerarem lucros imediatos.

Além disso, "a China possui um sistema que fomenta uma concorrência interna muito, muito feroz, na qual os governos regionais apoiam suas próprias empresas locais, criando uma espécie de torneio", afirma ele.

Esta intensa concorrência interna produz empresas que conseguem ser competitivas não só na China, mas também em nível global.

Outra palavra repetidamente mencionada pelos especialistas para explicar as vantagens da China na corrida tecnológica é "magnitude": a magnitude da sua população e dos dados existentes sobre os habitantes.

"A China pode colocar em prova tecnologias emergentes com toda a sua população", destaca o diretor para a China do The Asia Group, Han Shen Lin.

"A capacidade dos fabricantes chineses de medicamentos de recrutar pacientes com muito mais rapidez e aproveitar os bancos de dados nacionais centralizados de pacientes acelerou muito o ritmo dos testes clínicos e a descoberta de produtos farmacêuticos na China, especialmente no setor da oncologia", exemplifica Chan.

Tudo isso parece colocar a China em uma posição ao menos tão privilegiada quanto a dos Estados Unidos para definir o futuro da tecnologia.

Questionado sobre quais pistas deste futuro ele observa na sua vida em Xangai, na China, Lin responde que "o que mais me surpreende é como a tecnologia avançada se integra à perfeição na vida cotidiana, desde a logística baseada na inteligência artificial até o pagamento sem dinheiro em espécie em todo tipo de transações".

Mas ele alerta que o caminho seguido pela China também apresenta riscos.

"Sem a colaboração e a aceitação de muitos países em nível global, especialmente em relação aos padrões, a China corre o risco de ficar encerrada em uma câmara de eco", segundo ele.

"Por isso, a China ampliou seu alcance no Sul Global, com projetos como a Iniciativa Cinturão e Rota, e tratou de dominar os organismos que definem os padrões em organizações multilaterais, como a ONU."

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