"Nova classe média diversifica suas opções de entretenimento, viaja de avião, tem presença marcante em restaurantes, mas mantém as refeições comunitárias e valoriza a televisão."
*||=||* Por Luisa Medeiros | 16/05/2013
A Classe C ganhou novas opções de entretenimento, como idas a restaurantes, shows, viagens de avião e turismo. Em paralelo aos novos hábitos, os antigos como assistir à televisão recebem uma nova roupagem: os aparelhos de alta definição ocupam cada vez mais espaço na decoração da sala. O equipamento se perpetua como destaque no lazer das camadas populares por meio dos jogos de futebol e novelas que reúnem a família e os amigos, além da TV à cabo e dos DVDs, muitas vezes piratas, que são valorizados por aproximarem quase que em tempo real os lançamentos do cinema ao sofá de casa. Música e gastronomia é outra combinação entre as preferidas da nova classe média.
Para os moradores das periferias, o que comanda as folgas e finais de semana são ritmos misturados, como o pagofunk, soulsamba e sambafunk. Além desses ritmos, o jazz também encontra espaço no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. A música é o ritmo que embala as noites em um bar especializado em cervejas premium.
Para acompanhar a programação musical, o cardápio destes consumidores mantém a tradição das refeições comunitárias na vizinhança como churrascos e feijoadas. Se no dia a dia impera a máxima do custo benefício, na hora de receber os amigos e parentes para uma refeição, não podem faltar marcas fortes que reflitam a importância da ocasião. Outra opção de lazer que ganhou a aceitação deste público são os shoppings centers. Este espaço transcendeu o seu sentido original de centro comercial, ganhando status de referência para diversão por agregar comércio, restaurantes e entretenimento em um mesmo lugar.
Seguindo a tendência da busca por conveniência, os supermercados se reinventam para serem vistos como mais do que um lugar para comprar comida e também passam a oferecer opções de lazer. É o caso do Carrefour, que inaugurou salas de cinema na sua unidade Sulacap, no Rio de Janeiro. Conforme apurou o Mundo do Marketing, um dos comportamentos dos clientes da unidade é a compra de pipocas de microondas no mercado para o consumo nas salas de cinema. A informação não foi confirmada pelo Carrefour.
“Os supermercados não querem ficar para traz. Viram o sucesso dos shoppings e querem seguir a receita. É como se tivéssemos pequenos shoppings com grandes mercados em volta. Ir a estes espaços deixa de ser um ato de compra e ganha status de entretenimento”, analisa Rolf Malungo, Antropólogo e Especialista em Entretenimento das Classes Populares em entrevista ao Mundo do Marketing.
Televisão X Cinema
As salas de exibição começam a conquistar espaço nos bairros onde a maioria dos moradores é da nova classe média. As empresas pretendem inserir no cotidiano deste público o hábito de ir ao cinema. “A distância era um dos fatores que dificultava a frequência destes consumidores. Atualmente com os shoppings dos bairros populares mais equipados isso mudou. Mas ainda segue a passos lentos devido aos ingressos caros, especialmente nos finais de semana, período quando as pessoas que trabalham têm tempo para estar com a família e se divertir. Se pensarmos em uma família de quatro pessoas, uma ida ao cinema pode pesar bastante no orçamento”, comenta Rolf Malungo, que se declara cidadão da Classe C, nascido e criado no bairro do Irajá, no Rio de Janeiro.
Por esta razão, este grupo costuma investir em uma ida ao cinema quando o filme já lhe interessa previamente. O cinema em si não é a opção de passeio, pois o que atrai é poder assistir determinado filme em uma qualidade melhor ou com tecnologia 3D. “Os preferidos são os que têm muitos efeitos especiais, principalmente os internacionais. Seguidos pelos infantis, pela ideia de poder levar os filhos para passear”, aponta o Especialista em Entretenimento Popular da Consumoteca.
Por não enxergar um bom custo benefício em idas frequentes, estes consumidores comumente optam por assistirem filmes em casa. Para isso, adquirem aparelhos de televisão, DVD, blue-ray e home theater de alta tecnologia e com recursos que aproximem a experiência do cinema. “Quando o objetivo é simplesmente assistir um filme no sábado à noite, é comum que as pessoas optem por DVDs, especialmente piratas. Elas calculam o custo benefício assim: por R$ 2,00 compro um filme, toda a família assiste e ainda podemos chamar os amigos, além de economizar com a pipoca, refrigerante e transporte”, complementa Rolf Malungo, em entrevista ao portal.
Gastronomia fora do lar é tendência
Enquanto o hábito de assistir a filmes fora de casa ainda encontra resistência, cada vez mais a alimentação fora do lar se torna uma rotina na vida da nova classe média. Esta camada da população é responsável por 54,6% de todas as refeições realizadas fora de casa no Brasil, de acordo com um levantamento realizado pelo instituto Data Popular.
“Antes a Classe C era conhecida pelo perfil ‘prato feito’ durante os dias da semana. Nos demais dias, as refeições eram em casa. Hoje esse grupo descobre uma nova possibilidade que antes não era acessível. Isso fica claro com a chegada de cadeias de restaurantes de culinária diferenciada como o Outback, em bairros típicos da nova classe média. A novidade se transformou em símbolo de possibilidades de entretenimento. Frequentar restaurantes é uma experiência transformadora e ganha o sentido de se inserir em um novo universo”, comenta Eduardo Halpern, Coordenador de Comunicação do IBMEC, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Para as classes populares, datas comemorativas e diversão estão diretamente relacionadas à alimentação farta. A possibilidade de proporcionar refeições variadas e com itens diferenciados para familiares e amigos é sinônimo de prosperidade. “Fazer o aniversário do filho no McDonald’s, por exemplo, significa que aquela família está bem financeiramente. Poder convidar os amigos dos filhos para este lanche fora de casa tem mais valor para esta camada do que o tradicional bolinho com guaraná em casa”, comenta Daniel Pla, Professor de Varejo da FGV, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Os novos alimentos e as idas a restaurantes e lanchonetes dividem espaço com as refeições coletivas que tem grande valor social. As feijoadas, churrascos e dobradinhas comunitárias mantêm seu lugar de destaque: são considerados opções de lazer e acontecem com a colaboração de amigos, familiares e vizinhos. Essas festas são organizadas por motivos específicos, como batizados, noivados, aniversários, e também para ocupar feriados e domingos. As refeições ganham recortes da ascensão social com produtos considerados de primeira linha. “No cotidiano, a tubaína pode ser uma boa opção. Mas na hora de receber os amigos ou participar de uma festa, a Coca-cola e as cervejas das marcas mais reconhecidas ganham um valor enorme”, diz Daniel Pla.
Religião como entretenimento
Além dos espaços diretamente relacionados com diversão, as igrejas e templos religiosos que aparentemente não possuem nenhuma relação com entretenimento ganham importantes contornos sociais. “Para muitas das pessoas da classe C, o domingo de folga já começa na igreja, ou no templo religioso, independente do tipo de crença. A prática religiosa ocupa boa parte do tempo livre e possui grande importância”, analisa Rolf Malungo, Especialista em Entretenimento das Classes Populares.
As denominações religiosas promovem shows, atividades culturais e almoços, geralmente gratuitos ou a preços simbólicos. Isso amplia o alcance da religião e expande sua participação para as interações sociais e o lazer dos fiéis.
“O culto religioso é o ponto de partida para rever amigos, organizar passeios e outras vezes as próprias igrejas oferecem atividades voltadas para o entretenimento”, complementa Rolf Malungo, em entrevista ao Portal.
Para os moradores das periferias, o que comanda as folgas e finais de semana são ritmos misturados, como o pagofunk, soulsamba e sambafunk. Além desses ritmos, o jazz também encontra espaço no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. A música é o ritmo que embala as noites em um bar especializado em cervejas premium.
Para acompanhar a programação musical, o cardápio destes consumidores mantém a tradição das refeições comunitárias na vizinhança como churrascos e feijoadas. Se no dia a dia impera a máxima do custo benefício, na hora de receber os amigos e parentes para uma refeição, não podem faltar marcas fortes que reflitam a importância da ocasião. Outra opção de lazer que ganhou a aceitação deste público são os shoppings centers. Este espaço transcendeu o seu sentido original de centro comercial, ganhando status de referência para diversão por agregar comércio, restaurantes e entretenimento em um mesmo lugar.
Seguindo a tendência da busca por conveniência, os supermercados se reinventam para serem vistos como mais do que um lugar para comprar comida e também passam a oferecer opções de lazer. É o caso do Carrefour, que inaugurou salas de cinema na sua unidade Sulacap, no Rio de Janeiro. Conforme apurou o Mundo do Marketing, um dos comportamentos dos clientes da unidade é a compra de pipocas de microondas no mercado para o consumo nas salas de cinema. A informação não foi confirmada pelo Carrefour.
“Os supermercados não querem ficar para traz. Viram o sucesso dos shoppings e querem seguir a receita. É como se tivéssemos pequenos shoppings com grandes mercados em volta. Ir a estes espaços deixa de ser um ato de compra e ganha status de entretenimento”, analisa Rolf Malungo, Antropólogo e Especialista em Entretenimento das Classes Populares em entrevista ao Mundo do Marketing.
Televisão X Cinema
As salas de exibição começam a conquistar espaço nos bairros onde a maioria dos moradores é da nova classe média. As empresas pretendem inserir no cotidiano deste público o hábito de ir ao cinema. “A distância era um dos fatores que dificultava a frequência destes consumidores. Atualmente com os shoppings dos bairros populares mais equipados isso mudou. Mas ainda segue a passos lentos devido aos ingressos caros, especialmente nos finais de semana, período quando as pessoas que trabalham têm tempo para estar com a família e se divertir. Se pensarmos em uma família de quatro pessoas, uma ida ao cinema pode pesar bastante no orçamento”, comenta Rolf Malungo, que se declara cidadão da Classe C, nascido e criado no bairro do Irajá, no Rio de Janeiro.
Por esta razão, este grupo costuma investir em uma ida ao cinema quando o filme já lhe interessa previamente. O cinema em si não é a opção de passeio, pois o que atrai é poder assistir determinado filme em uma qualidade melhor ou com tecnologia 3D. “Os preferidos são os que têm muitos efeitos especiais, principalmente os internacionais. Seguidos pelos infantis, pela ideia de poder levar os filhos para passear”, aponta o Especialista em Entretenimento Popular da Consumoteca.
Por não enxergar um bom custo benefício em idas frequentes, estes consumidores comumente optam por assistirem filmes em casa. Para isso, adquirem aparelhos de televisão, DVD, blue-ray e home theater de alta tecnologia e com recursos que aproximem a experiência do cinema. “Quando o objetivo é simplesmente assistir um filme no sábado à noite, é comum que as pessoas optem por DVDs, especialmente piratas. Elas calculam o custo benefício assim: por R$ 2,00 compro um filme, toda a família assiste e ainda podemos chamar os amigos, além de economizar com a pipoca, refrigerante e transporte”, complementa Rolf Malungo, em entrevista ao portal.
Gastronomia fora do lar é tendência
Enquanto o hábito de assistir a filmes fora de casa ainda encontra resistência, cada vez mais a alimentação fora do lar se torna uma rotina na vida da nova classe média. Esta camada da população é responsável por 54,6% de todas as refeições realizadas fora de casa no Brasil, de acordo com um levantamento realizado pelo instituto Data Popular.
“Antes a Classe C era conhecida pelo perfil ‘prato feito’ durante os dias da semana. Nos demais dias, as refeições eram em casa. Hoje esse grupo descobre uma nova possibilidade que antes não era acessível. Isso fica claro com a chegada de cadeias de restaurantes de culinária diferenciada como o Outback, em bairros típicos da nova classe média. A novidade se transformou em símbolo de possibilidades de entretenimento. Frequentar restaurantes é uma experiência transformadora e ganha o sentido de se inserir em um novo universo”, comenta Eduardo Halpern, Coordenador de Comunicação do IBMEC, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Para as classes populares, datas comemorativas e diversão estão diretamente relacionadas à alimentação farta. A possibilidade de proporcionar refeições variadas e com itens diferenciados para familiares e amigos é sinônimo de prosperidade. “Fazer o aniversário do filho no McDonald’s, por exemplo, significa que aquela família está bem financeiramente. Poder convidar os amigos dos filhos para este lanche fora de casa tem mais valor para esta camada do que o tradicional bolinho com guaraná em casa”, comenta Daniel Pla, Professor de Varejo da FGV, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Os novos alimentos e as idas a restaurantes e lanchonetes dividem espaço com as refeições coletivas que tem grande valor social. As feijoadas, churrascos e dobradinhas comunitárias mantêm seu lugar de destaque: são considerados opções de lazer e acontecem com a colaboração de amigos, familiares e vizinhos. Essas festas são organizadas por motivos específicos, como batizados, noivados, aniversários, e também para ocupar feriados e domingos. As refeições ganham recortes da ascensão social com produtos considerados de primeira linha. “No cotidiano, a tubaína pode ser uma boa opção. Mas na hora de receber os amigos ou participar de uma festa, a Coca-cola e as cervejas das marcas mais reconhecidas ganham um valor enorme”, diz Daniel Pla.
Religião como entretenimento
Além dos espaços diretamente relacionados com diversão, as igrejas e templos religiosos que aparentemente não possuem nenhuma relação com entretenimento ganham importantes contornos sociais. “Para muitas das pessoas da classe C, o domingo de folga já começa na igreja, ou no templo religioso, independente do tipo de crença. A prática religiosa ocupa boa parte do tempo livre e possui grande importância”, analisa Rolf Malungo, Especialista em Entretenimento das Classes Populares.
As denominações religiosas promovem shows, atividades culturais e almoços, geralmente gratuitos ou a preços simbólicos. Isso amplia o alcance da religião e expande sua participação para as interações sociais e o lazer dos fiéis.
“O culto religioso é o ponto de partida para rever amigos, organizar passeios e outras vezes as próprias igrejas oferecem atividades voltadas para o entretenimento”, complementa Rolf Malungo, em entrevista ao Portal.
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