"Constatação é de Andrea Motta, ex-Diretora Executiva de O Boticário que pediu demissão para buscar um novo propósito para sua vida e poder passar mais tempo com a família."
O sonho de todo profissional de Marketing em início de carreira é conseguir subir hierarquicamente dentro de uma grande empresa e poder participar ativamente da construção de marcas fortes. O que muitos não levam em consideração, neste momento, é de tudo que precisarão abrir mão para conquistar planos tão ambiciosos.
Somente com dedicação praticamente exclusiva, sacrifícios pessoais e muita paixão, o profissional alcança um cargo de direção na área em uma companhia de peso, sem contar os conhecimentos específicos da área.
Quem garante que o caminho é penoso - embora, ao mesmo tempo, recompensante - é Andrea Motta, que no início deste ano deixou o cargo de Diretora Executiva de O Boticário para se reinventar. Na antiga função, foi alçada ao posto de uma das executivas do mercado de beleza mais poderosas do país.
Trilhou sua trajetória vitoriosa ao longo de quase duas décadas na empresa, passando pelos cargos de Diretora Comercial, de Marketing e Executiva. Esteve rodeada por homens durante boa parte de sua liderança. Quando anunciou sua saída, aos 46 anos, sem um próximo posto à vista no curto prazo, surpreendeu seus pares e o mercado.
O destino dali em diante, entretanto, estava claro para Andrea Motta. A decisão, como todas as demais tomadas enquanto Diretora Executiva de O Boticário, havia sido planejada e alicerçada em convicções de que era chegada a hora de dar um novo passo.
“Tive que refletir muito para abrir mão, pensar não só no que tinha feito até então, mas o que eu gostaria para o meu futuro. Sempre fui muito dedicada, comprometida com o trabalho, workaholic mesmo. Comecei a perceber que esse papel de Andrea profissional era muito presente e descompensava os outros”, reconhece a ex-executiva, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Carreira
Quem pensa que conseguirá subir os degraus hierárquicos de uma companhia sem abrir mão de boa parte da vida pessoal está enganado. É preciso viver a marca 24 horas por dia. Não é o tempo, entretanto, o principal agente dificultador, e sim a intensidade. “É difícil.
Não pela quantidade de horas, mas porque é preciso mergulhar com paixão. Quantas vezes foi tomando banho com os produtos O Boticário que eu tive um insight. Ou estava lendo uma revista e vinha algo relativo à empresa. Em momentos de lazer, conversando com as pessoas, em todas as horas, precisamos estar conectados”, diz Andrea sobre o nível de dedicação demandada.
Enquanto Diretora Executiva da companhia de cosmético, ela conduziu o processo de revitalização e reposicionamento da marca. Levou a empresa à liderança no mercado de perfumes, crescendo a dois dígitos por ano.
Tinha como desafio extra a necessidade de combinar o planejamento de longo prazo típico da indústria com a agilidade própria do varejo, conduzindo uma rede de 3.600 lojas e um time de 25 mil pessoas nos pontos de venda - fora as revendedoras.
Andrea não contabilizou quantas vezes passou batido pelas datas sazonais do ponto de vista pessoal. Às vésperas do Dia das Mães, dava-se conta de que ainda não havia comprado o presente da sua homenageada, até porque a data já parecia ter passado há tempos.
Afinal, o planejamento das ações já havia acontecido há meses e os lançamentos já estavam na rua. “Sempre batia na tecla da necessidade de ter coerência entre o que falávamos e fazíamos.
Era preciso encontrar aspectos relevantes da marca para o seu público e sair do lugar comum, construir uma diferenciação com consistência. Não dá para fazer isso sem paixão, sem estar envolvida 24 horas”, diz.
Maternidade
Os filhos também precisaram ser deixados um pouco de lado muitas vezes, a começar pela própria concepção deles. O momento foi adiado, como acontece com muitas mulheres. “Como a minha carreira teve um desenvolvimento bom, constante, em uma velocidade interessante, segurei a maternidade.
Fui mãe aos 37 anos, o que me permitiu passar por esse turbilhão ainda sem filhos. Depois da maternidade, a mulher entra em uma outra dinâmica”, reconhece Andrea, que teve na oportunidade de passar mais tempo ao lado deles um dos grandes incentivadores da virada na carreira.
No quadro de O Boticário, ela foi, durante muito tempo, a única mulher entre os seis Diretores Executivos. As esposas de seus pares não trabalhavam e cuidavam de todas as responsabilidades domésticas, fossem com a casa ou com os filhos.
Andrea, por outro lado, precisava encarar um segundo turno, mesmo tendo uma boa estrutura de funcionários para lhe oferecer suporte. “O envolvimento do homem e da mulher com as coisas da casa é diferente”, defende.
Isso não significa, entretanto, que a chegada dos filhos tenha reduzido o ritmo de sua ascensão profissional. Pelo contrário, a ex-executiva avalia os últimos 10 anos de sua carreira como os mais prósperos.
Ela acredita, inclusive, que o fato de ser mulher tenha trazido uma série de vantagens, embora carregue consigo também armadilhas. “Não deve haver diferenciação em remuneração para as mulheres, mas tem que existir o entendimento de que a dinâmica é diferente”, opina Andrea.
Perspectivas para o futuro
Depois de reposicionar a marca O Boticário no mercado com sucesso, chegou a hora de a profissional analisar seus propósitos e encarar sua própria vida como um produto. Para pensar na fase seguinte, utilizou muitos dos recursos apreendidos com o Marketing, como a importância de ter um planejamento estratégico de curto, médio e longo prazo. “Lancei-me como meu próprio produto, passei a ser meu maior desafio”, afirma a profissional.
Após muitas conquistas na carreira, o propósito de Andrea mudou. Ela passou a se questionar o que mais poderia viver e aprender. Aos 46 anos, percebeu que ainda poderia ter - quem sabe? - até outras duas carreiras.
Neste novo momento, Andrea está fazendo aulas de fotografia, culinária e pretende estudar sociologia. Também está cursando um programa da Fundação Dom Cabral destinado a conselheiras. É principalmente neste último aprendizado que guarda os planos para o futuro.
Andrea já planeja seu novo papel no mercado para o médio prazo e brinca ao dizer que seguiu a filosofia Pelé - saiu de campo em alta. “Tenho energia, saúde, estou numa idade legal e reuni uma bagagem boa. Guardei dinheiro, não tenho grandes dívidas e me organizei.
Foi diante disso que decidi parar para me pensar como produto. Existem poucas mulheres hoje em conselhos no Brasil. Ao mesmo tempo, cada vez mais empresas nacionais estão migrando de modelos de gestão antigos, familiares, para uma nova estrutura de governança. Comecei a pensar que, nos próximos cinco anos, o mercado estará demandando mais pessoas com o meu perfil, com conhecimentos de varejo, bens de consumo, franchising, Marketing e gestão de diferentes stakeholders”, conta Andrea.
Como boa executiva de Marketing, ela decidiu então se preparar com antecedência para as oportunidades que ainda estão por vir. “Pensei: acho que sou um bom produto, posso começar na frente se me especializar, criando um diferencial competitivo”. Dos planos, partiu para a execução. Assista à entrevista completa com Andrea Motta na TV Mundo do Marketing:
Leia também: O que pensam os executivos brasileiros sobre inovação. Pesquisa no Mundo do Marketing Inteligência.
Somente com dedicação praticamente exclusiva, sacrifícios pessoais e muita paixão, o profissional alcança um cargo de direção na área em uma companhia de peso, sem contar os conhecimentos específicos da área.
Quem garante que o caminho é penoso - embora, ao mesmo tempo, recompensante - é Andrea Motta, que no início deste ano deixou o cargo de Diretora Executiva de O Boticário para se reinventar. Na antiga função, foi alçada ao posto de uma das executivas do mercado de beleza mais poderosas do país.
Trilhou sua trajetória vitoriosa ao longo de quase duas décadas na empresa, passando pelos cargos de Diretora Comercial, de Marketing e Executiva. Esteve rodeada por homens durante boa parte de sua liderança. Quando anunciou sua saída, aos 46 anos, sem um próximo posto à vista no curto prazo, surpreendeu seus pares e o mercado.
O destino dali em diante, entretanto, estava claro para Andrea Motta. A decisão, como todas as demais tomadas enquanto Diretora Executiva de O Boticário, havia sido planejada e alicerçada em convicções de que era chegada a hora de dar um novo passo.
“Tive que refletir muito para abrir mão, pensar não só no que tinha feito até então, mas o que eu gostaria para o meu futuro. Sempre fui muito dedicada, comprometida com o trabalho, workaholic mesmo. Comecei a perceber que esse papel de Andrea profissional era muito presente e descompensava os outros”, reconhece a ex-executiva, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Carreira
Quem pensa que conseguirá subir os degraus hierárquicos de uma companhia sem abrir mão de boa parte da vida pessoal está enganado. É preciso viver a marca 24 horas por dia. Não é o tempo, entretanto, o principal agente dificultador, e sim a intensidade. “É difícil.
Não pela quantidade de horas, mas porque é preciso mergulhar com paixão. Quantas vezes foi tomando banho com os produtos O Boticário que eu tive um insight. Ou estava lendo uma revista e vinha algo relativo à empresa. Em momentos de lazer, conversando com as pessoas, em todas as horas, precisamos estar conectados”, diz Andrea sobre o nível de dedicação demandada.
Enquanto Diretora Executiva da companhia de cosmético, ela conduziu o processo de revitalização e reposicionamento da marca. Levou a empresa à liderança no mercado de perfumes, crescendo a dois dígitos por ano.
Tinha como desafio extra a necessidade de combinar o planejamento de longo prazo típico da indústria com a agilidade própria do varejo, conduzindo uma rede de 3.600 lojas e um time de 25 mil pessoas nos pontos de venda - fora as revendedoras.
Andrea não contabilizou quantas vezes passou batido pelas datas sazonais do ponto de vista pessoal. Às vésperas do Dia das Mães, dava-se conta de que ainda não havia comprado o presente da sua homenageada, até porque a data já parecia ter passado há tempos.
Afinal, o planejamento das ações já havia acontecido há meses e os lançamentos já estavam na rua. “Sempre batia na tecla da necessidade de ter coerência entre o que falávamos e fazíamos.
Era preciso encontrar aspectos relevantes da marca para o seu público e sair do lugar comum, construir uma diferenciação com consistência. Não dá para fazer isso sem paixão, sem estar envolvida 24 horas”, diz.
Maternidade
Os filhos também precisaram ser deixados um pouco de lado muitas vezes, a começar pela própria concepção deles. O momento foi adiado, como acontece com muitas mulheres. “Como a minha carreira teve um desenvolvimento bom, constante, em uma velocidade interessante, segurei a maternidade.
Fui mãe aos 37 anos, o que me permitiu passar por esse turbilhão ainda sem filhos. Depois da maternidade, a mulher entra em uma outra dinâmica”, reconhece Andrea, que teve na oportunidade de passar mais tempo ao lado deles um dos grandes incentivadores da virada na carreira.
No quadro de O Boticário, ela foi, durante muito tempo, a única mulher entre os seis Diretores Executivos. As esposas de seus pares não trabalhavam e cuidavam de todas as responsabilidades domésticas, fossem com a casa ou com os filhos.
Andrea, por outro lado, precisava encarar um segundo turno, mesmo tendo uma boa estrutura de funcionários para lhe oferecer suporte. “O envolvimento do homem e da mulher com as coisas da casa é diferente”, defende.
Isso não significa, entretanto, que a chegada dos filhos tenha reduzido o ritmo de sua ascensão profissional. Pelo contrário, a ex-executiva avalia os últimos 10 anos de sua carreira como os mais prósperos.
Ela acredita, inclusive, que o fato de ser mulher tenha trazido uma série de vantagens, embora carregue consigo também armadilhas. “Não deve haver diferenciação em remuneração para as mulheres, mas tem que existir o entendimento de que a dinâmica é diferente”, opina Andrea.
Perspectivas para o futuro
Depois de reposicionar a marca O Boticário no mercado com sucesso, chegou a hora de a profissional analisar seus propósitos e encarar sua própria vida como um produto. Para pensar na fase seguinte, utilizou muitos dos recursos apreendidos com o Marketing, como a importância de ter um planejamento estratégico de curto, médio e longo prazo. “Lancei-me como meu próprio produto, passei a ser meu maior desafio”, afirma a profissional.
Após muitas conquistas na carreira, o propósito de Andrea mudou. Ela passou a se questionar o que mais poderia viver e aprender. Aos 46 anos, percebeu que ainda poderia ter - quem sabe? - até outras duas carreiras.
Neste novo momento, Andrea está fazendo aulas de fotografia, culinária e pretende estudar sociologia. Também está cursando um programa da Fundação Dom Cabral destinado a conselheiras. É principalmente neste último aprendizado que guarda os planos para o futuro.
Andrea já planeja seu novo papel no mercado para o médio prazo e brinca ao dizer que seguiu a filosofia Pelé - saiu de campo em alta. “Tenho energia, saúde, estou numa idade legal e reuni uma bagagem boa. Guardei dinheiro, não tenho grandes dívidas e me organizei.
Foi diante disso que decidi parar para me pensar como produto. Existem poucas mulheres hoje em conselhos no Brasil. Ao mesmo tempo, cada vez mais empresas nacionais estão migrando de modelos de gestão antigos, familiares, para uma nova estrutura de governança. Comecei a pensar que, nos próximos cinco anos, o mercado estará demandando mais pessoas com o meu perfil, com conhecimentos de varejo, bens de consumo, franchising, Marketing e gestão de diferentes stakeholders”, conta Andrea.
Como boa executiva de Marketing, ela decidiu então se preparar com antecedência para as oportunidades que ainda estão por vir. “Pensei: acho que sou um bom produto, posso começar na frente se me especializar, criando um diferencial competitivo”. Dos planos, partiu para a execução. Assista à entrevista completa com Andrea Motta na TV Mundo do Marketing:
Leia também: O que pensam os executivos brasileiros sobre inovação. Pesquisa no Mundo do Marketing Inteligência.