A novidade foi incorporada ao aplicativo de Arte e Cultura da empresa, e
permite traduzir palavras atuais e emojis em hieróglifos
compartilháveis.
Segundo o Google, o app, batizado de Fabricius, é a primeira ferramenta
treinada por meio de aprendizado de máquina (machine learning) para
entender o que um hieróglifo é de fato.
Em tese, a plataforma de tradução deve melhorar ao longo do tempo à medida que é utilizada pelos usuários.
Além da ferramenta acessível a todos, uma versão para computadores do
Fabricius foi lançada também para estudiosos da área de egiptologia,
antropólogos e historiadores, como ferramenta de suporte para pesquisas.
Um especialista ouvido pela BBC elogiou a iniciativa, mas afirmou que a
revolução anunciada pela empresa precisa ser vista com ressalva.
“Ainda que seja impressionante, ela não está no estágio no qual pode
dispensar a necessidade de um especialista altamente treinado em leitura
de inscrições antigas”, afirmou Roland Enmarch, professor de
egiptologia da Universidade de Liverpool, no Reino Unido.
“Há ainda alguns grandes obstáculos para ler os hieróglifos porque eles
foram feitos à mão e variaram demais ao longo do tempo no nível de
detalhe pictográfico e entre os responsáveis pelas inscrições.”
Mas ele reconhece que a ferramenta é um passo importante para as pesquisas na área.
Descobertas decifradas
A área de trabalho do aplicativo permite ao usuário adicionar fotos de
hieróglifos reais achados em objetos ou paredes e otimizar as imagens
para análises mais acuradas dos símbolos.
Ferramenta permite aos usuários destacarem os hieróglifos a fim de
ajudar o aplicativo a identificá-los — Foto: Divulgação/Google
Os usuários podem rastrear os contornos dos hieróglifos, que o software
tenta combinar com símbolos semelhantes em seu banco de dados,
permitindo que eles procurem significados diferentes e tentem decifrar
símbolos que podem se tornar descobertas.
A ferramenta utiliza análise de registros históricos e definições linguísticas.
O Google espera ampliar sua enorme base de dados com a colaboração dos usuários.
Textos incompletos
Os pesquisadores também podem comentar e retocar símbolos desbotados na
ferramenta, criada a partir de uma colaboração com o Centro Australiano
de Egiptologia, a Universidade Macquarie, as empresas de tecnologia
Psycle Interactive e Ubisoft e egiptólogos ao redor do mundo.
"A digitalização de material textual que, até agora, era restrito
apenas a livros manuscritos revolucionará completamente a maneira como
os egiptólogos trabalham", disse Alex Woods, do Centro Australiano de
Egiptologia.
“Digitalizar e comentar textos pode potencialmente nos ajudar a
reconstruir textos incompletos em paredes ou mesmo descobrir textos que
não sabíamos que estavam ali.”
A ferramenta está disponível atualmente em inglês e árabe.
O lançamento do aplicativo do Google coincide com o aniversário de
descoberta da Pedra de Roseta, que permitiu que pesquisadores pudessem
ler, de forma inédita, hieróglifos do Egito Antigo.
A Pedra de Roseta, encontrada no Egito, foi fundamental para que
estudiosos conseguissem decifrar o significado dos hieróglifos — Foto:
AFP via BBC
Com 1,12 metros de altura, a Pedra de Roseta, que está no Museu
Britânico, em Londres, é originariamente do Egito. Trata-se de um
fragmento de rocha de granodiorito.
A rocha contém três colunas da mesma inscrição em três idiomas: grego,
hieróglifo e demótico egípcio. O texto é de um decreto escrito por
clérigos em 196 a.C, durante o reinado do faraó Ptolomeu 5º.
A rocha foi descoberta em julho de 1799 por soldados que integravam o
exército de Napoleão Bonaparte, quando eles ampliavam uma fortaleza
perto da cidade de Rashi, também conhecida como Roseta, no Rio Delta.
Quando Napoleão foi derrotado, os britânicos tomaram posse da rocha,
nos termos do Tratado de Alexandria, em 1801. Ela foi, então,
transportada à Inglaterra, chegando à cidade portuária de Portsmouth em
fevereiro de 1802. O rei George 3º ofereceu a rocha ao Museu Britânico
alguns meses depois.
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