ByteDance, criadora do aplicativo da moda é um dos 'unicórnios' mais valiosos do mundo hoje; seu dono, Zhang Yiming, tem um estilo muito diferente de outros magnatas chineses.
Por BBC
01/08/2020 22h43 Atualizado há 23 horas
Postado em 02 de agosto de 2020 às 21h45m
* Post.N. -\- 3.812 *
É provável que você não reconheça esse nome, mas a empresa ByteDance é
hoje um dos mais valiosos "unicórnios" — como são chamadas as start-ups
de tecnologia avaliadas em mais de US$ 1 bilhão.
A empresa já investiu em mais de 20 startups desde 2012, como a Lark
(de mensagens) e a Flipchat (para conversas por vídeo). Mas nenhuma
delas é mais popular do que o carro-chefe da ByteDance: o aplicativo de
vídeos TikTok. Por outro lado, a empresa está envolvida em uma crescente
tensão entre os Estados Unidos e a China.
Neste sábado, o presidente Donald Trump anunciou que "está proibindo" o TikTok no país.
As autoridades de segurança americanas expressaram preocupação de que o
aplicativo possa ser usado para coletar dados pessoais de usuários, e
que as informações sejam enviadas ao governo chinês. O TikTok nega as
acusações.
Após a sinalização de Trump, a gerente-geral da plataforma nos Estados
Unidos, Vanessa Pappas, afirmou que o aplicativo está "aqui (nos EUA)
por um longo prazo". Em vídeo, ela disse que sua equipe está construindo
"o mais seguro dos aplicativos."
O TikTok é o aplicativo da moda, tendo sido o mais baixado no primeiro trimestre de 2020. Estima-se que ele tenha 800 milhões de usuários ativos por mês no mundo — 80 milhões deles apenas nos EUA. O app permite que usuários publiquem e compartilhem vídeos curtos, geralmente cômicos.
Recentemente, o aplicativo virou alvo de autoridades americanas. O
secretário de Estado americano, Mike Pompeo, disse em uma entrevista que
os dados de usuários do TikTok vão parar "nas mãos do Partido Comunista
Chinês".
Mas o que sabemos sobre a empresa que está por trás do TikTok?
Cifras astronômicas
O valor de mercado estimado da ByteDance é US$ 78 bilhões, segundo um relatório da Reuters do final do ano passado.
Os investidores dizem que a ByteDance está perto de gerar US$ 30 bilhões de receitas em 2020 — uma cifra astronômica se comparada com os cerca de US$ 20 bilhões de 2019.
TikTok está no centro de uma disputa entre China e EUA — Foto: Getty Images/BBC
Seu lucro líquido pode duplicar neste ano, atingindo US$ 7 bilhões, segundo cifras publicadas pela revista The Economist.
A empresa nasceu em 2012, com sede em Pequim.
Depois de investir em vários aplicativos, a ByteDance desenvolveu o
precursor do TikTok, chamado Douyin, que foi lançado localmente em 2016.
A ideia era criar vídeos musicais de 15 segundos para serem
compartilhados na internet.
Em 2017, o Douyin chegou ao mercado internacional rebatizado de TikTok.
Isso foi no mesmo ano em que a ByteDance comprou o Musical.ly, herdando
mais de 20 milhões de usuários ativos, que ajudaram na expansão do
TikTok.
Discreto
Diferente de tantos outros magnatas chineses como Jack Ma (fundador do
Alibaba) ou Pony Ma (criador do Tencent), o homem por trás do ByteDance
não gosta muito de aparecer nos meios de comunicação.
Ele praticamente não aparece nos meios ocidentais.
Zhang Yiming nasceu em Longyan, no sudeste da China, em 1983.
Antes de criar sua própria empresa, ele trabalhou na Microsoft e no
Kuxun, um dos principais sites de busca de viagens e transporte da
China, que depois foi adquirido pelo TripAdvisor.
O engenheiro de software começou a trajetória de sua empresa com um
agregador de notícias baseado em inteligência artificial que teve muito
sucesso na China. Ele mesmo definiu seu agregador como "um negócio de
buscas" ou uma "rede social", mais do que apenas uma empresa de
notícias, em entrevista para a Bloomberg em 2017.
Em 2019, Zhang foi nomeado uma das 100 pessoas mais influentes do mundo
pela revista Time. Segundo a revista Forbes, o empresário é a nona
pessoa mais rica da China.
Além do TikTok
A ByteDance é muito mais do que só o TikTok. Em 2016, a empresa se
converteu no maior acionista do serviço de notícias indianos BaBe.
Entre outros aplicativos bem-sucedidos estão o Xigua Video (uma
plataforma de vídeos semanais de cinco minutos de duração), o Lark (um
serviço de comunicação online) e o Vigo Video (também de vídeos curtos,
muito popular entre adolescentes chineses).
A empresa também fabrica celulares e trabalha desde 2019 no lançamento do seu próprio smartphone.
Nos últimos meses, as acusações de espionagem abalaram a empresa.
O TikTok coleta uma enorme quantidade de dados sobre seus usuários,
incluindo quais vídeos são assistidos e comentados, dados de
localização, modelo de telefone e sistema operacional usado e até o
ritmo de digitação dos usuários ao usar as teclas.
O TikTok insiste que os dados são coletados e armazenados fora da China.
"A insinuação de que estamos de alguma forma sob o controle do governo chinês é completa e totalmente falsa", disse Theo Bertram, chefe de políticas públicas da TikTok para a Europa, Oriente Médio e África, à BBC.
Os argumentos contra o TikTok parecem se basear na possibilidade
teórica de o governo chinês obrigar a ByteDance, de acordo com as leis
locais, a entregar dados sobre usuários estrangeiros.
A Lei de Segurança Nacional de 2017 na China obriga qualquer
organização ou cidadão a "apoiar, ajudar e cooperar com o trabalho de
inteligência do Estado". Bertram disse que, se o TikTok fosse abordado
pelo governo chinês, "definitivamente recusaríamos qualquer solicitação
de dados".
Enquanto a empresa navega esta crise, há rumores de que investidores americanos podem vir a comprar o TikTok.