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segunda-feira, 21 de março de 2022

Algoritmos, vagas de emprego e mais: quatro dados sobre a discriminação no mundo da tecnologia

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No Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, o g1 listou informações que revelam os desafios da diversidade no mercado de inovação.
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Por g1

Postado em 21 de março de 2022 às 17h05m

Post. N. - 4.305

O mundo da tecnologia ainda está longe da diversidade; veja alguns dos desafios nesse caminho — Foto: Justin Sullivan/France Presse
O mundo da tecnologia ainda está longe da diversidade; veja alguns dos desafios nesse caminho — Foto: Justin Sullivan/France Presse

Nesta segunda-feira (21) é celebrado o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, data que recorda as pessoas que perderam suas vidas lutando por igualdade racial.

Instituída em 1966 pela Organização das Nações Unidas (ONU) a escolha da data foi motivada pelo massacre de manifestantes que protestavam pacificamente durante o período de segregação racial na África do Sul, em 1960.

O mundo da tecnologia também possui diversos reflexos da discriminação que se apresenta na sociedade.

O g1 listou quatro fatos que revelam uma parte dessa situação e alguns dos desafios para tornar mais justa a relação entre raça e tecnologia.

Há pouca diversidade na programação

Apesar de 54% da população brasileira ser de pessoas negras/pretas e pardas, segundo a pesquisa Pnad do IBGE, somente 36,9% dos entrevistados de um estudo realizado pelo PretaLab e pela ThoughtWorks com profissionais do mercado de tecnologia brasileiro se declaram neste grupo.

Realizada em 2019, a pesquisa Quem Coda BrO tinha como principal objetivo entender a relação entre a percepção e a realidade sobre diversidade nas equipes de trabalho em tecnologia no Brasil.

Comparando as características declaradas pelos respondentes com os indicadores da população brasileira e da população economicamente ativa brasileira (IBGE), é possível perceber a proporção de pessoas brancas é maior em comparação com a realidade brasileira; a proporção de mulheres é menor do que a apresentada na sociedade em geral – elas são apenas 30% da força de trabalho, mesmo representando 52% da população.

O levantamento ainda aponta que não são representadas as pessoas com deficiências. Ou seja, o cenário tecnológico não reflete a diversidade da população do país.

Vagas afirmativas despertam controvérsias

Uma das medidas para balancear a falta de diversidade no mercado de trabalho é a criação das chamadas vagas afirmativas, uma política de contratação que privilegia profissionais de um determinado grupo.

Recentemente, uma vaga que privilegiava candidatos negros e indígenas foi excluída da rede social profissional LinkedIn por que a plataforma não permite vagas que excluam ou demonstrem preferência por determinados profissionais. O cargo em questão era coordenação do setor administrativo e financeiro do Laut (Centro de Análise da Liberdade e do Autoritarismo).

A comunicação do LinkedIn divulgou um comunicado informando que a rede social acredita que "pessoas com os mesmos talentos devem ter acesso às mesmas oportunidades" e, por isso, a plataforma possui "políticas detalhadas e processos transparentes".

"Entendemos que em alguns países, como o Brasil, a legislação permite que empregadores apliquem esses critérios em seus processos de seleção", aponta o LinkedIn em comunicado.

A entidade acredita que a vaga só foi tirada do ar por conta de sua descrição que apontava a ação afirmativa. O Laut afirma que continua com o processo seletivo por meio de outras plataformas, após a exclusão da vaga pelo LinkedIn.

No entanto, essa não é a primeira vez que esse tipo de iniciativa é criticada ou desperta polêmicas. A decisão do Magazine Luiza em colocar apenas negros em seu programa de trainee para 2021 gerou debate no Brasil.

O caso foi parar na justiça, quando um defensor público federal entrou com uma ação civil pública contra a empresa. O servidor classificou a medida como "marketing de lacração" e afirmou que haveria "imensa desproporção" entre o bônus da política de cota contra o ônus arcado pelos demais trabalhadores.

Algoritmos reproduzem racismo

Um dos impactos da desigualdade que pode ser observado no mundo tecnológico é a discriminação realizada por algoritmos. Ou seja, pelos softwares que são desenvolvidos sem levar em conta características de grupos específicos.

Esse é um dos impactos diretos da falta de mulheres, pessoas negras, deficientes e da comunidade LGBTQI+ atuando na formulação dos produtos de tecnologia. O que faz com que esses algoritmos e programas se tornem menos complexos.

O Twitter, por exemplo, já recebeu reclamações de que seu algoritmo de recorte de imagens privilegiava pessoas brancas.

Em setembro de 2020, perfis publicaram imagens com uma pessoa negra em uma ponta e uma pessoa branca na outra, invertendo a ordem em uma foto seguinte. Antes de abrir a imagem completa, o algoritmo do Twitter mostrava a pessoa branca com mais frequência.

A rede social, inclusive, desabilitou o sistema automatizado de recorte de imagens por conta desse viés. A plataforma revelou que descobriu que o algoritmo fornecia "tratamento desigual com base em diferenças demográficas", favorecendo usuários brancos e masculinos em vez de negros e mulheres, e um viés descrito como "olhar masculino", que se concentrava no peito ou nas pernas de uma mulher.

Outra consequência desse cenário está na falta de oportunidades de captação de investimento para empreendedores negros.

"Ainda não existem dados o suficiente para entender o tamanho da dificuldades dos empreendedores negros no Brasil, mas olhando para os nossos dados, percebemos que esse é um problema concreto", disse diretor do Google for Startups na América Latina, André Barrence, em entrevista publicada pelo g1 em março do ano passado.

No ano passado, o Google anunciou oito startups selecionadas para receber investimentos do Black Founders Fund.

A gigante da tecnologia anunciou em setembro passado que investiria R$ 5 milhões em negócios geridos por negros no Brasil a partir do seu braço Google for Startups, ampliando uma iniciativa que nasceu nos Estados Unidos em junho de 2020.

A iniciativa, no entanto, fica aquém da necessidade para equilibrar a questão.

Dados da plataforma Crunchbase apontam que, nos EUA, empreendedores negros receberam apenas 1,2% de todo o dinheiro investido em startups no primeiro semestre de 2021.

No Brasil, o cenário não é diferente: "empresas lideradas por brancos captaram 69 vezes mais recursos do que as startups geridas por não brancos, como pretos, indígenas e amarelos", afirma Barrence, citando um levantamento feito com membros da iniciativa do Google para startups.

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