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terça-feira, 9 de março de 2021

Como brasileiro virou programador usando celulares quebrados

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Cesar Pauxis desafiou lógica e pobreza para se tornar um menino-prodígio na área de informática. Com apenas 17 anos, ele foi recrutado pela maior empresa brasileira de pagamentos eletrônicos.
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TOPO
Por BBC

Postado em 09 de março de 2021 às 20h30m 

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Na base do improviso e da perseverança, como mostra sua 'estação de trabalho', Cézar Pauxis aprendeu a programar — Foto: Cézar Pauxis via BBC
Na base do improviso e da perseverança, como mostra sua 'estação de trabalho', Cézar Pauxis aprendeu a programar — Foto: Cézar Pauxis via BBC

"Tinha um aparelho que esquentava tão rápido que eu precisava colocar no congelador. Em outros eu só conseguia usar parte da tela."

Cézar Pauxis assim descreve uma rotina de "relacionamentos problemáticos" com os muitos telefones celulares usados que teve durante a adolescência — os únicos que cabiam no orçamento familiar.

Mas foi em meio a "gambiarras" e com uma dose cavalar de perseverança que o paraense desafiou lógica e pobreza: Pauxis se tornou um autodidata em programação e, aos 17 anos, viu-se disputado por empresas de tecnologia brasileiras depois que um tuíte seu viralizou em meio em meio a profissionais da área no apagar das luzes de 2020.

"Eu estava pedindo ajuda para comprar um computador celular melhorzinho porque, para variar, o que eu estava usando tinha quebrado," conta o jovem à BBC News Brasil.

Vaquinha viral

Em uma questão de dias, a thread superou 90 mil curtidas e 20 mil compartilhamentos, além de resultar em enxurrada de doações. A visibilidade também despertou interesse profissional no caso do paraense.

Ele foi contatado por uma série de empresas que incluiu a Picpay, a empresa de pagamentos eletrônicos com sede em Vitória (ES) e que, curiosamente, estava sendo usada por Pauxis na vaquinha virtual.

"Aprender programação do zero, nas condições que o Cezar tinha, é muito difícil. Quando ele contou sua história no Twitter, a comunidade tech passou a acompanhar," diz Diogo Carneiro, diretor técnico da Picpay.

Programar em celulares é mais complicado que em computadores por conta da diferença de tamanho de telas e pelo fato de que é necessário digitar bastante, o que pode ser desconfortável em condições normais — o que dirá em celulares com problemas.

Desde 1º de março deste ano, Pauxis é um dos mais novos funcionários da empresa, na função de desenvolvedor. Trabalhando remotamente de Belém, ele mora sozinho em um apartamento, pois a família se mudou há alguns anos para a pequena cidade de Carutapera, no interior do Maranhão.

A história de Pauxis viajou além do mundo tech. Mais precisamente chegou ao site Razões Para Acreditar, que organiza doações para pessoas consideradas inspiradoras.

Uma nova vaquinha virtual arrecadou em janeiro fundos de mais de R$ 80 mil que serão usados em obras para, literalmente, terminar a casa em que família vive em Carutapera.

"A gente não tinha condições financeiras para achar uma casa pronta, então precisou viver em uma inacabada", conta Pauxis, que também pretende usar parte da verba fazer um curso formal de programação.

Pauxis foi contratado pela PicPay, uma das maiores empresas de pagamentos digitais do Brasil. — Foto: Picpay via BBC
Pauxis foi contratado pela PicPay, uma das maiores empresas de pagamentos digitais do Brasil. — Foto: Picpay via BBC

Interesse pelos 'bots'

O paraense, que aprendeu a ler aos três anos de idade, tinha 14 quando começou a se interessar pelos chamados "bots", aplicações autônomas que rodam na internet enquanto desempenham algum tipo de tarefa pré-determinada.

Pauxis tinha curiosidade especial pelos bots no aplicativo Telegram. Começou, sempre com o auxílio de um celular usado, a buscar informações em comunidades de programadores.

"A última vez que tive computador em casa foi aos cinco, seis anos de idade", conta.

"Então, tive que usar o celular. As pessoas com quem conversava me avisaram do quanto era difícil programar em celular, mas a minha curiosidade era maior."

Outro obstáculo eram os problemas nos aparelhos. Falhas fizeram com que Pauxis por várias vezes perdesse todo o trabalho feito e frequentemente o obrigavam a ficar sem trabalhar nos projetos por meses a fio.

"Era muito desmotivador quando isso acontecia. Só que eu nunca pensei em desistir."

Ainda assim, ele conseguiu criar dois bots para o Telegram que respondiam a pesquisas. Pauxis, porém, hesitava em pedir ajuda financeira aos contatos que fez online. Durante anos ele evitou inclusive tornar sua história pública.

"Eu tinha e ainda tenho muito medo de as pessoas me interpretarem mal e acharem que eu estou tentando me vitimizar", diz o adolescente.

"Tenho criado projetos com programação todos esses anos sempre somente em celulares quebrados. Mas é o que eu amo fazer e sempre fiz de graça simplesmente para poder ajudar os usuários, por isso relutei em pedir doações ou cobrar pelo serviço."

O mundo deu voltas para Cézar Pauxis desde então e, durante a conversa com a reportagem ele já tinha um smartphone novo em folha em mãos.

Mas o paraense não quer esquecer os percalços passados. E quer que sua história sirva de incentivo para outras pessoas que se encontrem em situações semelhantes a que ele viveu.

"Eu gosto da ideia de inspirar e motivar outras pessoas a não desistir. Queria que elas vissem também que a gente não precisa de muita coisa para seguir um sonho."

"Muita gente tem celulares ou outros equipamentos que às vezes estão largados em alguma gaveta. Elas poderiam doar esses equipamentos, pois isso pode ajudar demais quem precisa," acrescenta.

O desafio agora para Pauxis é um outro tipo de programação: a cozinha.

"Até agora eu só sei fazer arroz e macarrão", brinca o adolescente.

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