"Empresas vão utilizar mais tecnologia no dia a dia, irão além do lucro e investirão em criatividade e inovação, mas escolas ainda preparam para um mundo linear e repetitivo."
*.#||#.* Por Lilian Calmon || 02/12/2013
As mudanças que ocorrem no mundo estão redefinindo o contexto dos negócios e, cada vez mais, as marcas devem se questionar como é possível se reinventar para continuarem a ter relevância no futuro próximo.
As empresas utilizarão mais e mais tecnologia no seu dia a dia, não poderão focar apenas no lucro e terão que investir em criatividade e inovação. Em quatro palavras, o futuro será tecnológico, criativo, aberto e do bem.
Durante muitos anos, as companhias conduziram suas atividades da mesma forma, porque o cenário era previsível. Não era necessária muita inovação para criar uma empresa em um mercado tradicional. A situação muda quando um negócio que não existia antes, como um serviço de busca na web, surge e passa a fazer parte do cotidiano das pessoas.
Mas até mesmo um Google precisa estar sempre se reinventando. Por isso, tem investido tanto em óculos inteligentes como em carros autônomos. O que inicialmente soa incoerente para uma empresa que nasceu e se desenvolveu com serviços web faz todo o sentido dentro da nova dinâmica dos negócios.
Um exemplo de ruptura aconteceu com a indústria da música com o lançamento do iPod em 2005. “A grande empresa como conhecemos hoje tende a desaparecer e só permanecerão aquelas com possibilidade de se reinventar. A Sony era a maior player e o iPod derrubou tudo.
A Apple pensou nas pessoas e em como elas querem interagir com as músicas”, comenta Dhaval Chadha, Cientista Social e um dos fundadores da Cria, empresa que desenvolve e implementa negócios de valor compartilhado, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Tecnologia e criatividade
A tecnologia avança de maneira exponencial e isso envolve não apenas computadores e internet, mas também energias alternativas e impressão 3D, por exemplo. Isso modifica a maneira de as pessoas pensarem o futuro. “A inteligência biológica não evoluiu. Temos o mesmo ‘hardware’ que o primeiro ser humano, enquanto a tecnológica está avançando radicalmente. Ou seja, estamos parados e a tecnologia está crescendo” diz Dhaval Chadha.
O reflexo disso pode ser visto no mundo dos negócios, porque os avanços impactam como as empresas alocam recursos, contratam funcionários e planejam o futuro. “Todas as companhias usam tecnologia e cada vez usarão mais.
As grandes e as startups têm que entender isso, caso contrário, não vão dar conta da concorrência. A web só tem 6.500 dias e, antes disso, programadores, designers para web e profissionais de Marketing digital não tinham trabalho. Nos próximos 6.500 dias, eles terão que se reinventar, porque não sabemos o que virá”, prevê.
Se tudo que as pessoas conhecem hoje terá que ser reinventado de maneira rápida, a forma como elas pensam também precisará ser diferente. Nesse cenário, a criatividade passa a ser uma capacidade muito valorizada. “A criatividade tem a ver com empatia, emoção e humor, com o lado esquerdo do cérebro. Agora, temos que usar os dois lados.
O profissional do futuro será assim, mas não estamos preparando para essa realidade. Estima-se que o aluno do ensino médio que se forma nos Estados Unidos atualmente mudará de carreira cinco vezes ao longo da vida e três delas ainda não existem”, destaca.
Aberta e do bem
O modelo hierárquico e centralizado de gestão também está sendo desafiado, porque não está alinhado aos valores das novas gerações e é pouco sustentável. Na chamada era da informação, é possível cria mais valor com a descentralização.
“Um dado muito curioso diz que existem hoje 70 pessoas para cada empresa e, daqui a 10 anos, a proporção será de 10 para cada uma, ou seja, sete vezes a mais. O peer to peer (P2P) está definindo muitos novos negócios”, afirma um dos fundadores da Cria.
As companhias grandes e hierárquicas terão que mudar, pois o futuro é das empresas pequenas e ágeis, num cenário mais aberto e de uso compartilhado. “A maior rede de hotéis no mundo é a Airbnb, que nada mais é do que qualquer pessoa alugando quarto para outra pessoa.
Um outro exemplo é a Getaround. O dono de um carro utiliza uma média de 7% do tempo de vida do seu veículo. Nos outros 93%, ele não está sendo usado, então, é possível alugá-lo. É um modelo totalmente novo, porque todo automóvel fabricado passa a ser usado 100% do tempo”, compara.
Outro ponto é que não existirá organização bem-sucedida se não houver recursos naturais suficientes e cidadãos saudáveis. Assim, as marcas terão que contribuir para isso. “Imagina um sistema muito simples em que só existam A e B e eles são interdependentes. A só existe se B existe e vice-versa. Se eu mato um, o outro também morre.
O fato é que estamos vivendo num sistema semelhante, mas de complexidade muito maior. As empresas que não estiverem contribuindo não sobreviverão, porque as pessoas vão perceber. O futuro será de negócios do bem e isso será mais lucrativo para as companhias”, comenta.
Mundo digitalSe o mundo está se transformando, as escolas continuam a preparar alunos para um contexto linear, segmentado, repetitivo e previsível, como numa linha de montagem. “O que de fato está acontecendo é que estamos vivendo uma mudança de era.
As pessoas foram educadas dentro de um sistema industrial e respondem agora num digital. E se o software começa a rodar num hardware que não está muito adequado, ele vai dar problema”, avalia Tiago Mattos, Fundador da Perestroika, escola de atividades criativas.
Num cenário conectado, não-linear e imprevisível, a criatividade é um dos “softwares” a serem usados em novos negócios. “Ela emerge quando temos um pouco de caos e um pouco de ordem. São as organizações ‘caórdicas’ que tornam possível o aparecimento da criatividade. A maioria das empresas acaba indo para os extremos: ou controla demais ou descontrola totalmente”, diz.
A montadora norte-americana Local Motors é um exemplo. A empresa faz carros específicos para cada cidade e usa sua plataforma para pedir orientações da comunidade e receber sugestão dos designers. O veículo é montado numa pequena fábrica na região para gerar emprego local, produzir menos lixo e usar combustível local.
No final, quem monta o carro é o próprio cliente com a supervisão dos engenheiros e, assim, acaba tendo um apego diferente por ele. “Acho que a Local Motors é um excelente case de criatividade, sendo disruptiva do ponto de vista do modelo de negócio.
Todos que estão começando a ver o mundo de maneira diferente podem dizer que não querem mais trabalhar com base nos valores da Revolução Industrial. É possível dizer ‘eu quero fazer negócios mais tecnológicos, mais criativos, mais abertos e mais do bem’”, afirma Tiago Mattos.
As empresas utilizarão mais e mais tecnologia no seu dia a dia, não poderão focar apenas no lucro e terão que investir em criatividade e inovação. Em quatro palavras, o futuro será tecnológico, criativo, aberto e do bem.
Durante muitos anos, as companhias conduziram suas atividades da mesma forma, porque o cenário era previsível. Não era necessária muita inovação para criar uma empresa em um mercado tradicional. A situação muda quando um negócio que não existia antes, como um serviço de busca na web, surge e passa a fazer parte do cotidiano das pessoas.
Mas até mesmo um Google precisa estar sempre se reinventando. Por isso, tem investido tanto em óculos inteligentes como em carros autônomos. O que inicialmente soa incoerente para uma empresa que nasceu e se desenvolveu com serviços web faz todo o sentido dentro da nova dinâmica dos negócios.
Um exemplo de ruptura aconteceu com a indústria da música com o lançamento do iPod em 2005. “A grande empresa como conhecemos hoje tende a desaparecer e só permanecerão aquelas com possibilidade de se reinventar. A Sony era a maior player e o iPod derrubou tudo.
A Apple pensou nas pessoas e em como elas querem interagir com as músicas”, comenta Dhaval Chadha, Cientista Social e um dos fundadores da Cria, empresa que desenvolve e implementa negócios de valor compartilhado, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Tecnologia e criatividade
A tecnologia avança de maneira exponencial e isso envolve não apenas computadores e internet, mas também energias alternativas e impressão 3D, por exemplo. Isso modifica a maneira de as pessoas pensarem o futuro. “A inteligência biológica não evoluiu. Temos o mesmo ‘hardware’ que o primeiro ser humano, enquanto a tecnológica está avançando radicalmente. Ou seja, estamos parados e a tecnologia está crescendo” diz Dhaval Chadha.
O reflexo disso pode ser visto no mundo dos negócios, porque os avanços impactam como as empresas alocam recursos, contratam funcionários e planejam o futuro. “Todas as companhias usam tecnologia e cada vez usarão mais.
As grandes e as startups têm que entender isso, caso contrário, não vão dar conta da concorrência. A web só tem 6.500 dias e, antes disso, programadores, designers para web e profissionais de Marketing digital não tinham trabalho. Nos próximos 6.500 dias, eles terão que se reinventar, porque não sabemos o que virá”, prevê.
Se tudo que as pessoas conhecem hoje terá que ser reinventado de maneira rápida, a forma como elas pensam também precisará ser diferente. Nesse cenário, a criatividade passa a ser uma capacidade muito valorizada. “A criatividade tem a ver com empatia, emoção e humor, com o lado esquerdo do cérebro. Agora, temos que usar os dois lados.
O profissional do futuro será assim, mas não estamos preparando para essa realidade. Estima-se que o aluno do ensino médio que se forma nos Estados Unidos atualmente mudará de carreira cinco vezes ao longo da vida e três delas ainda não existem”, destaca.
Aberta e do bem
O modelo hierárquico e centralizado de gestão também está sendo desafiado, porque não está alinhado aos valores das novas gerações e é pouco sustentável. Na chamada era da informação, é possível cria mais valor com a descentralização.
“Um dado muito curioso diz que existem hoje 70 pessoas para cada empresa e, daqui a 10 anos, a proporção será de 10 para cada uma, ou seja, sete vezes a mais. O peer to peer (P2P) está definindo muitos novos negócios”, afirma um dos fundadores da Cria.
As companhias grandes e hierárquicas terão que mudar, pois o futuro é das empresas pequenas e ágeis, num cenário mais aberto e de uso compartilhado. “A maior rede de hotéis no mundo é a Airbnb, que nada mais é do que qualquer pessoa alugando quarto para outra pessoa.
Um outro exemplo é a Getaround. O dono de um carro utiliza uma média de 7% do tempo de vida do seu veículo. Nos outros 93%, ele não está sendo usado, então, é possível alugá-lo. É um modelo totalmente novo, porque todo automóvel fabricado passa a ser usado 100% do tempo”, compara.
Outro ponto é que não existirá organização bem-sucedida se não houver recursos naturais suficientes e cidadãos saudáveis. Assim, as marcas terão que contribuir para isso. “Imagina um sistema muito simples em que só existam A e B e eles são interdependentes. A só existe se B existe e vice-versa. Se eu mato um, o outro também morre.
O fato é que estamos vivendo num sistema semelhante, mas de complexidade muito maior. As empresas que não estiverem contribuindo não sobreviverão, porque as pessoas vão perceber. O futuro será de negócios do bem e isso será mais lucrativo para as companhias”, comenta.
Mundo digitalSe o mundo está se transformando, as escolas continuam a preparar alunos para um contexto linear, segmentado, repetitivo e previsível, como numa linha de montagem. “O que de fato está acontecendo é que estamos vivendo uma mudança de era.
As pessoas foram educadas dentro de um sistema industrial e respondem agora num digital. E se o software começa a rodar num hardware que não está muito adequado, ele vai dar problema”, avalia Tiago Mattos, Fundador da Perestroika, escola de atividades criativas.
Num cenário conectado, não-linear e imprevisível, a criatividade é um dos “softwares” a serem usados em novos negócios. “Ela emerge quando temos um pouco de caos e um pouco de ordem. São as organizações ‘caórdicas’ que tornam possível o aparecimento da criatividade. A maioria das empresas acaba indo para os extremos: ou controla demais ou descontrola totalmente”, diz.
A montadora norte-americana Local Motors é um exemplo. A empresa faz carros específicos para cada cidade e usa sua plataforma para pedir orientações da comunidade e receber sugestão dos designers. O veículo é montado numa pequena fábrica na região para gerar emprego local, produzir menos lixo e usar combustível local.
No final, quem monta o carro é o próprio cliente com a supervisão dos engenheiros e, assim, acaba tendo um apego diferente por ele. “Acho que a Local Motors é um excelente case de criatividade, sendo disruptiva do ponto de vista do modelo de negócio.
Todos que estão começando a ver o mundo de maneira diferente podem dizer que não querem mais trabalhar com base nos valores da Revolução Industrial. É possível dizer ‘eu quero fazer negócios mais tecnológicos, mais criativos, mais abertos e mais do bem’”, afirma Tiago Mattos.