Pesquisa recém-publicada envolveu milhares de universitários nos EUA; correlação pode ter raiz em 'traço de impulsividade'.
Por BBC
Postado em 07 de julho de 2019 às 20h00m
Postado em 07 de julho de 2019 às 20h00m
Uma pesquisa com milhares de universitários americanos mostrou que aqueles que usavam o celular excessivamente também tinham maior propensão a ter mais parceiros sexuais, problemas com bebidas, notas mais baixas, além de ansiedade e depressão.
O estudo, conduzido por pesquisadores das universidades de Chicago, Cambridge e Minnesota, envolveu mais de 3.400 estudantes. Psiquiatras que não fazem parte da equipe mas avaliaram a publicação consideraram seus resultados "preocupantes".
O objetivo da pesquisa, publicada no periódico Journal of Behavioral Addictions, era avaliar a saúde mental dos estudantes e o impacto dos celulares no bem-estar.
Para estabelecer se o uso do telefone celular era excessivo, os alunos precisaram responder, entre outras questões:
- Você tem problemas para se concentrar na aula ou no trabalho devido ao uso do smartphone?
- Sente-se irritado ou impaciente sem o seu celular?
- Você acha que a quantidade de tempo que você passa nele aumentou ao longo do tempo?
- Você está sofrendo consequências físicas de uso excessivo do celular, como tontura ou visão turva?
Um em cada cinco alunos respondeu sim a uma quantidade suficiente de perguntas para considerar excessivo o uso do celular, sendo mais de 60% do sexo feminino.
'Negligenciando relacionamentos normais'
O estudo constatou que a proporção de estudantes que relataram dois ou mais parceiros sexuais nos últimos 12 meses foi significativamente maior entre aqueles que também relataram o uso excessivo de telefones celulares — 37,4% em comparação com 27,2% no grupo daqueles que demonstraram não ter problemas no uso.
Uma quantidade de seis ou mais parceiros sexuais chegou a ser duas vezes maior entre aqueles que disseram usar demais seus smartphones.
É difícil estabelecer a relação de causalidade e os motivos devem ser de natureza diversa, diz Sam Chamberlain, um dos autores da pesquisa e psiquiatra-consultor da Universidade de Cambridge.
"Poderia ser que as pessoas estão usando mais os celulares para marcar encontros através de aplicativos, mas elas também podem estar negligenciando relacionamentos mais normais por causa do uso excessivo de seus telefones", sugere.
"A descoberta mais significativa foi que as pessoas que relataram uso problemático de seus telefones também tinham maior probabilidade de ter um traço de impulsividade, e isso também pode ter um papel no número de parceiros sexuais que elas têm".
"Se isso fosse saudável, esperaríamos uma melhor autoestima e menos problemas de saúde mental, mas a situação se mostrou o oposto disso", acrescentou.
Correlação entre excesso de celular e de álcool
Os pesquisadores também identificaram que o consumo excessivo de álcool foi significativamente maior naqueles que relataram uso problemático de smartphones. Mas eles não encontraram nenhuma ligação significativa com qualquer outra forma de abuso ou dependência de substâncias.
"É fácil pensar no uso problemático de celulares como um vício, mas, se fosse assim tão simples, esperaríamos que ele fosse associado a uma ampla gama de abuso de substâncias, especialmente em uma amostra tão grande. Mas esse não parece ser o caso", completa Chamberlain.
Alguns especialistas sugerem que o jogo excessivo ou "distúrbio de games", como agora é classificado pela Organização Mundial da Saúde, inclua também outras telas, como a de celulares.
Estudos anteriores já apontaram uma ligação entre o uso excessivo de celulares e menor desempenho acadêmico — o que também foi encontrado neste novo estudo.
"Embora o efeito do uso problemático de smartphones nas notas tenha sido relativamente pequeno, vale a pena notar que mesmo um pequeno impacto negativo pode ter um efeito profundo no desempenho acadêmico de um indivíduo, e depois em suas oportunidades de emprego", diz Jon Grant, da Universidade de Chicago.
Impacto na saúde mental?
Embora haja um número crescente de estudos sobre o uso de celulares e suas consequências, nenhum deles provou definitivamente que o consumo excessivo do aparelho causa problemas de saúde mental.
Chamberlain cobra mais recursos para pesquisas aprofundadas sobre o tema.
"Precisamos de estudos que acompanhem os jovens durante um longo período de tempo", explica.
Abigael San, membro da Sociedade Britânica de Psicologia, avaliou o estudo recém-publicado: "É preocupante e estou feliz que este trabalho esteja sendo feito".
"Os efeitos são muito reais e são problemas discutidos em sessões de terapia. Muitas vezes as pessoas não vêm com um problema de smartphone — em vez disso, é um problema de saúde mental ou um relacionamento rompido —, mas o uso do celular acaba mostrando desempenhar um papel."