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sábado, 17 de maio de 2014

Manifestações levam Fiat a transformar sua plataforma de comunicação


"Rua, que era apenas o mote da ação de Marketing para os jogos esportivos no Brasil, vira plataforma da marca da montadora. Resultados mudam postura da empresa."




*#* Por Renata Leite, do Mundo do Marketing | 15/05/2014










A apropriação da música tema do comercial de TV da Fiat para a Copa das Confederações pelos manifestantes, em junho do ano passado, deixou executivos da montadora de cabelo em pé. E não foi de emoção por ver centenas de milhares de pessoas cantando o “vem pra rua” lançado pela marca quatro semanas antes do início dos protestos. 

O temor por atritos com o governo federal, num setor altamente influenciado por incentivos, parece, no entanto, ser menos significativo do que os resultados. As manifestações não conseguiram gerar mudanças consideráveis no Brasil, mas revolucionaram a comunicação da montadora. Desde então, a Fiat não abandonou mais a rua como tema e a tornou sua plataforma de marca.

Nesta quinta-feira, dia 15, a companhia lança um novo anúncio televisivo musicado, com o mote de “a nossa festa é na rua” – dessa vez para a Copa do Mundo. Falcão, do Rappa, que cantou na ação do ano passado, dá lugar a Herbert Vianna e Negra Li na produção. As referências não param por aí. 

Recentemente, a montadora já havia colocado na internet quatro vídeos irreverentes de animação com o mote “Vacilão, na rua não”, em tom educativo. Até o fim do ano, oito deles estarão no ar.

A empresa, que costumava focar em produtos nas suas ações de Marketing, adota agora uma plataforma institucional. “A postura da Fiat é outra depois das manifestações. A marca começa a trabalhar aspectos que vão além de sua responsabilidade, como a educação no trânsito. 

Não se trata mais de uma campanha para a Copa, é uma plataforma de marca”, afirma Tiago Lara, Diretor de Planejamento na Leo Burnett Tailor Made, que participou nesta quarta-feira do 5º Encontro Internacional Coppead de Comportamento do Consumidor, no Rio de Janeiro.

Excluídos da Copa
Tudo começou durante a Copa das Confederações, quando a Fiat, como não patrocinadora, estava proibida de atuar num raio de dois quilômetros dos estádios. Não podia mencionar o evento ou a Seleção Brasileira. 


A marca mandou, então, pesquisadores para conversar com os brasileiros e, embora tenha notado um entusiasmo com o fato de as competições esportivas acontecerem no país, identificou um descontentamento em relação à dificuldade de se comprar ingressos para partidas, por conta do preço.

A companhia notou um sentimento de exclusão por parte da população. “A Fiat estava tão excluída da Copa quanto milhões de brasileiros. Se tivéssemos parado para fazer a campanha no primeiro insight, criaríamos o mesmo que tantas outras marcas: uma ação contemplativa, do tipo “vai Brasil”, falando de festa e alegria. 

O mote, no entanto, se voltou para: se vocês não estão na Copa, vem com a gente que a gente também não está. A Fiat está no mesmo lugar que vocês: na rua”, explica Tiago Lara.

Hoje, o vídeo com o Falcão cantando a música tem 19 milhões de views e é o mais assistido do YouTube na categoria automóveis. A marca teve ainda 38% de associação com a Copa das Confederações, embora não tenha investido recursos no evento. Apareceu na frente de concorrentes que eram patrocinadores oficiais, como Hyundai e Kia Motors. 

A montadora ainda registrou o maior crescimento em vendas se comparado aos três principais adversários no mercado e o “vem para a rua” foi mencionado mais de três milhões de vezes nas redes sociais.

Grito da Fiat e das ruas
O momento inicial, no entanto, foi de tensão. No dia seguinte à primeira grande manifestação de junho, a montadora enviou representantes para protestos nas capitais Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Belo Horizonte. Os executivos se perguntavam se era preciso tirar o anúncio do ar ou modificá-lo, mas nada disso foi feito. 


“Ficou claro que o grito não era mais da Fiat. Não havia motivo para tirar o anúncio do ar. A marca não tinha mais autoridade para falar”, pontua Tiago Lara.
A expectativa geral no país é de que os protestos voltem a ocorrer com mais frequência durante a realização da Copa do Mundo. A perspectiva, no entanto, não assusta a Fiat. 

A companhia continuará se posicionando como a marca das ruas. “A Fiat é uma montadora popular, que dá acesso, que traz tecnologias novas para a categoria de base. Este conjunto fez com que tivéssemos um link muito maior com a população. A gente entendeu que a Fiat estava no lugar que ela sempre quis estar. Ela estava na rua, do lado das pessoas”, diz o Diretor de Planejamento da agência.

O risco de a companhia ser taxada de oportunista, desta vez, também foi descartado, à medida que o mote das ruas foi mantido durante todo o tempo de intervalo entre a Copa das Confederações e o mundial. De qualquer forma, para minimizar as possibilidades de problemas, as criações na área de comunicação vêm sendo acompanhadas de perto pelo CEO e pela diretoria globais da Fiat e não apenas pela equipe local.

Flechas e alvos
A empresa, inicialmente, não sabia as proporções que a apropriação da música lançada por eles iria tomar. Embora não fosse completamente cômoda, a situação da Fiat, ainda assim, era muito melhor do que a de outras marcas, que passaram a ser sistematicamente atacadas pelos manifestantes. 


Por ter lido, entendido e traduzido um sentimento dos brasileiros, a montadora se tornou flecha, enquanto outras companhias viraram alvo.
Empresas como a FIFA, a TV Globo e instituições bancárias ocuparam uma posição um tanto desconfortável durante os protestos. 

A população questionava prioritariamente as relações dessas organizações com o governo, o poder econômico delas e suas influências institucionais na sociedade. Tanto nas apropriações, como nas críticas, a população lançou mão das marcas como um instrumento simbólico para uma situação mais abrangente, como mostrou um estudo realizado pela Coppead, UFRJ, e apresentado durante o 5º Encontro Internacional.

O levantamento evidenciou uma fragmentação dentro das manifestações, por elas serem formadas por grupos com interesse e formação distintos. Nos protestos de junho, os próprios participantes relataram aos entrevistadores da Coppead existirem perfis mais ou menos politizados, engajados e voltados para ações radicais. 

Essa pluralidade de características se assemelha à realidade da própria população em geral e explicaria a apropriação de marcas para serem usadas na comunicação.
A Fiat não foi a única a ir parar nas ruas, em gritos e cartazes. 

Manifestantes também se apoderaram de “o gigante acordou”, que havia sido tema de um anúncio da Johnnie Walker, e levavam dizeres como “jogaram Mentos na geração Coca-Cola”. “Os profissionais de Marketing estão sempre trabalhando de modo a se comunicarem com todo mundo, numa sociedade extremamente fragmentada. 

Isso os leva a criarem um repertório capaz de falar com grupos muito heterogêneos, o que explica as apropriações por manifestantes”, resume Maribel Suarez, Professora de Marketing e Comportamento do Consumidor do Coppead, UFRJ, em entrevista ao Mundo do Marketing.

Assista a um dos vídeos da ação "Vacilão na rua não", da Fiat:


Dia negro para a Lojas Americanas


"Justiça dá duas decisões contrárias à empresa. Marca pode ser despejada de shopping e ter que pagar R$ 2 milhões por revistar bolsas e sacolas de funcionários das lojas."




*#* Por Renata Leite, do Mundo do Marketing | 16/05/2014



Esta sexta-feira não foi nada boa para a Lojas Americanas. A Justiça deu duas decisões contrárias à empresa em processos movidos contra ela. A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) a condenou por ter descumprido o contrato de aluguel com o Barra Shopping, no Rio de Janeiro, de onde a marca pode ser despejada. 

Dentro da loja, a companhia mantém terminais que permitem a clientes finalizarem a compra pela internet, com faturamento em outro CNPJ. Dessa forma, as vendas não entram no cálculo do aluguel.

A rede Multiplan moveu a ação de despejo contra a empresa, mas não havia conseguido decisão favorável em primeira instância. No entendimento inicial, a dona do shopping havia consentido com a prática ao renovar o contrato de aluguel. A Multiplan recorreu então ao STJ, que condenou a Lojas Americanas.

A varejista também teve decisão desfavorável da Primeira Turma do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 10ª Região, em ação civil pública movida pelo Ministério Público do Trabalho. A companhia foi condenada em R$ 2 milhões e proibida de revistar funcionários em todas as lojas do país

O tribunal aceitou o recurso movido melo MPT contra a sentença da 18ª Vara do Trabalho de Brasília, que havia considerado que sem contato físico e abusos do empregador a revista era permitida.  O descumprimento da nova decisão implica em multa diária de R$ 10 mil.
Lojas Americanas, Justiça