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quarta-feira, 1 de maio de 2019

Nova essência do Facebook, privacidade pode ser melhor para a empresa do que para o usuário

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Novidades da rede social, que focam em privacidade e criptografia, podem tirar da empresa a responsabilidade de muito conteúdo que circula na plataforma.
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Por Thiago Lavado, G1 — San José, Estados Unidos - o jornalista viajou a convite do Facebook 

Postado em 01 de maio de 2019 às 15h15m 
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Mark Zuckerberg no evento anual do Facebook na Califórnia — Foto: Stephen Lam/Reuters

O Facebook, que até pouco tempo tinha como objetivo conectar as pessoas, agora quer ser um pivô da privacidade. Foi esse o tema que dominou não só a apresentação do presidente da rede social, Mark Zuckerberg, mas de todos os executivos que vieram depois dele no palco da F8, a conferência da empresa voltada para desenvolvedores, que começou nesta terça-feira (30).

A mudança já havia sido anunciada por Zuckerberg no início do ano e agora toma de fato os produtos da empresa. O próprio Facebook mudou: deixou de ser azul e passa a focar em eventos e grupos.

É a quinta maior mudança nos 15 anos da rede social, que deixa para trás o foco no famoso "Feed de Notícias".

Segundo o próprio Zuckerberg, a essência agora são as mensagens privadas, os pequenos grupos e os stories. Em um dos primeiros pontos da apresentação, ele afirmou que "o futuro é privado". Algo que seria repetido, com outras palavras, durante todo o evento.
Conforme o mundo se torna maior e mais conectado, precisamos do nosso senso de privacidade mais do que nunca, disse Zuckerberg, que também reconheceu as falhas do Facebook nos últimos anos.
Eu acredito que uma plataforma social privada vai ser mais importante nas nossas vidas do que as praças públicas digitais, completou.
Embora a empresa tenha anunciado mudanças no produto, o negócio do Facebook não mudou. No próximo trimestre, vai continuar mostrando aos investidores o faturamento de publicidade e o rendimento por usuário.

Na realidade, as palavras publicidade e anunciantes, tão importantes a uma empresa que ganha dinheiro vendendo propaganda de maneira segmentada, não foram nem ditas durante a apresentação de Zuckerberg. 
Mark Zuckerberg apresentou as bases do "novo Facebook", como interações privadas e criptografia. — Foto: Tony Avelar/AP 
Mark Zuckerberg apresentou as bases do "novo Facebook", como interações privadas e criptografia. — Foto: Tony Avelar/AP

Essa disparidade está explícita no "Dating", o mais novo produto do grupo lançado no Brasil. A rede social espera que digamos quem de nossos amigos é nosso crush secreto, ao mesmo tempo em que nos promete um ambiente de privacidade garantida.

As mudanças apresentadas — desde o redesenho do aplicativo do Facebook até a integração dos aplicativos de mensagem — são dois lados de uma mesma moeda.

De um lado, a empresa corre atrás dos usuários e tenta trazer de volta uma audiência que está insatisfeita com cada vez mais denúncias de vazamento de dados, de senhas salvas de maneira inapropriada, de boatos.

Do outro, tenta justamente deixar para trás a vida pública, focando nos grupos e nas mensagens, com tudo criptografado — uma gigante caixa preta em que o próprio Facebook pode não saber o que circula.
Um certo lado da privacidade já conhecemos bem: o WhatsApp. Criptografado de ponta-a-ponta desde 2012, o app já teve momentos marcantes nos tribunais brasileiros justamente por essa característica. Quem não se lembra da época em que era "normal" algum juiz ordenar o bloqueio do WhatsApp por se recusar a fornecer informações a investigações?

O Facebook sempre alegou que as informações não poderiam ser obtidas porque circulavam de maneira privada e criptografada, fora do controle da empresa.
Nova cara da timeline do Facebook — Foto: Divulgação 
Nova cara da timeline do Facebook — Foto: Divulgação

Algo semelhante aconteceu no ano passado, durante as eleições de 2018, com os boatos e notícias falsas que correram no aplicativo. O Facebook disse que não podia retirar links falsos do ar, porque as informações eram criptografadas e não tinha acesso ao conteúdo das conversas.

A Índia é um país que também conhece bem esse problema: lá, boatos do WhatsApp já levaram até a linchamentos e o Facebook teve que limitar o compartilhamento de mensagens para resolver o problema.

A aposta que o Facebook faz em privacidade é uma mudança enorme nos produtos da empresa e também na maneira com que nos comunicamos — o próprio Zuckerberg disse que para implementar isso será preciso mudar como a companhia funciona.

Resta saber se gostaremos do resultado dessa mudança e se ela trará mais privacidade para nós ou menos dores de cabeça para os executivos e acionistas da rede social.