À multidão ela disse que a OneCoin estava a caminho de se tornar a maior criptomoeda do mundo, permitindo que "todo mundo possa realizar pagamentos em qualquer lugar".
A OneCoin, Ruja disse ela ao público em Wembley, seria a "assassina da Bitcoin". "Em dois anos, ninguém vai mais falar de Bitcoins", ela gritou.
Ruja Ignatova se autoproclamava "cripto-rainha" e criadora de uma criptomoeda rival da Bitcoin. Até que, dois anos atrás, ela simplesmente desapareceu.
Antes disso, ela convenceu pessoas de todo o mundo a investir suas economias na OneCoin, na expectativa de altos retornos.
Documentos sigilosos a que a BBC teve acesso mostram que britânicos gastaram quase 30 milhões de libras (R$ 161 milhões) em OneCoin nos primeiros seis meses de 2016. Há também registro de investimentos vindos de países como Paquistão, Noruega, Canadá, Iêmen e também do Brasil.
Mas esses investidores não sabiam de algo muito importante.
Primeiro, é preciso explicar como funciona uma criptomoeda, algo notoriamente difícil — uma simples busca online resulta em centenas de descrições diferentes. Mas o princípio básico é este: o dinheiro só tem valor, porque acreditamos em seu valor e confiamos nele. Por muito tempo, foram criadas versões independentes de dinheiro, mas como não havia quem confiasse no valor delas, fracassaram.
A Bitcoin causou empolgação porque resolveu esse problema: ela depende de uma base de dados chamada blockchain e, a cada vez que uma Bitcoin troca de mãos, o registro disso vai para a blockchain de cada usuário, embora ninguém esteja no comando da moeda. Isso evita que ela seja forjada, hackeada ou aplicada duplicadamente.
Ainda está em dúvida? Não se preocupe. O ponto crucial é que a blockchain é a base de tudo — para os fãs de criptomoedas, seu potencial de ser independente de bancos centrais e moedas nacionais era revolucionário e potencialmente enriquecedor para quem entrasse rápido no mercado.
Ruja conseguiu vender a mesma ideia para muita gente. Mas seus investidores desconheciam um detalhe importante.
Em outubro de 2016, quatro meses depois do "show" em Wembley, um especialista em blockchain chamado Bjorn Bjercke foi contratado por uma agência de recrutamento para cargo curioso: gerente técnico de uma start-up de criptomoedas da Bulgária, com direito a apartamento, carro e salário anual equivalente a R$ 1,3 milhão.
"Eu pensei: que trabalho é esse? O que vou ter que fazer?", lembra-se Bjercke. "E me disseram: 'a primeira coisa é que vão precisar de uma blockchain, que eles ainda não têm'."
Bjercke ficou surpreso com uma empresa de criptomoedas — que descobriria ser a OneCoin — que sequer tinha blockchain naquele momento. Ele recusou a oferta de emprego.
'Oportunidade imperdível'
Na mesma época, a escocesa Jen McAdam recebeu de um amigo uma "oportunidade imperdível de investimento". Diante de seu computador, ela clicou em um link e assistiu a um seminário online da OneCoin.
Durante uma hora, ouviu depoimentos entusiasmados sobre a nova criptomoeda e suas oportunidades de enriquecimento. "Você tem tanta sorte de estar assistindo a este seminário agora", escutou. "Você está entrando em uma fase inicial e vai ser como a Bitcoin. Vai ser ainda maior."
O webinar exaltava o currículo de Ruja Ignatova: Universidade de Oxford, um PhD, experiência em grandes empresas. O vídeo mostrava ainda a participação em uma conferência da revista The Economist. Foi aí que McAdam se convenceu. "O poder que aquela mulher tinha! Senti orgulho por ela."
McAdam decidiu investir mil libras. E foi fácil: comprou tokens da OneCoin que se convertiam em moedas e iam para a conta corrente dela. Em breve, ela ouviu, essas moedas virariam euros ou libras. Mil libras lhe pareceram pouco. Pouco depois, McAdam comprou um novo pacote, investindo um total de 10 mil libras. Ela ainda convenceu amigos e parentes a investirem um total de 250 mil libras. Todos acompanhavam entusiasmados o valor crescente da OneCoin no site da empresa, enquanto faziam planos sobre como gastar seus lucros vindouros.
No fim daquele ano, porém, McAdam foi contactada por um estranho na internet. Ele se dizia um bom samaritano que havia estudado a OneCoin e queria alertar os investidores.
Timothy Curry, um entusiasta de criptomoedas, temia pela reputação de todo o setor por causa da OneCoin.
Curry passou a enviar informações a McAdam e apresentou-a a Bjorn Bjercke, que a alertou sobre a ausência de blockchain. Ela passou a fazer perguntas à OneCoin, que finalmente a respondeu em uma mensagem de voz em abril de 2017: "Ok, Jen, eles não querem revelar essa informação, caso algo dê errado onde a blockchain está sendo guardada. (...) Nossa tecnologia blockchain é um servidor SQL com uma base de dados."
"Eu pensei, 'o quê?' Minhas pernas literalmente fraquejaram, e caí no chão."
Àquela altura, McAdam havia aprendido com Curry e Bjercke que um servidor SQL não poderia abrigar uma criptomoeda genuína, uma vez que poderia ser facilmente adulterado por qualquer pessoa.
Ela concluiu que o aumento de valor da OneCoin não significava nada: eram apenas números digitados por um funcionário da empresa na qual ela e outras pessoas conhecidas haviam investido suas economias.
Ruja desaparece
Ruja, porém, continuava viajando o mundo para vender sua visão — e lotando auditórios de Macau a Dubai e Cingapura. A OneCoin continuava a crescer rapidamente, enquanto Ruja gastava sua recém-adquirida fortuna: comprou propriedades multimilionárias na capital da Bulgária, Sófia, e no resort de Sozopol e realizou festas em seu luxuoso iate Davina.
Só que os problemas começavam a aparecer. A promessa de retorno dos investimentos era constantemente adiada, e investidores começaram a se preocupar. Os temores cresceram quando Ruja simplesmente não apareceu a uma conferência de investidores da OneCoin realizada em outubro de 2017 em Lisboa.
Em seu escritório em Sófia, ninguém sabia de seu paradeiro. Ela havia desaparecido. Surgiu até o boato de que ela teria sido sequestrada ou morta a mando de grandes bancos, supostamente por medo da revolução das criptomoedas.
Na verdade, ela estava escondida. Registros do FBI apresentados à Justiça no início deste ano indicam que, em 25 de outubro de 2017, duas semanas antes do evento em Lisboa, ela estava a bordo de um avião de Sófia para Atenas. De lá, desapareceu do radar. E foi a última vez que se viu ou ouviu falar de Ruja.
Entra o marketing multinível
Igor Alberts usa roupas extravagantes pretas e douradas, todas da Dolce and Gabbana. Ele e a mulher, Andreea Cimbala, vivem em uma mansão nos arredores de Amsterdã com seus nomes inscritos no portão e uma Maserati e um Aston Martin na garagem.
Alberts vem de uma juventude pobre. Até que começou a ganhar uma fortuna com o chamado marketing multinível. Ele diz ter faturado 100 milhões de libras (R$ 536 milhões) em 30 anos.
O marketing multinível funciona assim: eu pago R$ 100 para vender vitaminas diretamente ao meu consumidor. Vendo uma caixa a meus amigos Juliana e Felipe, e recruto-os para vender também. E ganho uma porcentagem em cima da venda deles. Juliana e Felipe recrutam mais dois vendedores, e assim por diante. E eu ganho uma porcentagem em cima de todos.
Não é ilegal. Mas é polêmico, porque apenas um pequeno grupo de pessoas ganha muito dinheiro. É também um modelo conhecido por exagerar promessas de lucros e impor altas metas de venda. Na ausência de vendas, porém, quando o dinheiro começa a vir do recrutamento de outras pessoas, torna-se ilegal e ganha outro nome: esquema de pirâmide.
Em maio de 2015, já bem-sucedido no marketing multinível, Alberts foi convidado para um evento da OneCoin em Dubai e se impressionou com os lucros dos investidores e com a própria Ruja. Ele voltou de lá com uma missão: instruiu seus vendedores multinível a parar tudo e passar a vender OneCoin. "Juntamos as equipes e passamos a trabalhar como loucos", ele conta. "No primeiro mês, tiramos 90 mil libras do nada. Bang!"
Ruja logo reconheceu que as cadeias de marketing multinível eram perfeitas para vender sua falsa moeda, segundo investigações do FBI. Este acabou sendo o segredo do sucesso da OneCoin — não era apenas uma falsa moeda, mas também um esquema de pirâmide, que tinha uma criptomoeda como produto. E rapidamente se espalhou.
Não demorou para que Igor Alberts estivesse ganhando 1 milhão de libras por mês com a OneCoin, quantia que subiu para 2 milhões. 60% era pago em dinheiro e o resto, em OneCoin. Eles também investiram dinheiro próprio na moeda, convencidos de que este se multiplicaria e que ficariam "mais ricos que o Bill Gates".
Depois que Ruja faltou ao evento em Lisboa, Igor Alberts, assim como Jen McAdam, pediu provas da existência da blockchain da OneCoin. Sem recebê-las, abandonou o modelo em dezembro de 2017.
A reportagem pergunta a ele se sentiu-se culpado por ter vendido a tanta gente uma moeda que nunca existiu e por ter faturado tanto com ela.
"Sinto responsabilidade, não culpa", ele responde. "Você não pode ser culpado por acreditar em algo. Não tinha ideia que poderia ser falso."
Ele diz, ainda, que investiu milhões de dólares próprios comprando OneCoin.
Jen McAdam, por sua vez, se sente culpada por ter apresentado a criptomoeda a pessoas conhecidas e por ter investido na OneCoin todo o dinheiro herdado de seu pai, um mineiro que passara a vida trabalhando em condições horríveis.
Seguindo o caminho do dinheiro
É difícil quantificar quanto dinheiro foi, no total, investido na OneCoin. Documentos vazados à BBC indicam cerca de 4 bilhões de libras (R$ 21 bilhões) entre agosto de 2014 e março de 2017. Algumas pessoas disseram à reportagem que essa cifra pode ter alcançado 15 bilhões de libras.
A famosa máxima diz "siga o dinheiro". Então, ao lado de Georgia Catt, produtora do podcast The Missing Cryptoqueen, a reportagem visitou Oliver Bullough, especialista no que ele chama de "Moneyland" — um obscuro mundo paralelo onde criminosos e super-ricos escondem suas fortunas.
O problema, diz ele, é que seguir o dinheiro não é tão fácil quanto parece, porque criminosos estruturam suas empresas e contas bancárias de modo a ocultar seus bens. "Esses bens continuam existindo e sendo usado para comprar influência política, casas e iates. Mas quando alguém tenta achá-los, seja um policial ou um jornalista, eles ficam invisíveis."
Não surpreende, portanto, que a estrutura corporativa da OneCoin seja incrivelmente complicada. Por exemplo: Ruja comprou um grande imóvel no centro de Sófia.
Tecnicamente, o imóvel pertence à empresa chamada One Property, que por sua vez pertencia à Risk Ltda. Essa Risk Ltda pertencia a Ruja, mas posteriormente foi transferida para um grupo panamenho não identificado, ao mesmo tempo em que era admnistrada por uma empresa chamada Peragon. A Peragon, enquanto isso, pertencia à Artefix, que estava no nome da mãe de Ruja, Veska. Até que, em 2017, a Artefix foi vendida para um homem desconhecido.
Tratando-se de um golpe bilionário, não é incomum que grupos obscuros estejam envolvidos. Diversas pessoas entrevistadas para esta reportagem mencionaram vínculos suspeitos e pessoas misteriosas, mas não tiveram coragem de citar nomes.
"Diante da quantidade de dinheiro que foi investida na OneCoin, é claro que há gente irritada e que faria de tudo para calar a boca de pessoas como eu", diz Bjorn Bjercke, que passou a divulgar publicamente que a OneCoin não tinha uma blockchain. Ele diz que sofreu ameaças de morte por isso. "Se soubesse o que iria passar, nunca teria falado nada. Teria virado as costas e ido embora."
Igor Alberts, do marketing multinível, também cita o envolvimento de "pessoas muito influentes", mas se recusa a dar detalhes. "Não posso, porque não quero arriscar minha vida."
O Departamento de Justiça dos EUA, por sua vez, afirma haver indícios de vínculos entre o irmão de Ruja, Konstantin Ignatov — que assumiu o controle da OneCoin quando Ruja desapareceu —, com "agentes importantes do crime organizado no Leste Europeu".
Dentro da 'família'
Em 6 de março de 2019, Konstantin Ignatov estava no aeroporto de Los Angeles esperando um voo para a Bulgária quando foi detido por agentes do FBI e indiciado por fraude. Os EUA também indiciaram Ruja, mesmo sem tê-la em custódia, por fraude e lavagem de dinheiro.
O incrível é que, mesmo depois disso, a OneCoin continuou ativa e recebendo investimentos. Por que os investidores continuavam a aportar dinheiro no negócio?
Muitos disseram à reportagem que entraram no negócio em busca das oportunidades de enriquecimento que haviam escutado sobre a Bitcoin. Também se disseram impressionados com o poder de persuasão de Ruja, seu currículo e o fato de ela ter estado na capa da revista Forbes.
O currículo dela é verdadeiro. A capa da Forbes, não. Era, na verdade, um golpe publicitário: um anúncio feito na Forbes Bulgária.
Além das promessas de riqueza, as pessoas eram atraídas também pela chance de ser parte da "família OneCoin", diz Jen McAdam. Ela foi incluída em um grupo de WhatsApp no qual um "líder" disseminava informações do quartel-general em Sófia. "Ele dizia que não acreditássemos em nada que ouvíssemos no 'mundo lá fora'", conta ela. "Os adeptos da Bitcoin eram 'haters'. Até o Google — 'não escute o Google', ele dizia."
Eileen Barker, professora da London School of Economics que passou anos estudando cultos messiânicos, vê semelhança entre eles e a OneCoin: a sensação passada aos participantes de que eles serão parte de algo maior que vai mudar o mundo — e, mesmo diante de qualquer evidência contrária, é muito difícil para os participantes admitirem que se enganaram.
"Quando as profecias fracassam, essa crença aumenta", diz a professora. "Sobretudo se você tiver investido algo, não só dinheiro como crença, reputação, inteligência. Você pensa, 'vou esperar um pouco mais'."
O dinheiro pode ter sido o empurrão inicial, mas a sensação de pertencimento e conquista é o que faz as pessoas ficarem, afirma Baker. "Nesse sentido, é como um culto."
Como criptomoedas são algo novo, as autoridades também demoraram a reagir. A FCA, agência reguladora financeira do Reino Unido, emitiu em setembro de 2016 um comunicado sobre a OneCoin, citando "preocupação com o risco que apresenta a consumidores britânicos".
Menos de um ano depois, o comunicado foi removido do site da FCA. A agência afirma que ele ficou muito tempo no ar, mas defensores da OneCoin usaram o exemplo para alegar que as autoridades britânicas haviam reconsiderado a OneCoin como um investimento legítimo.
"Se você achava que era uma empresa fraudulenta, então, imagine só, o alerta foi removido. Fim de jogo", afirmou um promotor de OneCoin no Canadá.
O fato de a OneCoin operar internacionalmente também criou dificuldades para autoridades. Em agosto deste ano, a polícia londrina iniciou uma investigação, mas deparou-se com o fato de que "empresas e indivíduos por trás da OneCoin estão fora da jurisdição britânica".
Com isso, até recentemente, o escritório da OneCoin continuava operante e recebendo investimentos.
Uma tragédia em Uganda
Na região de Ntangamo, em Uganda, a maioria da população vive da produção de banana, mandioca, batata doce ou feijão. Foi ali que o jovem Daniel Lienhardt, de 22 anos, economizou o equivalente a US$ 250 para comprar um pacote de OneCoin em 2016. Juntou suas economias com o dinheiro da venda de três cabras.
Daniel é um dos milhares de ugandenses que investiram em OneCoin — e ao lado de outras pessoas da África, do Oriente Médio e do subcontinente indiano, se tornaram cada vez mais importantes para a empresa, à medida que o número de investidores da Europa rareava.
Quem apresentou a OneCoin para Daniel foi sua amiga Prudence, uma enfermeira em uma favela de Campala, que tinha sido instruída por vendedores da criptomoeda a visitar agricultores ugandenses no auge de sua colheita, quando teriam dinheiro para investir.
Esses agricultores venderam tudo para participar da OneCoin, com consequências desastrosas.
"Alguns têm filhos que não vão mais à escola, que sequer têm onde dormir, que estão fugindo porque tomaram empréstimo no banco", diz Prudence. "Eu, de certa forma, também estou me escondendo. Não quero que as pessoas para quem eu apresentei a OneCoin me vejam. Elas acham que fiquei com o dinheiro delas, e podem me matar."
Ela parou de incentivar novos investimentos, mas nem todos fizeram o mesmo.
Um dos maiores escritórios da OneCoin em Campala fica junto a uma igreja. Há vídeos do pastor, conhecido como Bispo Fred, gritando "One Life" (Uma vida), ao que seu público responde: "OneCoin!". Ele é apontado como um dos principais promotores da criptomoeda em Uganda.
Assim como em outros países, o negócio se espalhou ali pelo boca a boca entre famílias e amigos. No caso de Daniel Lienhardt, sua família havia economizado o equivalente a R$ 16 mil para comprar uma loja que permitisse à mãe dele parar de trabalhar na agricultura. Quando Daniel soube da OneCoin, lhe pareceu uma alternativa melhor.
Daniel ainda não havia tido coragem de contar à mãe, que não fala inglês, que o dinheiro fora perdido. "É muito difícil. É muito difícil contar."
O paradeiro de Ruja
No fim de 2018, quando o podcast The Missing Cryptoqueen começou a ser pensado, ninguém sabia o que havia acontecido com Ruja. Foi só no começo de 2019 que se soube de sua ida a Atenas em outubro de 2017. E, mesmo assim, permanecia a pergunta: para onde ela foi em seguida?
Havia rumores, e muitos. Igor Roberts diz ter ouvido que ela tem passaportes russo e ucraniano e vive entre a Rússia e Dubai. Há relatos de que ela é protegida por pessoas poderosas em sua terra natal, a Bulgária, onde teria feito cirurgias plásticas para mudar sua aparência. Há quem diga que ela está em Londres, ou mesmo que esteja morta.
O investigador particular Alan McLean é especialista em encontrar pessoas desaparecidas. Ele sugeriu aos repórteres que investigassem o estilo de vida de Ruja, em vez da OneCoin.
Algumas semanas mais tarde, McLean contou ter ouvido de colegas detetives que Ruja fora vista em diversos restaurantes elegantes de Atenas — algo que não conseguimos confirmar. Pode ser um indício de que ela segue viva e que se sente à vontade para passear em uma capital europeia.
Outra pista aparece durante uma bizarra visita a um concurso de beleza da OneCoin em Bucareste (Romênia). Alguns presentes dizem que Ruja esteve lá, mas estaria irreconhecível por causa das supostas plásticas.
É possível que também estivesse com identidades falsas, uma vez que pode ser extraditada aos EUA tanto da Grécia quanto da Romênia.
Seguindo o conselho do investigador McLean, pesquisando na internet é possível descobrir pistas de Ruja na cidade alemã de Frankfurt — há registros de postagens online dela em endereços locais e antigos números de telefone. A reportagem descobriu, também, que Ruja teve uma filha em 2016, que poderia estar morando em Frankfurt, a mesma cidade onde o marido (ou ex-marido) dela mora e trabalha.
Uma fonte anônima confirma que ela passa muito tempo na cidade alemã, mas poucas pessoas se dispuseram a falar a respeito em Frankfurt.
Em 5 de novembro de 2019, o irmão de Ruja, Konstantin Ignatov, testemunhou à Justiça de Nova York no caso de um advogado acusado de lavar US$ 400 milhões do dinheiro que a OneCoin faturou nos EUA. Konstantin fechou um acordo com a Justiça, admitindo culpa em diversas acusações de fraude. Segundo pessoas presentes na audiência, Konstantin repetiu os mesmos argumentos de outros promotores da OneCoin: que críticos são "haters" que não devem ser levados a sério.
Sua irmã, ele disse, desapareceu por temer que alguém a denunciasse ao FBI.
A OneCoin nega irregularidades. Em um comunicado, a empresa disse à BBC: "a OneCoin, de modo verificável, preenche todos os critérios de uma criptomoeda" e que o podcast Missing Cryptoqueen "não vai apresentar nenhuma informação verdadeira nem pode ser considerado objetivo ou independente". "Nossos parceiros, consumidores e advogados estão, de modo bem-sucedido, rebatendo (as acusações) ao redor do mundo e temos certeza de que a visão de um novo sistema com base em uma 'revolução financeira' será estabelecida."