"Especialistas debatem os resultados do Estudo de Confiança Edelman – Trust Barometer 2012, em São Paulo. Levantamento mede a relação do público com empresas, governo, ONGs e mídia."
*//* Por Com:Atitude || 23/03/2012
Sob o ponto de vista global, o índice mundial de confiança caiu de 55% para 51%. Em 2011, o Brasil liderou o ranking com 80% de confiança. Porém, neste ano, despencou para a 12a posição ao registrar somente 51%, atrás de países como México, Argentina e Índia. O primeiro posto é ocupado pela China, que atingiu 76%.
Governo e ONGs caem
Após subir 46 pontos percentuais de 2009 para 2011, e chegar a 85% em nível de confiança no governo, em 2012, este número caiu para 32%. Em comparação ao ano passado, foi registrada queda de 31 pontos percentuais no nível de confiança das ONGs, hoje com 49%. As quedas menos bruscas ocorreram com as empresas e mídia, de 18 e 12 pontos percentuais, respectivamente, com 63% e 61% de confiança dos brasileiros. No entanto, estas instituições ainda estão acima da média mundial.
Para Yole Mendonça, a escolha do Brasil como país-sede da Copa do Mundo 2014 e Olimpíadas 2016, levou a um momento de euforia em 2011, que foi “muito bom e merecido”. “Mas agora, acredito que é a hora da verdade e de trabalharmos e demonstrarmos que o que foi prometido de austeridade e responsabilidade vai ser cumprido”, disse. A secretária-executiva comentou que a série de trocas de ministros do governo em 2011 e no início deste ano geraram forte repercussão, o que obviamente afeta e sensibiliza a confiança dos brasileiros.
A credibilidade das ONGs também sofreu forte abalo, caindo de 80% para 49% entre 2011 e 2012. Os escândalos de corrupção que envolveram o governo e as ONGs foram amplamente divulgados na mídia e mancharam a percepção dos brasileiros neste setor da sociedade, que, por sua vez, se expande cada vez mais, com o aumento da consciência coletiva a respeito de questões públicas.
“A criação de ONGs fantasmas para benefício unicamente pessoal, de cabos eleitorais ou os convênios baseados na falta de critérios objetivos com o setor público, justificam essa queda”, afirmou Oded Grajew. Para ele, é preciso maior regulação do governo para a atuação das instituições da sociedade civil, setor que ele considera fundamental e que sempre esteve na vanguarda das conquistas sociais. Oded também reforçou o poder das parcerias público-privadas, em que “uma ONG séria e uma empresa socialmente responsável torna-se um instrumento poderosíssimo”.
Menor queda para mídia e empresas
Apesar da queda geral do nível de confiança dos brasileiros, a mídia e as empresas seguem como as instituições mais confiáveis. Eugênio Bucci afirmou que o papel de “cão de guarda” da mídia permanecerá como um fator imprescindível para este cenário, apesar das diferentes opiniões acerca da consistência das coberturas dos veículos de comunicação.
A mídia tradicional segue como a mais importante para os brasileiros, com 51% da confiança, seguida pelas múltiplas fontes online, com 42%, mídias sociais, 21% e comunicação corporativa, com 27%. Para Eugênio, ter a “imprensa independente” como a segunda mídia com maior credibilidade mostra uma conexão saudável, baseada na vontade de verificar e fiscalizar os acontecimentos. “O ceticismo saudável não significa descrença nas instituições”, disse.
Com relação às empresas, Leticia Lyra observou que a consolidação do ambiente corporativo e do desenvolvimento econômico dos últimos anos no Brasil, posicionam o setor privado como confiável. Neste sentido, para ela, a queda da confiança por parte do governo e ONGs sinaliza, ao mesmo tempo, um desafio e uma oportunidade para as marcas que estão no Brasil. O desafio se refere à responsabilidade que as empresas têm de endereçar questões importantes para a sociedade brasileira e a oportunidade está na possibilidade de fazer isso bem. Para Gail, as empresas têm a sua frente um espaço para liderar a partir de propósitos claros e relevantes, com maior regulação e parcerias com o governo.
Emergência do indivíduo
A confiança em diferentes porta-vozes também foi debatida: o brasileiro passa a acreditar mais em si mesmo, sobretudo quando o assunto é opinar sobre uma empresa – 86% confiam mais em uma pessoa comum quando desejam saber algo a respeito de uma empresa, por exemplo. Técnicos, acadêmicos e funcionários têm, neste caso, mais credibilidade que o presidente ou CEO para tratar assuntos que envolvam uma marca. O agente menos confiável para o brasileiro neste contexto é o representante governamental, com apenas 30%.
Com a emergência da opinião individual, a forma de se comunicar também passa por uma transformação. “É muito mais crível algo que alguém fala de mim do que eu falo de mim”, afirmou Yole. Para Leticia, esse conceito vale não apenas para o governo, mas também para as empresas, já que características como transparência e diálogo tornam-se chave para engajar no atual cenário de comunicação e construção de marcas.
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