A identidade do hacker Fxmsp só ficou conhecida há poucas semanas. Ele é acusado de invadir sistemas de empresas — inclusive brasileiras — e roubar informações sigilosas e vender acessos na internet.
Por BBC
31/07/2020 16h36 Atualizado há um dia
Postado em 01 de agosto de 2020 às 12h45m
* Post.N. -\- 3.811 *
Turchin usava o apelido de Fxmsp como seu nome de usuário na internet, mas também era conhecido como 'o deus invisível' das redes. — Foto: Getty Images
Só se sabia de três coisas sobre ele:
- Fxmsp era seu apelido na internet;
- Ele era chamado de "Deus invisível" das redes;
- Ele havia roubado informações fundamentais de dentro de mais de 300 empresas em 44 países.
Seu apelido ganhou fama em 2019 depois que ele ofereceu — em troca de
dinheiro — uma forma de acessar os servidores das três principais
empresas de segurança cibernética do mundo, a McAfee, a Symantec e a
Trend Micro.
E é isso: não se sabia seu nome nem sua nacionalidade, apesar de ser um dos hackers mais populares do mundo.
No entanto, nas últimas semanas, após uma extensa investigação, a
empresa de segurança Group-IB não apenas revelou os detalhes de como
Fxmsp conseguiu invadir os sistemas dessas companhias, como também
divulgou seu nome real: Andrey Turchin, de 37 anos, cidadão do
Cazaquistão.
O Grupo IB acrescentou que Turchin havia vendido a eles, por US$ 1,5
milhão (R$ 7,8 milhões), todas as informações roubadas e os segredos
para violar sistemas corporativos.
Essa revelação forçou a Justiça do Estado de Washington, nos Estados
Unidos, não apenas a confirmar o nome de Fxmsp, mas também a revelar que
ele foi acusado de vários crimes contra diferentes organizações no
país.
"Turchin é membro de um grupo cibercriminoso muito ativo e motivado
financeiramente, composto por estrangeiros que invadem as redes de
computadores de uma ampla gama de entidades corporativas, instituições
educacionais e governos em todo o mundo, incluindo os Estados Unidos",
observa o relatório divulgado em um comunicado do Departamento de
Justiça dos Estados Unidos.
"Apesar de seus métodos bastante simples, Fxmsp conseguiu acesso a essas empresas e também anunciou e vendeu esse acesso não autorizado aos sistemas protegidos de suas vítimas", acrescentou o comunicado.
Até agora, o paradeiro de Turchin é desconhecido.
Mas sua ação não se limita apenas aos Estados Unidos. Segundo o Grupo
IB, Turchin atuou também na América Latina, principalmente no México,
Colômbia, Brasil, Porto Rico e Equador.
Mas o que se sabe sobre Turchin e suas ações? E por que ele foi chamado de "deus invisível" das rede?
'Lampeduza'
'Lampeduza'
Embora Turchin tenha se tornado conhecido no ano passado após a
divulgação dos códigos de acesso das principais empresas de
cibersegurança, sua atividade começou a ser percebida a partir de 2016.
Naquela época, de acordo com o Grupo-IB e documentos revelados pelo
Departamento de Justiça dos EUA, Turchin — ou o misterioso Fxmsp — era
um hacker inexperiente, mas com notável capacidade de obter documentos
protegidos por códigos de segurança.
No entanto, em meados de 2017, Turchin aumentou sua aposta: revelou os dados de acesso a sistemas de alguns hotéis e das redes corporativas de bancos.
"Isso foi inédito. Foi a primeira vez que um hacker desconhecido
revelou os detalhes de acesso de milhares de sites de informações
protegidos por sistemas complexos de segurança", revela o documento do
Group-IB enviado à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.
"E em menos de dois anos, ele deixou de ser um hacker que não sabia o
que fazer com o acesso que conseguiu para virar uma pessoa que revelou
os grandes segredos de empresas como a McAfee", acrescenta o documento.
Seu modus operandi se baseou em oferecer não apenas as informações
subtraídas, mas também o acesso e o código-fonte desses sistemas de
segurança a preços que variavam de US$ 300 mil a um milhão de dólares.
"Muitas transações foram feitas por meio de algum intermediário,
permitindo que compradores interessados testassem o acesso às redes por
um período limitado: eles podiam para verificar a qualidade e a
confiabilidade do acesso ilegal", observa o relatório do Departamento de
Justiça dos EUA.
Outra questão marcante foi seu slogan de vendas. Juntamente com outra
pessoa conhecida pelo nome de usuário "Lampeduza", ele afirmava que
aqueles que comprassem esses acessos se tornariam "os deuses invisíveis
da rede".
Por isso, começaram a chamá-lo de "Deus invisível".
"Depois de obter acesso aos dispositivos, o Fxmsp geralmente desativava o antivírus e o firewall existentes e, em seguida, criava contas adicionais. Depois, prosseguia com a instalação de outras formas de acesso", observa o relatório do Grupo-IB.
A queda
Apesar de sua popularidade, especialmente depois de fornecer os acessos
e os códigos-fonte de três das maiores empresas de segurança
cibernética do mundo, ninguém sabia a verdadeira identidade de Fxmsp,
nem de onde operava.
Mas a verdade é que, no caminho da fama e do dinheiro, ele cometera
vários erros, o que deixou pistas que tornaram sua identificação
possível.
"Nos primeiros dias, ele começou a vender informações do governo em
fóruns na internet, revelando que havia violado uma das regras de
hackers russos: não invadir o governo ou as empresas russas", explica o
relatório.
"Ao tentar vender esses dados, ele foi expulso desses fóruns. E esse
erro, que ele não cometeu novamente, foi uma das pistas que ele deixou
para que eles pudessem identificá-lo."
A partir daí, foi possível encontrar o nome por trás do "deus invisível" das redes, bem como seu país de residência.
Embora a investigação do Grupo-IB tenha indicado que Turchin havia
atacado quase 135 empresas em áreas tão diversas quanto hotéis, bancos,
mineração, escritórios do governo, o Departamento de Justiça esclareceu
que havia mais de 300 empresas afetadas.
O relatório também destacou que Turchin parou de atuar nas redes após a publicação de seu pseudônimo, em 2019.
Agora, ele enfrenta acusações de conspiração, duas acusações de fraude e
abuso do uso do computador (hacking), conspiração por cometer fraude
eletrônica e fraude por acesso ilícito a dispositivos.
Mas, apesar do fato de não haver tratado de extradição entre os EUA e o
Cazaquistão, a investigação contou com o apoio das autoridades do país
asiático, o que pode ser um indicador de que Turchin mais cedo ou mais
tarde enfrentará um julgamento.
"Discutimos o caso com as autoridades do Cazaquistão. Esperamos que
essa colaboração que tivemos na investigação possa ajudar Andrew Turchin
a enfrentar a Justiça", disse Brian Moran, promotor do Estado de
Washington, em entrevista à revista Forbes.
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