Na 3ª reportagem especial do JN sobre o tema, Sandra Passarinho mostra como a tecnologia tem modificado os processos seletivos em empresas e quais as expectativas para o surgimento de novas ocupações profissionais.
Por Jornal Nacional
09/10/2019 21h12 Atualizado há um dia
Postado em 10 de outubro de 2019 às 16H45M
O Jornal Nacional mostrou nesta terça-feira (8) como a inteligência artificial está ajudando médicos a salvar vidas. E essa é só uma das muitas possibilidades de aplicação na nossa vida.
Na última reportagem da série sobre máquinas que aprendem e que tomam decisões, a Sandra Passarinho mostra os possíveis impactos dessa tecnologia no mercado de trabalho.
Desde a primeira revolução industrial, no século XVIII, máquinas substituem o trabalho humano, mas foram surgindo novas fábricas e empregos que não existiam.
No século XX, a internet e a era digital começaram a revolução tecnológica que está aí, criando novas atividades e derrubando antigos empregos. E agora, frente a um grande avanço, a pergunta é: precisamos ter medo da inteligência artificial?
Uma gigante da aviação já tem mais de cem pesquisadores trabalhando exclusivamente com inteligência artificial.
“Da mesma forma que na minha geração falar inglês era importantíssimo, era um pré-requisito para ter sucesso no mercado de trabalho, agora o inglês não é mais suficiente. Você tem que falar inglês e você tem que falar a língua do computador”, explica Daniel Moczydlower, vice-presidente executivo de Tecnologia e Engenharia.
A equipe do JN entrou num avião virtual que é parte de uma tecnologia capaz de detectar e resolver problemas antes que eles aconteçam.
Os engenheiros da Embraer decolam, fazem curvas e pousam. As informações do simulador de voo são gravadas em computadores a bordo. E, depois, um programa de inteligência artificial analisa esses dados em terra. Ainda não é possível ter um cérebro artificial a bordo.
“São processos que precisam ser bem desenvolvidos para garantir essa segurança, para embarcar essa inteligência no avião”, explicou Leandro Pantalena, engenheiro de Suporte ao Cliente.
O mapa com dados reais de um avião mostra onde aparece um possível defeito no ar condicionado. Em outro voo, o sistema registrou vibrações no motor.
“A gente tem um desbalanceamento nessas lâminas que pode levar a um evento catastrófico de perda do motor e não de queda de aeronave. Mas então aqui a gente tem um eixo que nos dá o percentual dessa vibração.
Então, a gente consegue aqui identificar que a tendência desse valor ao longo do tempo, caminhando para um nível crítico, a gente vai recomendar à companhia aérea uma ação de manutenção”, explicou Leandro Pantalena.
Então, a gente consegue aqui identificar que a tendência desse valor ao longo do tempo, caminhando para um nível crítico, a gente vai recomendar à companhia aérea uma ação de manutenção”, explicou Leandro Pantalena.
A inteligência artificial aí cumpre a sua tarefa: enxergar onde a vista não alcança.
Na era das máquinas, o emprego é de quem no Brasil?
Pesquisadores do Ipea respondem a essa pergunta num estudo publicado em 2019. Os resultados mostram que 54% dos empregos correm risco alto ou muito alto de ser ocupados por máquinas até o ano 2046.
“Ao mesmo tempo que a inteligência artificial e as novas tecnologias estão eliminando postos de trabalho ou profissões que antigamente ocupavam um número considerável de gente, essas profissões não vão existir, novas profissões estão sendo criadas. A gente já sabe que essas mudanças vão acontecer. E não pode esperar o desastre acontecer e falar: ‘Ah, e agora o que eu faço?’”, explicou Marcelo Finger, professor de Ciência da Computação (USP).
A funcionária mais antiga de uma de uma indústria de confecção fez uma migração muito bem-sucedida da modelagem em papel para a modelagem digital.
"Foi difícil fazer isso?", pergunta Sandra Passarinho.
“A princípio, eu tive até um pouco de dúvida, mas eu abracei para sempre”, contou a costureira Lydia Nogueira de Souza.
Dona Lydia levou cerca de seis meses fazendo um curso para aprender a usar o programa de inteligência artificial. Hoje, dá aula sobre o assunto.
“Aqui, você está vendo a frente dessa calça. Aqui, você está vendo as costas. Quando você entra no trabalho de encaixa, ele chama todos os pedaços, todas as peças. E ele, automaticamente, vai encaixando. Aqui, nós temos mais facilidade de detectar se tem alguma coisa errada, porque até o trabalho não aceita aquilo errado”, contou Lydia.
De um lado do ambiente, fica a equipe que trabalha com inteligência artificial, que é uma ferramenta de apoio para a turma que fica só do outro lado, e é formada pelas costureiras que desenvolvem os produtos que depois vão ser fabricados em larga escala.
A fábrica de roupas não mandou ninguém embora e está conseguindo economizar na fabricação das peças.
“O nosso trabalho com inteligência artificial é para minimizar o desperdício, dado que esse é nosso principal custo. O principal custo da empresa está na matéria-prima”, disse Alisson Calgarotto, diretor de Operações.
A mesma tecnologia usada na indústria serve para atrair novos recursos humanos para outra fábrica.
Uma plataforma digital inteligente simplifica o processo de seleção de candidatos a vagas na Embraer. Há pouco tempo, 17 mil pessoas mandaram currículos para a empresa. A plataforma não perde tempo.
“O robô consegue perguntar para o candidato as perguntas mais pertinentes para que ele passe para próxima etapa ou não. Antes da implementação da ferramenta, a gente tinha, a cada dez candidatos convocados, dois eram selecionados para a etapa de entrevista. E, depois da implementação da ferramenta, a cada dez candidatos selecionados, sete seguiram para a próxima etapa, que é a etapa de entrevistas. Então, uma melhoria clara na assertividade, no perfil”, contou Ricardo Tozetti, gerente de Recursos Humanos.
Difícil é prever o alcance da inteligência artificial.
Repórter: Você acha que um dia a inteligência artificial vai eliminar os humanos?
“Eliminar, não sei. Se a gente controlar bem, ela não elimina. Mas que seria possível, eu acredito que sim. Muitos, muitos anos pela frente ainda”, respondeu Marco Diniz, desenvolvedor do robô Tinbot.
Repórter: Muitos séculos?
Marco Diniz: Espero que sim.
Existe o desejo de imitar o ser humano, mas nem tudo dá certo.
“A inteligência artificial não é criativa. Não é idealizadora. Ela é imitadora”, explicou o professor Marco Aurélio Pacheco, professor de Inteligência Artificial da PUC-RJ.
Bom saber que essa tecnologia nos torna mais humanos. A máquina não se cansa de tanto aprender, mas não tem consciência do que faz, não julga sozinha e nem sente. Pelo menos por enquanto.
“Quem sabe um dia vou conseguir fazer uma reportagem?”, sugeriu o robô Tinbot.
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